Economia

Prévia da inflação de abril é a maior desde 2015

IPCA-15 acelera e leva carestia dos 12 meses terminados em abril para 4,71%. Combustíveis e alimentos são considerados vilões da alta. Para especialistas, elevação dificulta cortes nos juros básicos

Rafaela Gonçalves*, Gabriela Tunes* , Hamilton Ferrari
postado em 26/04/2019 06:00

Simone Melo é dona de bufê e diz que está difícil balancear os preços que encontra nas prateleiras com o serviço que oferece

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação, variou 0,72% em abril, aumentando em relação à taxa de 0,54% em março. Essa foi a maior taxa para o mês desde junho de 2018, quando ocorreram os efeitos da última greve dos caminhoneiros. Além disso, o resultado foi o mais expressivo para o mês desde 2015, quando variou 1,07%. Os números surpreenderam os economistas, que devem revisar a projeção de inflação de 2019.

Mesmo assim, a expectativa dos analistas é de que o IPCA, que é a taxa oficial, fique abaixo do centro da meta, que é de 4,25%. Atualmente, segundo o relatório Focus, do Banco Central, as estimativas estão em 4,01%.

Segundo o IBGE, a variação da prévia da inflação foi de 4,71% no acumulado de 12 meses. O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira, ressaltou que os alimentos e os combustíveis são os vilões de abril. ;As estimativas para a inflação de 2019 serão revistas para cima, já que as altas do dólar e do petróleo serão reforçadas pelos efeitos importantes da gripe suína que está produzindo um enorme choque de oferta na China. A nossa estimativa para o IPCA de 2019 tende a ficar acima de 4,10%;, destacou.

O economista-chefe da Spinelli Investimentos, André Perfeito, destacou que a taxa deverá ficar próximo de 4% ao término de 2019. ;Há muito impacto de combustíveis por conta do preço do petróleo, e não trabalhamos com a hipótese de alta indiscriminada do produto. Já o aumento na alimentação pode ser mais persistente. E, por isso, fica mais evidente que possíveis cortes na taxa Selic não devem acontecer;, destacou.

Os juros estão em 6,5% ao ano e são utilizados, de certa forma, para controlar a inflação. Com a demanda fraca, o índice é o mais baixo da série histórica, mas novas reduções não devem ser feitas pelo Banco Central (BC). Segundo analistas, há riscos de pressões inflacionárias a partir de 2020 com uma possível frustração da reforma da Previdência.

Caminhada

Os grupos que mais contribuíram para variação do IPCA-15 foram transportes, com variação de 1,31%; saúde e cuidados pessoais, 1,13%; e alimentação, que apresentou uma diminuição em relação a março, com variação de 0,92%. Segundo o IBGE, esses três grupos representam cerca de 85% do índice do mês. A servidora pública Katia Vial, 55, reclama da instabilidade do preço da gasolina. ;É um absurdo, surreal! Eu estava justamente fazendo uma ronda em busca de promoção, mas ainda assim a diferença é muito pouca, de centavos.;, ressaltou.

De acordo com o economista da Haitong, Flávio Serrano, a variação nos transportes deve-se ao aumento do dólar e dos combustíveis e, a dos medicamentos, ao reajuste do preço de remédios feito no fim de março pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Já a dos alimentos é devido a fatores climáticos e sazonais, o que é natural. ;O preço agrícola é determinado pela oferta, e suas condições estão sendo normalizadas;, afirmou.

Apesar de ter subido menos, consumidores ainda reclamam do valor dos alimentos. Dona de bufê, Simone Melo afirma que está difícil balancear os preços que encontra nas prateleiras com o serviço que oferece. ;A gente acaba tendo que repassar para o cliente. Eu perdi duas licitações este mês por causa disso;, reclamou.

Para incluir os altos preços em seu orçamento, a secretária Luciene Rosário, 34, estabelece estratégia de compras. ;No início de mês, sempre percebo que os preços estão mais elevados, que é quando o pessoal recebe o vale-alimentação, então, vou comprando por semana e percebo que assim pesa menos no fim do mês;, explicou. Mesmo assim, Simone evita supérfluos. ;Está tudo absolutamente caro;, disse.

O preço dos alimentos também afeta o bolso de Valdenora Gomes, 46. Desempregada, ela prefere passar longe das prateleiras com preços altos. ;Ando comprando mesmo só o necessário, o tomate hoje mesmo só estou levando dois e assim vou tentando substituir pelo que está mais em conta, se não for assim, não há quem dê conta;, disse.

0,72%
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 no mês de abril

*Estagiárias sob supervisão de Rozane Oliveira

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