Nelson Cilo
postado em 10/04/2019 06:00
São Paulo ; O mercado de produtos usados nunca esteve tão aquecido no Brasil. Imóveis, carros, peças, eletrodomésticos e, principalmente, smartphones fizeram com que a indústria dos produtos de segunda mão atingisse cifras recordes.
Dos segmentos, o que mais tem chamado a atenção é o de smartphones usados ou restaurados. Um termômetro desse movimento é o desempenho da empresa Yesfurbe, especializada em reparação e venda de aparelhos usados. A empresa, líder no setor, estima vender 20 mil aparelhos neste ano, cinco vezes mais do que os 3,8 mil contabilizados no ano passado.
;Sentimos uma mudança no comportamento de compra do consumidor em adquirir um modelo seminovo, mas é preciso ressaltar que o conceito de ;refurbishing; não é o de um smartphone velho. É um aparelho refabricado, em que suas características técnicas e estéticas voltam a ser semelhantes às de fábrica;, diz Danilo Martins, sócio-fundador da empresa (leia mais na entrevista abaixo).
Segundo ele, há três bons apelos baseados na compra, venda e assistência técnica, que, apesar de tudo, oferece preços menores do que se cobra pelo similar novo. ;Os frequentes lançamentos e as inovações dos smartphones motivam o cliente a trocá-los, em média, a cada 13 meses. O descarte incorreto do produto inutilizado provoca muitos estragos ambientais. No Brasil, há pelo menos 1,4 milhão de toneladas de celulares danificados todo ano;, afirma Martins. Apenas como comparação, os carros são substituídos a cada três anos, em média.
Aquecimento
O potencial do mercado é imenso. Um levantamento da PNAD Contínua mostra que 138,3 milhões de brasileiros ; ou 77,1% da população ; têm no mínimo um celular. Já os consumidores que mantêm veículo próprio não atingem nem 50% da população. A mesma pesquisa revela que as transações de veículos usados no Brasil são rotineiras. O crescimento é de 7% no primeiro bimestre de 2019, comparativamente ao mesmo período contabilizado no exercício anterior.
Apenas em janeiro e fevereiro deste ano foram comercializados 2,28 milhões de veículos usados, segundo a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto). Enquanto isso, a maioria dos celulares usados é substituída pelos novos aparelhos. Assim, pelo menos 1,4 milhão de toneladas de aparelhos são descartados incorretamente a cada ano.
Com os consumidores ficando com seus smartphones por mais tempo do que o esperado pelas fabricantes, o efeito provocado é parecido com o dos carros: aumentam os preços dos novos e, com isso, aquecem também os dos usados. De acordo com uma previsão da consultoria IDC, o mercado de smartphones seminovos é estimado em US$ 52,7 bilhões em 2022, com preço médio de US$ 180 por aparelho.
;Por se tratar de investimento inacessível para grande parte da população, os smartphones mais tecnológicos e de preços mais elevados acabam se tornando artigos de consumo cobiçados no mercado de usados;, afirma o economista Pedro Silva Carvalho, coordenador do núcleo de pesquisadas de varejo da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Incentivo
É diante desse cenário que vem o crescimento também da Trocafone, empresa que compra e vende smartphones usados no Brasil. Funciona como em uma concessionária, em que se pode oferecer o usado como parte do pagamento por um celular novo em um dos parceiros da empresa, como Samsung, Sony e LG, que oferecem a troca em suas lojas físicas em shoppings.
O valor normalmente é mais baixo do que é obtido por meio da venda entre pessoas na internet, mas pode ser um incentivo adicional para quem quer trocar de smartphone o quanto antes. A empresa então recondiciona o aparelho e o coloca à venda no seu site oficial, com preços mais baixos do que os que são oferecidos pelo varejo. Na Trocafone, os dispositivos são divididos nas categorias ;bom;, ;muito bom; e ;excelente;, que dizem respeito à situação estética dos aparelhos.
A página ainda indica quais são os sinais de uso, como arranhões, riscos e partes amassadas. Comprados de outros consumidores, os telefones passam por reparos no centro técnico, e depois são colocados para recompra novamente.