Economia

Desemprego: comércio foi o setor que mais fechou vagas em março

Os números também representam o pior resultado para março desde 2017. Comércio foi o setor com maior número de postos formais encerrados. Houve aumento de oportunidades em trabalho intermitente e em regime parcial

Vera Batista
postado em 25/04/2019 06:00

Siuara Carla está desempregada há um ano. Formada em biomedicina, vende doces e estuda para concurso


O desemprego cresceu no país no mês de março. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), houve retração de 0,11% nas contratações com carteira assinada em relação a fevereiro ; mês que apresentou saldo positivo de 173.139 vagas. O que significa que foram fechados no Brasil, no terceiro mês do ano, 43.196 postos de trabalho, resultado de 1.304.373 demissões e 1.261.177 contatações. Essa é a primeira queda no emprego em três meses e o pior março desde 2017, época em que 63.624 pessoas foram dispensadas do trabalho formal.

Os setores que mais desempregaram foram comércio, com saldo negativo de 28.803 vagas;agropecuária (-9.545); construção civil (-7.781); indústria de transformação (-3.080) e serviços industriais de utilidade pública (-662). Segundo o secretário de Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Dalcolmo, o resultado negativo de março tem relação direta com o que aconteceu em fevereiro, que teve saldo positivo acima das expectativas, porque os empresários adiaram as dispensas.

A princípio, Dalcolmo explicou que o grande número de dispensas não tinha relação com a confiança dos empresários e disse que eles ;estavam confiantes e a demanda estava aquecida;. Mas, em seguida, admitiu a fraqueza da economia e afirmou que a aprovação da reforma da Previdência pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), da Câmara dos Deputados, pode favorecer a melhora das expectativas e a retomada dos investimentos e contratações. ;O país está aguardando as decisões sobre a nova Previdência. Enquanto isso, os investimentos estão represados;, destacou.

Em março, os principais estados brasileiros demitiram mais do que contrataram. São Paulo fechou 8.007 vagas, e Rio de Janeiro, 6.986. Na região Sudeste, foram encerrados 10.673 postos; na Norte, 5.341; na Sul, 1.748. No Centro-Oeste, ocorreu o fechamento de 1.796. Na modalidade de trabalho intermitente, foram gerados 6.041 empregos, um aumento de 88% em relação a março de 2018. No regime de tempo parcial, o saldo positivo foi de 2.129 postos.

Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, o resultado de março surpreendeu. A expectativa do mercado era de criação de, pelo menos, 40 mil postos. ;É um alerta para o governo. Mostra que é preciso acelerar o passo. Não dá para ficar brigando com o Legislativo;, destacou. Na análise do economista, o governo terá de provar que tem condições de fazer um ajuste severo nas contas, que vêm se deteriorando e afastando investidores. ;Esse ano vai fechar no azul, embora abaixo do esperado. Com o resultado de março, a previsão para 2019, de abertura de 1,250 milhão de novos postos, caiu para 900 mil;, disse.

Siuara Carla dos Santos Carvalho, 29 anos, está há um ano sem emprego. ;Trabalhava em uma loja como estoquista. Teve cortes, e eu fui uma das dispensadas;, contou. Desde então, manda currículos, participa de grupos nas redes sociais e faz bicos vendendo doces de chocolate. Com carteira assinada, recebia mensalmente R$ 1,5 mil. Com o bico, não ganha mais que o salário mínimo. ;Sou formada em biomedicina. Estou estudando para concurso público;, destacou.

Marcos Paulo Soares, 24, há seis meses à procura de oportunidade, acaba de encontrar uma vaga na área de publicidade e propaganda. ;Passei pelo processo seletivo e, agora, vou entregar os documentos. Estou muito feliz;, contou. Mas teve que se contentar com remuneração mensal inferior. Antes, em uma empresa pública do Governo do Distrito Federal (GDF), seu salário era de R$ 4 mil. No novo, receberá em torno de R$ 3 mil.

Decisão sobre ZFM é adiada

O Supremo Tribunal Federal iniciou ontem julgamento que discute o direito ao creditamento de IPI na entrada de insumos isentos provenientes da Zona Franca de Manaus (ZFM). A sessão de ontem terminou em empate, com dois votos contra e dois a favor. Com o avançar da hora, o presidente da Suprema Corte, ministro Dias Toffolli, remarcou o julgamento para a tarde de hoje. O relator do processo, ministro Marco Aurélio, argumentou que, para criar uma exceção à Zona Franca de Manaus, exigiria previsão em lei. Alexandre de Moraes, também contra, entendeu que a aprovação do crédito para a ZFM desencorajaria a ida de indústrias para a região e a tornaria produtora exclusiva de insumos.

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