Economia

Com crise da Avianca, preço das passagens aéreas dispara no país

Crise na Avianca reduziu concorrência e contribuiu para aumento das passagens aéreas. De acordo com o IPCA-15, alta chegou a 5,54% entre março e abril. Anac é pressionada a apresentar levantamento dos preços até sexta-feira

Rosana Hessel, Gabriela Tunes*
postado em 04/05/2019 07:00
Vitor Alonso, estudante de engenharia na UnB:

A crise da Avianca, que está em processo de recuperação judicial, escancarou um problema recorrente na aviação brasileira: a concentração. Duas empresas dominam esse mercado: Gol e Latam. Como a situação da Avianca ficou mais crítica em abril, quando a companhia começou a cancelar uma série de voos por conta da devolução de aviões, o consumidor já está sentindo no bolso o impacto da redução da oferta de aviões pelo país.

As promoções não acontecem como antes no momento atual, na contramão de um período considerado de ;baixa temporada; para o setor. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que as passagens não param de subir. Conforme dados da prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), os bilhetes tiveram alta média de 5,54%, entre março e abril e, no mês anterior, de 7,54%. Contudo, dependendo da rota que o consumidor for comprar, a diferença entre os preços de hoje e os de há um ano podem ser muito maiores, superando 140%, admitem fontes do setor. Na contramão, os dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) estão desatualizados e não mostram essa discrepância recente que prejudica o consumidor. A pesquisa mais recente é do último trimestre de 2018.

O advogado Ademir Pereira Junior, sócio da Advocacia José Del Chiaro, especialista em direito concorrencial, destacou que há uma evidência clara de redução na competição com a crise da Avianca. ;De fato, uma diminuição importante da concorrência sempre impacta o preço, ainda mais quando o mercado é concentrado, com poucos competidores, como a da aviação;, afirmou.

Queixas


Mesmo com a promessa de que o fim da franquia de bagagem abaixaria os preços, está cada vez mais difícil encontrar passagens baratas. A aposentada Neuza Tomás Alves, 75 anos, se queixou da redução da concorrência no mercado. ;A gente compra com três meses para ver se consegue um preço melhor, e, mesmo assim, está difícil;, disse ela, que estava embarcando para Fortaleza. Ela acredita que os cancelamentos dos voos da Avianca estão sendo motivo para as outras empresas aproveitarem para elevarem os preços. ;Eles estão aproveitando que não temos opção. O pior é que dizem que vão tirar o lanche para abaixar o preço da passagem, mas a gente sabe que não abaixa nada;, reclamou.

Para a psicóloga Valerya Coutynho, 48, que estava viajando para Belo Horizonte a trabalho, o país não possui respeito e cuidado com a população. ;Imagina alguém que tem que fazer viagem de última hora a trabalho. Quanto mais próxima a data da passagem, mais cara ela é. Espero que isso mude;, disse.

O técnico em produtos Michel Ávila, 31, consegue fazer um histórico de preços, já que embarca, pelo menos três vezes por mês, para fora de Brasília. ;Hoje de manhã, compraram uma passagem para mim para Porto Alegre por R$ 1,3 mil, só a ida. É um absurdo esse preço;, opinou. Para ele, viagens aéreas deveriam ser mais acessíveis.

Na opinião do estudante de engenharia de produção da Universidade de Brasília (UnB), Vitor Alonso, 25, os preços não condizem com o que as empresas oferecem. ;Os voos são bem básicos e não temos refeição. Não tem comparação com voos internacionais;, disse. Há alguns meses, ele deixou de visitar a mãe em São Paulo por causa do preço das passagens. Nem pagando parte com milhas foi possível arcar como custo.

Valerya Coutynho, psicóloga:

Abuso


O porteiro Eli Carlos, 41, mora no Rio de Janeiro e estava com a família fazendo uma conexão em Brasília com destino a Fortaleza. Após cinco anos sem viajar de avião, se assustou quando foi comprar as passagens. ;Quando fui comprar, senti o impacto no bolso. Os preços estão absurdos. Somos três lá em casa, pesa muito mais;, comentou.

Diante desse cenário com suspeita de abuso nos preços, o governo finalmente resolveu agir. O chefe da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) do Ministério da Justiça, Luciano Timm, reuniu-se na quinta-feira com integrantes do Ministério da Economia, da Anac e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para debaterem o assunto. ;Fizemos uma reunião e vamos monitorar os preços das passagens. A Anac vai fazer um levantamento de preços e nos apresentar até a próxima sexta-feira para avaliarmos melhor;, garantiu. ;Quem se sentir prejudicado com o aumento abusivo das passagens deve registrar uma reclamação na plataforma consumidor.gov.br;, completou.

Procuradas, as companhias evitaram comentar sobre o aumento dos preços das passagens. A Gol, por exemplo, não retornou até o fechamento desta edição. A Latam disse que, ;assim como todo o setor aéreo, trabalha com o sistema de precificação dinâmica, que considera diversos fatores para oferecer a cada cliente o produto mais adequado;. A companhia recomendou ao cliente programar as suas viagens com antecedência para encontrar os preços mais atrativos. ;É possível encontrar as melhores tarifas domésticas no Brasil de dois a seis meses antes do voo pretendido. No caso de viagens ao exterior, essa antecedência gira em torno de quatro a oito meses;, orientou.

* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira

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