Economia

Falta de investimentos impede retomada

Estudo mostra que os desembolsos públicos e privados estão nos mesmos patamares de 2008 e 2009. Governo aposta no plano de desestatização para destravar os negócios

Jaqueline Mendes
postado em 06/05/2019 06:04

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São Paulo ; Governo sem recursos para investir e empresas em compasso de espera. Essa combinação pode atrasar a recuperação da economia brasileira, segundo economistas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Dados divulgados na semana passada mostraram que a indústria recuou 1,3% em março na comparação com fevereiro, o pior resultado em seis meses. A previsão dos analistas era de uma queda de 0,7%. Com esse resultado, crescem as chances de que o Produto Interno Bruto (PIB) feche com balanço negativo no primeiro trimestre. ;A retração não é causada pela indústria, mas refletida na produção industrial;, explica Lucas Souza, economista da Tendências Consultoria.

A razão para essa derrapada, segundo especialistas, é a baixa taxa de investimento, que em 2018 foi de 15,8% do PIB, acima do observado no ano anterior (15%), mas ainda bem abaixo dos 21% registrados em 2013. Trata-se do percentual mais baixo desde 1996. Em cifras, os patamares estão equivalentes aos de 10 anos atrás.

Para o doutor em economia Marcos Lélis, a atividade econômica brasileira perdeu a ;capacidade de arranque; e o problema é mais estrutural do que conjuntural. O economista ressalta que, apesar das expectativas positivas geradas pelo novo governo, a economia ainda não reagiu de forma efetiva, com índices de desemprego e inadimplência elevados.

;Estamos andando de lado há cinco, seis anos. Os investimentos, tanto públicos quanto privados, estão nos mesmos patamares de 2008 e 2009;, disse, acrescentando que a baixa utilização da capacidade instalada do setor industrial, de cerca de 75%, não permite outro cenário. ;Enquanto o clima de incerteza continuar, o investimento continuará reprimido e a retomada da indústria seguirá cada vez mais difícil;, acrescentou Souza, da Tendências.

Nem tudo, no entanto, é motivo de preocupação. A expectativa de avanço do plano de desestatização do governo de Jair Bolsonaro, missão que está a cargo do empresário Salim Mattar, fundador da Localiza, pode gerar uma enxurrada de investimentos privados, além de colocar R$ 1 trilhão nos cofres do governo.

;Não existe caminho para a volta dos investimentos se não for pelas mãos da iniciativa privada;, disse Mattar, em encontro com empresários na semana passada, em São Paulo. ;O Estado brasileiro está literalmente quebrado, sem dinheiro para cobrir suas despesas básicas.;

A avaliação de Salim é endossada pelo economista Marcos Lélis. Para ele, a situação não vai mudar sem uma transformação estrutural, com mais investimentos, especialmente por parte do setor público. ;Os investimentos públicos vêm caindo de forma mais elevada do que o privado. Em quatro anos, de 2014 a 2018, essa queda ultrapassou 52%;, destacou, ressaltando que o governo precisa voltar a investir, seja por meios próprios, seja por meio de parcerias público-privadas.

Consumo estagnado

Além do investimento, a retomada econômica passa ainda pelo consumo, que está estagnado em função do desemprego elevado ; mais de 12%, sendo que, considerando o subemprego, esse índice sobe para 24% ;, e pelo aumento do endividamento das famílias, já em mais de 62%. ;Atualmente, 88% da produção industrial brasileira é consumida no mercado interno. Então, se não houver recuperação dessa demanda, dificilmente teremos resultados positivos.;

Mesmo com o cenário ainda desaquecido, Lélis ressaltou que o PIB brasileiro deve crescer 1,1% neste ano, com o consumo fechando com incremento de 1,9%. ;Lembrando que temos uma base de comparação muito deprimida, de 2018, e que a média histórica de crescimento do PIB brasileiro nos últimos 20 anos foi de 2,3%. Ou seja, estamos longe de recuperar as perdas, especialmente as dos anos de 2016 e 2017, quando a queda acumulada do PIB chegou a quase 8%.;

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