Ingrid Soares
postado em 17/04/2019 16:49
Um levantamento financeiro das Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que o Brasil é o segundo maior caloteiro da pasta. Os atrasos nos pagamentos totalizam US$ 302,8 milhões, o equivalente a mais de R$ 1,17 bi. Em primeiro lugar, está a Casa Branca. No total, os norte-americanos devem US$ 381 milhões ao orçamento regular da ONU e mais de US$ 1,2 bilhão para as operações de paz.
As informações são do blog de Jamil Chade e fazem parte de um informe financeiro da entidade de março de 2019 e traz um balanço das contribuições feitas pelo país até 2018. As contribuições regulares a organismos internacionais haviam sido interrompidas a partir de 2014, no governo de Dilma Rousseff (PT), e foram retomadas por Michel Temer (MDB) a partir de 2016. Em 2017, o Brasil acumulava uma dívida de US$ 41 milhões em relação ao orçamento regular da ONU. Ao final de 2018, esse valor havia subido para US$ 60,8 milhões.Mas, agora, a dívida voltou a aumentar. Em 2019, nenhum valor ainda foi pago.
O mais atrasado, no entanto, é o pagamento para financiar operações de paz. Ao final de 2017, o Brasil tinha pendente uma contribuição de US$ 190 milhões. Ao final de 2018, esse valor havia atingido US$ 242 milhões.
No entanto, o governo optou por realizar o pagamento a entidades menores ou para aquelas em que uma dívida representaria uma ameaça de perda de votos ou de direitos, como a OMC (Organização Mundial do Comércio) para que pudesse continuar utilizando os mecanismos de solução de disputas de comércio.
A falta de pagamentos representam ainda uma ameaça à diplomacia do país já que o governo poderia ficar de fora da determinação de padrões técnicos ou ainda ser impedido de exportar por questões fitossanitárias.
Bolsonaro já demonstrou anteriormente falta de afinidade com a Organização ao afirmar durante a campanha presidencial, que retiraria o Brasil da ONU, por ser uma "reunião de comunistas" que "não serve para nada".
Em uma live realizada pelas redes sociais na semana passada, o presidente comentou que, em relação à participação do Brasil nas votações do Conselho de Direitos Humanos na ONU, o "voto de cabresto" chegou ao fim.
;Passamos a votar na mesma sintonia de Israel e Estados Unidos na Comissão. Foi uma mudança radical de um voto de cabresto que era sempre afinado com Venezuela, Guiana, Cuba e outros países que não tem qualquer amor à democracia e à liberdade;, disse.
O governo de Jair Bolsonaro rompeu uma tradição diplomática brasileira e votou contra os palestinos no Conselho de Direitos Humanos da ONU e em favor de Israel. Trata-se de uma ruptura histórica, já que o Brasil alternava entre um apoio explícito aos palestinos ou decidia se abster nas votações.
O Correio entrou em contato com o governo e com a Secretaria-Executiva da Comissão Interministerial de Participação em Organismos Internacionais (Cipoi), vinculada ao Ministério da Economia questionando se há previsão para os pagamentos. Até o fechamento desta reportagem, ainda não obteve resposta.
Contribuição
As contribuições regulares na ONU são definidas periodicamente. O cálculo decisivo desse tipo de financiamento é uma escala de contribuições que se apoia no princípio de que países ricos pagam mais, e os países mais pobres, menos. Os EUA não abrigam somente a sede das Nações Unidas em Nova York. Eles também pagam um quinto das contribuições regulares do orçamento da ONU.
Após uma revisão em 2011, a contribuição brasileira passou de 1,4% do total do orçamento da ONU para 2,9%. Já o governo americano arca com quase 25% do orçamento.