Economia

Inflação bate em 4,58% e fica acima da meta dos 12 meses

Alta de 0, 75%, em março, leva IPCA para 4,58%. Alimentos e combustíveis são os responsáveis pelo aumento da carestia. Para especialistas, aceleração reduz a possibilidade de o Banco Central diminuir os juros de 6,5% este ano

Hamilton Ferrari, Gabriela Tunes*
postado em 11/04/2019 06:00
Shirley Silva Diogo só compra fruta em um supermercado e, sempre que está mais caro, espera o dia da promoção para evitar estourar o orçamento

A inflação voltou a provocar estado de alerta. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou fortemente em março, elevando a taxa de 3,89% para 4,58% no acumulado de 12 meses ; superior ao centro da meta, de 4,25%, estipulado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Segundo os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os grupos de alimentos e transportes foram os grandes vilões do último mês.

Os dois juntos somaram cerca de 80% do índice, que registrou alta de 0,75% em março. Enquanto a inflação de alimentos avançou 1,37%, os preços relacionados aos transportes avançaram 1,44% no mês. Contribuíram para a alta do IPCA o encarecimento do tomate, das frutas, do feijão-carioca, da batata-inglesa e da cebola. A gasolina foi o vilão do consumidor, aumentando 2,88% no período.

De acordo com analistas, a inflação mais forte ocorreu influenciada basicamente por esses dois grupos. A chuva mais forte prejudicou o plantio de produtos in natura, e o dólar mais caro elevou o preço da gasolina. O economista Rafael Cardoso, da Daycoval Asset Management, no entanto, afirmou que o choque de preços dos últimos meses tende a ser passageiro, principalmente o dos alimentos. ;Esperamos que parte da devolução ocorra já em maio e nos meses subsequentes. Após a leitura de julho, por exemplo, o IPCA acumulado deverá estar mais próximo de 3% do que de 4%;, afirmou.

A servidora pública Shirley Silva Diogo, 36 anos, sente no bolso a alta, principalmente de alimentos. ;As frutas aumentaram muito, principalmente o maracujá;, reclamou. Por semana, ela gasta em média R$ 130 com alimentos in natura. Mas, sempre que percebe uma alta, adia a compra até o preço cair. ;Frutas, só compro em um supermercado e, quando percebo que estão caras, espero o dia da promoção;, comentou.

A advogada Patrícia Martins, 43, critica o custo dos combustíveis. ;A gasolina está muito cara. As vezes vejo se vale mais a pena andar de carro ou de aplicativo;, apontou. Patrícia utiliza bastante o carro para viagens a trabalho em outro estado, então, o orçamento para combustível varia de acordo com a época. De qualquer forma, a advogada sempre separa pelo menos R$ 400 mensais para abastecer. ;Ainda não tive que cortar gastos para conseguir abastecer, mas provavelmente um dia terei de fazer;, afirmou.

Juros

Por conta da inflação mais alta, as chances de o Banco Central (BC) reduzir a taxa Selic em 2019 diminuiu. O economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, ressaltou que a inflação deve continuar vindo acima do centro da meta nos próximos meses e que, apesar de não ser um quadro preocupante, acende o radar da autoridade monetária, já que possíveis pressões devem aumentar o índice no futuro.

;Os indicadores do núcleo de inflação mostram que o IPCA está rodando tranquilo, mas não dá segurança para cortar a taxa Selic. Exige uma certa cautela do BC. A Selic deve terminar o ano em 6,5% ao ano;, disse. ;Uma possível redução pode não acontecer porque, com a reforma da Previdência, a atividade econômica vai retomar de forma mais forte, pressionando os preços;, completou.

Breno Martins, economista da Mongeral Aegon Investimentos, afirmou que a inflação de abril deve vir acima de 0,48%, mantendo o acumulado de 12 meses acima do centro da meta. ;Apesar disso, acredito que o efeito vai dissipar no terceiro trimestre. Olhando o cenário de inflação, os núcleos mostram que está rondando os 3,5% no acumulado de 12 meses. Então, o IPCA deve terminar 2019 em 4%, e os juros em 6,5% ao ano;, avalia.

* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira


Mercado reage bem à fala do ministro

O mercado foi simpático às notícias do dia. O discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes, em evento nos Estados Unidos, onde participará da reunião do Fundo Monetário Internacional, e a notícia de acordo com a Petrobras, no caso da cessão onerosa, fizeram com que o dólar acelerasse a queda, ontem, encerrando o dia com recuo de 0,8%, cotado a R$ 3,823. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) reduziu as perdas, com o Ibovespa, principal índice da B3, fechando em queda de 0,35% aos 95.953 pontos. Para Carlos Henrique de Oliveira, assessor de investimentos da Miura Investimentos, o mercado ainda não está otimista, mas perdeu o pessimismo das últimas semanas.

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