Hamilton Ferrari
postado em 02/04/2019 06:00
Pela primeira vez, o mercado financeiro prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) ficará abaixo de 2% em 2019. Após uma série de dados frustrantes no primeiro trimestre do ano, os economistas avaliam que a atividade econômica vai superar o patamar apenas em 2020, no segundo ano do governo Jair Bolsonaro. O início político conflituoso foi um balde de água fria nos analistas, que esperavam celeridade na aprovação da reforma da Previdência.
Tais percepções também são registradas nos índices de confiança tanto do empresariado quanto do consumidor. Não à toa, o mercado diminuiu pela quinta vez consecutiva a projeção para o PIB de 2019, passando de 2% para 1,98%. Esse cenário ocorre mesmo com as perspectivas de inflação e juros se mantendo em patamares estáveis, em 3,89% e 6,5% ao ano, respectivamente.
Mesmo com a inflação controlada, com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) abaixo do centro da meta de 4,5%, e a taxa Selic no menor patamar da história, os analistas acreditam que a atividade econômica será fraca este ano. O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fabio Bentes, afirmou que a frustração ocorre com a percepção de que será mais difícil de se aprovar (a reforma) do que se pensava. ;O desempenho da atividade econômica jvinha sendo decepcionante e janeiro apontava um nível de atividade bem fraca. Via-se que as expectativas estavam muito otimistas depois que as eleições passaram. Houve uma deterioração muito rápida;, disse.
Outro banho de água fria foi a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Orçamento Impositivo no Congresso, que vai na contramão do discurso do governo de dar mais flexibilidade na gestão dos recursos públicos. ;Foi um sinal claro de que o governo vai ter de fazer muito esforço para aprovar as reformas. Que a PEC da Previdência vai passar, não tenho dúvidas, mas até que ponto ela será desidratada é o que importa;, questionou.
Sem sinais
Mas a atividade econômica frustrante também tem incomodado os analistas. Por conta do desemprego que atinge mais de 13 milhões de pessoas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor de serviços não cresceu em 2018 e continua sem sinais claros de melhora. O desempenho segura o PIB potencial para baixo, para algo em torno de 1,5%.
O economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, avalia que a indústria também tem demonstrado resultados pouco animadores. ;O setor perdeu força na segunda metade do ano e continua modesto em 2019. O segmento automotivo vem perdendo fôlego com as exportações. A construção também reage lentamente e tem ajudado para segurar o PIB mais baixo. Ainda há um ambiente de incertezas;, afirmou.
O economista-chefe da Quantitas Asset, Ivo Chermont, afirmou que o fato é que o mercado está superestimando o PIB há três anos. ;Podemos ver que o PIB potencial é baixo e sem reformas, é o patamar que conseguiremos crescer.;, afirmou.