Rosana Hessel, Hamilton Ferrari
postado em 13/03/2019 16:54
O novo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto Filho, defendeu de posse a continuidade da política monetária conduzida pelo seu antecessor, Ilan Goldfajn, como o esperado pelo mercado. Logo no início de seu discurso, agradeceu ao colega por sua dedicação e ;espírito público; com que desempenhou a função. ;O reconhecimento internacional que o senhor. alcançou como presidente do BC estabelece padrões elevados para o cargo e espero que, com a colaboração do excelente corpo funcional do BC, eu consiga me colocar à altura dos desafios que o país precisa enfrentar. É uma honra sucedê-lo;, afirmou Campos Neto nesta quarta-feira (13/03).
Campos Neto destacou que o principal compromisso dele à frente da autoridade monetária é ;manter a inflação baixa e controlada; além de ;aperfeiçoar os mecanismos de comunicação;. ;É importante continuar avançando na transparência da comunicação da política monetária, que teve melhoras consideráveis nesses últimos anos, sempre com vistas a garantir o acesso a todos às decisões e ações do BC;, afirmou ele, defendendo a necessidade de aprofundar a Agenda BC%2b ;para promover um amplo processo de democratização financeira;. ;Estou convicto de que, com os esforços de todos nós, o BC contribuirá para o desenho de um país melhor, fundado no livre mercado, onde se destaque cada vez mais o Brasil e menos Brasília. Ainda no espírito de construir uma economia de livre mercado, o governo está trabalhando para promover uma melhora substancial na posição ocupada pelo Brasil no ranking do Doing Business, computado pelo Banco Mundial;, prometeu o novo presidente da autoridade monetária.
A fala de Campos Neto foi logo após Goldfajn reforçar que conduziu uma política monetária ;expansionista;. Campos Neto também criticou a condução da política monetária anterior que interferia muito na economia após a crise financeira global entre os anos de 2007 e 2008. ;O período recente tem sido repleto de desafios. Após a fase de alta de preços de commodities, que beneficiou a economia brasileira ao longo dos anos 2000, ao final da década o país sofreu um grande revés produzido por suas escolhas de política econômica. Excessos de intervenção desorganizaram a economia, reduzindo a confiança dos agentes econômicos e distorcendo a alocação de capital e de mão-de-obra. Essas distorções sufocaram o crescimento, a produtividade e o emprego, levando a um aumento da inflação e a uma recessão profunda, com grave piora das contas públicas;, destacou.
Estabilidade
O novo chefe do BC reforçou que as missões que ele pretende cumprir são de promover a estabilidade de preços e a solidez do sistema financeiro, a preparação do Banco Central para esse futuro tecnológico e inclusivo. ;Trabalhar na modernização do Sistema Financeiro Nacional é fundamental para alcançarmos esses objetivos ; simplificando e desburocratizando o acesso aos mercados financeiros para todos e dando um tratamento homogêneo ao capital, independente de sua nacionalidade ou se provém de um grande ou de um pequeno investidor;, afirmou .
Na avaliação de Campos Neto, a literatura demonstra uma clara correlação positiva entre o tamanho do mercado de capitais e o PIB de uma economia. ;Com a Selic (taxa básica da economia) em seu mínimo histórico de 6,5% ao ano por cerca de um ano, podemos perceber melhor algumas distorções e propor políticas que melhorem a eficiência de nossos mercados. Um exemplo dessas distorções são os programas de empréstimos a juros subsidiados, principalmente por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). A evidência empírica sugere que as empresas com acesso a esses recursos não aumentaram seus investimentos;, afirmou, lembrando que, com a criação da TLP, que substitui a TJLP, houve ;um início de mudança no perfil do mercado de capitais;.
Redução de custos
O novo presidente do BC defendeu a redução dos custos operacionais e burocráticos e facilitar a entrada de pequenas e médias empresas e de investidores estrangeiros. ;Para garantirmos a inserção do país no mercado internacional, é preciso, através de uma agenda de simplificação, fomentar a disponibilização de ferramentas de hedge cambial voltadas a investimentos de mais longo prazo;, afirmou ele, reforçando a necessidade de modernização dos mecanismos de captação de recursos, principalmente, os destinados à construção civil.
Em seu discurso, Campos Neto demonstrou alinhamento com o posicionamento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que aponta a intermediação financeira como um dos vilões dos juros ainda elevados no mercado em vez do spread bancário, onde está a margem de lucros das instituições financeiras. ;A intermediação financeira no Brasil tem de se libertar das amarras que a prendem ao governo. O mercado precisa se libertar da necessidade de financiar o governo e se voltar para o financiamento ao empreendedorismo. Por todas essas razões, é necessário avançar nas mudanças que permitam o desenvolvimento de nosso mercado de capitais, garantindo o acesso a tomadores e investidores, brasileiros e estrangeiros, famílias e empresas, grandes e especialmente pequenos;, destacou.
Campos Neto reforçou ainda que as taxas de juros recuaram nos últimos anos, mas admitiu que elas precisam cair mais. ;Há muito ainda a ser feito tanto no BC quanto na política econômica como um todo;, ressaltou ele, defendendo a agenda defendida por Ilan Goldfajn, que inclui a autonomia do BC e o avanço das reformas estruturais. ;Seria um passo natural e contribuiria para reduzir o risco Brasil e elevar o crescimento de forma sustentável. Na política econômica, considero que as políticas anunciadas e os esforços atuais têm a direção correta. O governo está imbuído do propósito de levar à frente reformas estruturais importantes para colocar as nossas contas públicas em ordem e melhorar o ambiente de negócios em nosso país;, destacou.
Câmbio
Campos Neto não deixou de defender o tripé macroeconômico e o câmbio flutuante. ;Um outro importante pilar na gestão das crises que o país tem enfrentado é o câmbio flutuante, que tem servido como primeira linha de defesa de nossa economia. Isso não impede, no entanto, intervenções para evitar disfuncionalidades nos mercados. Nesse aspecto, as reservas internacionais funcionam como uma garantia, um seguro;, ressaltou ele, acrescentando que esse ;seguro; teve custo zero nos últimos dez anos. ;Além disso, seu custo de carregamento está no mínimo histórico, devido ao baixo nível da Selic e à elevação da taxa americana. Qualquer decisão econômica deve sempre considerar custos e benefícios, e isto também se aplica à gestão de reservas;, afirmou.