Economia

Desigualdade salarial na área de tecnologia cai, mas é preciso fazer mais

Empresas de TI pagam 15,8% a mais aos homens que às mulheres, aponta levantamento com 212 mil participantes e 27 mil ofertas de emprego feitas por companhias que atuam no Brasil

Jaqueline Mendes
postado em 20/03/2019 06:00
Na área de  tecnologia da informação, enquanto a pretensão salarial de mulheres é de R$ 5.863, os homens solicitam R$ 6.896, em média, segundo estudo
São Paulo ; O mercado de tecnologia tem ajudado, gradualmente, a reduzir o histórico abismo entre homens e mulheres no mercado de trabalho no Brasil e no mundo. Mas esse processo ainda é muito discreto e há um longo caminho a se trilhar. Embora a diferença salarial tenha caído 17% entre 2012 e 2018, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho, uma pesquisa elaborada pela plataforma de recrutamento digital Revelo constatou que as mulheres ainda recebem muito menos do que homens em empresas de TI. O levantamento considerou a remuneração oferecida a mais de 212 mil participantes e 27 mil ofertas de emprego feitas por companhias de tecnologia que atuam no Brasil. Resultado: mulheres têm salário 15,8% menor do que o dos homens. Segundo o estudo, salários ofertados para elas são, em média, de R$ 5.255. Já o público masculino tem remuneração de R$ 6.200.

A disparidade é visível desde as primeiras etapas dos processos de seleção, e parte até dos próprios funcionários. Enquanto a pretensão salarial de mulheres é de R$ 5.863, os homens solicitam R$ 6.896, em média. Para a economista americana Sari Kerr, autora de estudos que tratam o tema na Wellesley College, existem vários fatores que ainda impedem as mulheres de atingir a mesma remuneração que os homens, principalmente a cultura de paralisar a carreira para se dedicar à criação dos filhos. ;Por razões culturais, homens adotam a função de provedores do lar, e as mulheres se concentram ao trabalho doméstico;, disse ela. ;Estamos presas a esse ciclo que, todos os anos, se retroalimenta.;


Discrepância geral


Outros estudos endossam essa realidade. A empresa de recrutamento Michael Page concluiu neste mês um estudo que comprova que a diferença salarial entre homens e mulheres no setor de Tecnologia da Informação chega a 77%, com os homens ganhando os maiores salários. E não é uma exclusividade do setor de TI. Em nenhuma das áreas profissionais analisadas pela pesquisa, as mulheres recebem o mesmo salário destinado aos homens nos mesmos cargos e funções. Apenas como comparação, nos cargos de gerência, com salários acima de R$ 8 mil mensais, 72% dos contratados são homens, e em setores como varejo e seguros, os homens recebem em torno de 34% e 65%, respectivamente, a mais que as mulheres. Outros setores onde o levantamento da Michael Page encontrou uma grande diferença salarial foram vendas, engenharia, TI, saúde, construção, advocacia, petróleo e gás com 80% dos salários femininos, em média, não atingindo os valores destinados aos profissionais do sexo masculino.

Alguns setores, no entanto, estão melhores nesse quesito. A área onde foi encontrada a menor discrepância salarial é a de recursos humanos, no qual homens recebem salários 6% maiores do que as mulheres. Esse é, inclusive, o setor mais feminino entre os setores analisados pela empresa de recrutamento, com 67% de participação das mulheres. E as áreas de finanças e engenharia foram as que mais contrataram em 2012, representando 41% de todas as contratações para gerência efetuadas pelos escritórios da Michael Page.


Longo caminho


Outro estudo, realizado pelo site de empregos Catho, reforça que as mulheres ainda têm um longo caminho a percorrer para obter o mesmo reconhecimento que os homens. O estudo analisou 8 mil profissionais e mostrou que elas ganham menos que os colegas do sexo oposto em todos os cargos, áreas de atuação e níveis de escolaridade pesquisados ; a diferença salarial chega a quase 53%. Além disso, mulheres ainda são minoria ocupando posições nos principais cargos de gestão, como diretoria, por exemplo.

Para Kátia Garcia, gerente de relacionamento com cliente da Catho, apesar de ainda existir uma grande desigualdade entre homens e mulheres, houve um avanço, mesmo que tímido. E reconhece que levará tempo até que as condições sejam equiparadas. Segundo ela, embora o cenário esteja longe do ideal, não se pode dizer que não há melhora. Ela afirma que aumentou a ocupação da mulher no mercado de um modo geral e também nos cargos de chefia.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação