Agência Estado
postado em 08/04/2019 08:45
Tóquio, Japão - Acionistas da montadora japonesa Nissan removeram nesta segunda-feira, durante uma reunião extraordinária, o executivo Carlos Ghosn da diretoria da empresa, em consequência das acusações de sonegação fiscal e fraude financeira.
A reunião, organizada em um hotel de Tóquio, foi a primeira da empresa desde a detenção do empresário de 65 anos, considerado um titã da indústria automobilística, em novembro. Depois de várias horas da reunião, a diretoria também aprovou a exclusão de Greg Kelly, americano que trabalhou durante vários anos como principal auxiliar de Ghosn e que também é acusado por fraude.
Na mesma reunião, os acionistas aprovaram o nome de Jean-Dominique Senard, principal executivo da Renault, como substituto de Ghosn. A Nissan havia removido Ghosn do cargo de presidente da empresae logo após sua detenção, mas era necessária uma assembleia de acionistas para sua exclusão definitiva da influente diretoria.
O executivo Hiroto Saikawa abriu a reunião de segunda-feira com uma apresentação detalhada das acusações contra Ghosn, que inclui desvio e uso equivocado dos recursos da empresa, assim como esquemas sofisticados para ocultar o dinheiro. "Temos que admitir que aconteceu um enorme problema em nossa governança corporativa", afirmou Saikawa aos acionistas.
O executivo afirmou que foi "extremamente afetado" ao tomar conhecimento dos "desvios de conduta" de Ghosn, que ele considerava um mentor. Quase 4.200 acionistas participaram da assembleia e muitos aproveitaram a oportunidade para criticar Ghosn, mas também para questionar o que permitiu o escândalo na empresa.
Acusações
Ghosn enfrenta no Japão três acusações fundamentais: as duas primeiras se referem ao alegado desvio de quase 80 milhões de dólares e às manobras para esconder os recursos dos próprios acionistas. A terceira diz respeito à tentativa de transferir para a Nissan dívidas pessoais.
O executivo, detido em novembro, foi libertado após o pagamento de fiança em março, mas na semana passada foi detido novamente. Os promotores japoneses acreditam que Ghosn desviou recursos da Nissan que totalizam 15 milhões de dólares entre o fim de 2015 e meados de 2018, e que utilizou quase cinco milhões em benefício próprio.
Na sexta-feira, uma corte distrital de Tóquio determinou que os promotores têm até 14 de abril para interrogar Ghosn, que nega todas as acusações. A esposa do empresário, Carole, que estava morando no Japão desde a detenção de Ghosn, afirmou que decidiu abandonar o país porque acreditava estar em perigo.
Versões que circularam na imprensa japonesa indicam que os promotores esperavam que esposa de Ghosn se apresentasse voluntariamente para prestar depoimento. Entre as denúncias contra Ghosn, os promotores citam que um dos mecanismos para transferir recursos sem chamar a atenção incluía uma empresa dirigida por sua esposa.
Pouco antes da segunda detenção, Ghosn concedeu uma entrevista ao canal francês TF1 e afirmou que é vítima de uma conspiração, ao mesmo tempo que fez uma ameaça: "Com certeza, tenho nomes". O empresário acredita que sua queda em desgraça foi planejada por pessoas que não queriam ver a integração entre Nissan e Renault.