Economia

Preço de plano de saúde sobe quase o dobro da inflação

A inflação geral e acumulada pelo IPCA%u2014 calculada pelo IBGE %u2014 foi de 208%.

Thaís Moura*, Marina Torres*
postado em 09/05/2019 21:23
Homem doente com uma pesada cruz vermelha sobre a cabeça.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostra que, nos últimos 18 anos, a taxa de inflação acumulada dos planos de saúde individuais e familiares foi de 382%, enquanto a do setor de saúde, de 180%. A inflação geral e acumulada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ; calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ; foi de
208%.
Carlos Ocké-Reis, pesquisador do IPEA, informou que o estudo não busca encontrar justificativas, mas que o resultado encontrado é internacionalmente plausível. ;A singularidade do caso brasileiro é a seguinte: primeiro, existe uma política regulatória, então não era para encontrar uma discrepância tão grande. em particular, se tem uma política regulatória, portanto, quando você expurga o item plano de saude do índice de inflação setorial, esse índice de inflação setorial (que normalmente é acima da taxa de inflação da economia) se torna menor a longo prazo. o resultado do estudo mostrou que tem alguma coisa que não está funcionando muito bem,; explica.
Por causa do alto preço dos planos de saúde, muitos consideram até mesmo cancelar seus respectivos planos e aderir ao sistema público de saúde. Ana Carla Machado, 49, afirma que já chegou a cancelar o plano de saúde devido ao aumento do custo. ;O plano de saúde custava 20% da minha renda familiar. Eu não conseguia pagar o aumento que eles fazem no meio do ano. Atualmente estou sem plano, pago só para os meus filhos.; Ela reclama: ;Hoje em dia o plano de saúde é muito caro, ainda mais na minha idade por eu já estar na categoria acima de 44 anos.; Já Maria Monteiro, de 49 anos, é microempresária e conta que paga cerca de R$1.400 no total nos planos de saúde para ela e sua filha, Jaqueline. ;Há alguns meses, eu pagava R$1.000, mas o preço começou a subir tanto que troquei meu plano por um mais barato;, relata Maria, que já considerou cancelar o plano de saúde por achar os preços abusivos. ;Não cancelo o plano porque tenho medo de realmente precisar usá-lo e acabar morrendo na fila de hospitais públicos;, explica.

Estudo do IPEA
Em nota, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) informou que ;entende como inadequadas as comparações feitas em estudo do IPEA entre o índice teto de reajuste dos planos de saúde individuais e índices de preços ao consumidor, sejam eles gerais, como o

IPCA, ou específicos;. ;Há outras questões metodológicas que devem ser consideradas, como a diferença na composição da cesta de serviços do IPCA, que mede a ;inflação do consumidor;, e a cesta de serviços das operadoras de planos de saúde;, explica a nota. Como consequência do crescimento da taxa, o número de adesões aos planos de saúde individuais caiu no período entre março de 2018 e março de 2019. Segundo informações da ANS, o número de beneficiários passou de 9.153.256 para 9.049.601. Apesar disso, o estudo da ANS mostrou que o número de beneficiários de planos de assistência médica, no geral, cresceu. O número foi de 47.016.508 para 47.053.184. No centro-oeste, o aumento foi ainda mais expressivo. A região concentrou mais de 100 mil dos 200 mil novos adeptos em 2018.

O presidente da FenaSaúde, João Alceu Lima, pontua que o aumento dainflação verificado pelo IPEA não é um fenômeno exclusivamente brasileiro, e porisso não pode ser atribuído apenas a causas nacionais. Com base em uma levantamento de 2018 do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) que posiciona o Brasil como o sétimo país com maior índice de inflação médica -ficando atrás dos Estados Unidos e Canadá-, a FenaSaúde atribui esse índice à quatro fatores: o aumento da longevidade da população; o custo da incorporação de tecnologias que aperfeiçoam a medicina; e o consumerismo da população.

Em relação a pesquisa da ANS, que mostra uma queda na adesão aos planos de saúde individuais no período entre março de 2018 e março de 2019, o presidente da FenaSaúde chamou atenção para o fator desemprego, com a taxa atual de 12,4% no país. Ele também esclarece que, por causa da saída do mercado de diversas empresas que vendiam planos individuais de saúde, é normal que a taxa de adesão caia. "O brasil está saindo de três anos de uma crise muito forte, em que o desemprego atingiu 14% da população e agora está beirando 12%, mas em 2014 era 6,5%. Portanto, o sistema privado de saúde perdeu adesão tanto nos planos individuais quanto nos coletivos", afirma João. Em nota de posicionamento sobre o estudo do IPEA, a FenaSaúde também analisa que "não faz sentido tentar ancorar ou comparar a inflação médica (dos planos de saúde) com a inflação geral dos preços (o IPCA)".

"Para que o cálculo do reajuste dos planos individuais reflita a realidade dos custos médicos é preciso que em sua fórmula sejam contempladas as assimetrias regionais, diferenças de produtos ofertados, características das redes credenciadas, níveis de reembolso, existência de franquia e coparticipação, entre outros fatores", esclarece a nota.

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