O mês de maio tem sido uma maldição para os investidores no mercado de ações brasileiro há nove anos consecutivos. Desde 2010, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) fecha o quinto mês do ano no vermelho. Ontem, no primeiro pregão de maio, o Ibovespa, principal índice da B3, fechou em queda de 0,86%, dando sinais de que o resultado pode se repetir.
;Maio é um dos piores meses para a bolsa, tradicionalmente, no mundo e aqui também. Nos últimos 10 anos, o Ibovespa só não caiu em 2009 e, desde 1994 até hoje, o mês com maior queda na bolsa é justamente maio;, afirmou o diretor de operações da corretora Mirae Asset Financial Group, Pablo Spyer. Ele lembrou que existe um movimento de realização de lucros forte nos Estados Unidos e na Europa, porque é costume do investidor sair da bolsa antes do verão e só voltar no outono do Hemisfério Norte. ;Sell in may and go away (venda em maio e vá embora);, citou.
;Antigamente, esse ditado era usado por aristocratas, mercadores e banqueiros da Inglaterra, que saiam nos verões quentes e voltavam quando o calor intenso passava. Mas, hoje, os investidores de bolsa dos EUA usam a frase para sair de férias;, explicou. Segundo Spyer, o comportamento do Índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, entre 1950 e 2013, deu credibilidade a esse ditado. ;Mas, desde 2013, isso não se confirma com a mesma frequência por lá;, acrescentou.
A continuidade dessa maldição no mercado brasileiro neste ano, entretanto, vai depender de como será a tramitação da reforma da Previdência na Comissão Especial da Câmara dos Deputados, recém-criada para analisar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) n; 6/2019, que trata do assunto, dizem especialistas. ;Maio será decisivo para medir o termômetro da reforma. Tudo vai depender do Rodrigo Maia (presidente da Câmara) e de como o governo vai se articular para avançar a PEC na Comissão Especial;, avaliou o economista Alexandre Espírito Santo, da Órama.
;Se tomarmos como exemplo os dois últimos anos, os fatores políticos influenciaram negativamente a Bolsa e podem voltar a atrapalhar neste ano;, lembrou. O economista acaba de reduzir de 2,1% para 1,8% a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), mas condiciona esse desempenho acima da mediana do mercado, de 1,7%, à aprovação da reforma até setembro na Câmara e no Senado.
Em maio de 2017, a denúncia dos donos do frigorífico JBS contra o ex-presidente Michel Temer abalou a B3, que precisou acionar o circuit breaker, mecanismo que interrompe o pregão quando a bolsa cai mais de 10%. Foi a última vez que isso ocorreu. Naquele mês, o Ibovespa recuou 4,3%. E, no ano passado, a greve dos caminhoneiros, que parou o país em 21 de maio, a B3 acumulou queda de 10,9% naquele mês e continuou caindo 5,2% em junho.
Explicações
Para analistas, entretanto, a queda de ontem foi puxada por fatores externos, pois a B3 acabou repercutindo a sinalização dada por Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), de que não haverá redução de juros neste ano. Isso foi uma ducha de água fria nos mercados emergentes, cujas moedas voltaram a se desvalorizar. Não à toa, o dólar comercial subiu ante o real e encostou novamente nos R$ 4 ao longo do dia. A divisa norte-americana encerrou o pregão com alta de 0,23%, cotada a R$ 3,959 para a venda.;A B3 teve uma pequena recuperação em abril (alta de 0,9%) depois de cair em fevereiro e em março, em grande parte, beneficiada pela valorização das ações de empresas exportadoras de carnes. Há uma expectativa de que até 20% da demanda mundial pode ser impactada pela peste suína na China, e o efeito imediato disso foi a valorização dos frigoríficos BRFoods, JBS e Marfrig. Logo, uma queda em maio será complexa para a economia;, explicou o analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman. Segundo ele, os sinais internos e externos não são muito animadores para a atividade econômica do país em maio, uma vez que há vários fatores, inclusive esse aumento das exportações de carne, que devem pressionar os preços dos alimentos no mercado interno.