Na primeira reunião comandada pelo novo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 6,5% ao ano. Segundo analistas, o comunicado divulgado após o encontro deu sinais de que poderá haver redução dos juros no futuro, mas tudo dependerá da aprovação da reforma da Previdência pelo Congresso.
O Copom reiterou que a conjuntura econômica doméstica exige taxa de juros baixas, já que a atividade econômica ainda está fraca e a inflação, controlada. Mas o comunicado enfatizou o ritmo lento da economia. Além do Produto Interno Bruto (PIB) frustrante de 2018, com alta de apenas 1,1%, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou um tombo de 0,41% em janeiro passado.
A percepção da autoridade monetária é de que indicadores recentes ;apontam ritmo aquém do esperado;. Na penúltima reunião, sob o comando de Ilan Goldfajn, o comunicado afirmava que os índices continuavam evidenciando ;recuperação gradual;. O BC ressaltou ainda que é preciso implementar reformas fiscais, principalmente da Previdência.
O comunicado mudou o balanço de risco de assimétrico para simétrico, ou seja, há um tom mais favorável para um futuro afrouxamento dos juros. Na visão de Júlio César Barros, economista da Mongeral Aegon Investimentos, a decisão do Copom já era esperada, mas o teor do comunicado surpreendeu. ;O reconhecimento de que o índice da atividade econômica está mais fraco do que o esperado, além da menção de que o balanço de risco é simétrico, foram surpresas em relação à última reunião;, disse.
Afrouxamento
Segundo analistas, caso o Congresso aprove uma reforma da Previdência robusta, as taxas de juros podem cair ainda neste ano. Há economistas que estimam que a Selic possa chegar a 5,5% ao ano até dezembro. ;O balanço de risco para a inflação, ao tornar-se simétrico, a meu ver, pareceu mais ;dovish; (inclinado para a redução dos juros);, explicou BarrosAinda de acordo com Barros, eventuais expectativas em torno de novas quedas da Selic devem ser analisadas levando em conta o cenário macroeconômico e a discussão sobre a Previdência. ;A reforma é muito importante. Com a sua aprovação, a incerteza, no ambiente econômico, tende a diminuir, mas ainda não é possível estimar quanto será economizado. Acho que os juros podem cair, se as coisas caminharem bem, com inflação controlada e tramitação das reformas fiscais, em meio à atividade ainda fraca;, completou.
A taxa Selic está em 6,5% ao ano desde março de 2018, ou seja, exatamente há um ano. Há a expectativa. A inflação está sob controle e sem perspectivas de ficar acima do centro da meta, que é de 4,25% em 2019 e de 4% em 2020.
Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, disse não ver possibilidade de redução dos juros no momento, devido à grande incerteza sobre quando e qual reforma da Previdência será aprovada. ;Esse ponto é fundamental, pois sem uma reforma robusta, o Brasil torna-se fiscalmente insolvente e, nesse caso, não haveria espaço nenhum para queda de juros. O melhor que o BC tem a fazer nesse momento é manter o discurso atual e esperar a reforma estar melhor encaminhada;, avaliou.
Tranquilidade
Para iniciar os trabalhos sobre o texto da reforma, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aguardou o envio do projeto de lei que altera as regras para a inatividade e pensões dos militares. O PL foi encaminhado ontem (leia na página 2).
A quarta-feira também foi marcada pela reunião do Comitê de Política Monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que decidiu manter os juros entre 2,25% e 2,50% ao ano. O comunicado divulgado após o encontro não projetou novos aumentos para 2019. De acordo com Pablo Spyer, diretor de Operações da Mirae Asset, a decisão tranquilizou os agentes econômicos.
;Foi uma boa notícia. Existia um temor de que o Fed poderia implementar dois aumentos de juros neste ano, que mudou, posteriormente, para um. No entanto, o Fomc deu a entender que, em 2019, não fará mais esse aumento;, afirmou. Segundo ele, a decisão facilita a condução da política monetária no Brasil. ;Abre-se a possibilidade de uma janela de cortes de juros no exterior, como já vimos com o BC europeu, estendendo-se por aqui. Na minha opinião, há espaço para que a Selic atinja uma nova mínima histórica;, afirmou.
* Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo