Gabriela Tunes* , Hamilton Ferrari
postado em 30/03/2019 07:00
O desemprego no Brasil subiu pelo segundo mês consecutivo, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de desocupação passou de 11,6% para 12,4% entre o trimestre encerrado em janeiro e o terminado em fevereiro. Ao todo, são 13,1 milhões de pessoas que procuram vaga no mercado de trabalho, o maior número desde agosto de 2018.
Entre janeiro e fevereiro, houve um incremento de 892 mil pessoas nessa situação. Mas o desemprego persiste há anos no Brasil. Uma das vítimas foi Pedro Henrique Soares dos Santos, 23 anos, que procura uma vaga no mercado de trabalho há seis meses. Seu último cargo foi como atendente de loja. Hoje ele aceita emprego em qualquer área. ;Está muito difícil. Tem que procurar e se qualificar mais para conseguir alguma coisa;, disse.
Na tarde de ontem, Pedro Henrique esteve na Agência do Trabalhador em busca de uma vaga. Ao lado dele, outro desempregado, Lucas Ferreira Farias, 26 anos, disse esperar que o governo consiga melhorar a situação do país e da economia. ;Comecei 2019 com a esperança de conseguir alguma coisa. Mudança de governo sempre nos dá esperanças a mais. Mas está complicado, porque a concorrência é grande;, lamentou.
De acordo com o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, houve queda das oportunidades em todos os setores, em especial na construção civil e na educação. ;Constatamos que o desemprego aumentou principalmente entre a população de baixa renda e baixa escolaridade;, apontou. Segundo o especialista, o resultado de fevereiro foi pior do que o esperado. ;Já tínhamos uma expectativa de queda da ocupação, mas esse número foi recorde;, explicou Azeredo.
O IBGE contabilizou, ainda, 4,9 milhões de desempregados que desistiram de procurar trabalho, ou seja, estão na condição de desalentados. Eles fazem parte da população subutilizada, que totaliza 27,9 milhões de pessoas, incluindo aquelas que estão em empregos precários ou parciais, e consideram que poderiam trabalhar mais. Esse número é o maior da série histórica, iniciada em 2012.
Mesmo com o grande contingente de pessoas disputando uma vaga, há pessoas, como o cozinheiro Rivelino Carvalho, 45 anos, que não desistiram de buscar espaço no mercado de trabalho. Desempregado desde 2017, ele vai todos os dias, desde dezembro, à Agência do Trabalhador entregar currículo. ;Não consigo nada. Com tanto restaurante novo, ninguém contrata cozinheiro. Não consigo entender;, lamentou. Enquanto procura algo na sua área, Rivelino faz bicos como churrasqueiro e serviços de capinagem de lotes. ;Está difícil;, afirmou.
Desconfiança
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira, afirmou que um dos motivos para o aumento do desemprego foi a fraqueza da atividade econômica durante o primeiro trimestre. ;Observamos uma taxa de crescimento baixa e indicadores de confiança caindo. Em um cenário como esse, o emprego não anda;, analisou. Para ele, não há solução rápida, já que é preciso elevar a confiança dos agentes econômicos para gerar aumento nos investimentos das empresas e, consequentemente, oportunidades para os trabalhadores. ;Tudo isso está condicionado à reforma da Previdência. Precisamos ver se ela vai passar para animar os empresários;, destacou.
Diferenças com o Caged
Diferentemente dos dados do IBGE, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostrou que, durante fevereiro, o país criou mais de 173 mil vagas de trabalho com carteira assinada. A divergência se deve a metodologias diferentes. Cimar Azeredo explicou que o levantamento do IBGE é feito por meio de visitas a domicílio, não podendo ser comparado à pesquisa oficial do Ministério da Economia, que analisa dados administrativos. ;Temos que ter cuidado para analisar resultados e não fazer comparações;, disse. O economista Carlos Alberto Ramos afirmou que o Caged mostra o aumento do emprego com carteira, e o IBGE o aumento da população em busca de vagas de trabalho. ;Pode ter aumentado o emprego formal e diminuído o informal;, exemplificou. Segundo o IBGE, o número de empregados no setor privado com carteira assinada ficou estável em relação a janeiro, em 33 milhões de pessoas. Já o número de empregados sem carteira caiu 4,8%, para 11,1 milhões.
* Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo