Agência Estado
postado em 09/05/2019 18:03
Os dados considerados fracos das vendas do varejo potencializaram a reação do mercado de juros ao comunicado do Copom, conferindo queda às taxas futuras, mais pronunciada nos vencimentos curtos e intermediários. As taxas longas passaram a exibir sinal de baixa à tarde, nesta quinta-feira, 9, na medida em que a tensão nos mercados internacionais diminuiu, desacelerando o avanço do dólar.
O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020, que mais reflete as perspectivas para a política monetária em 2019, girou 465 mil contratos, ante cerca de 150 mil na quarta, fechando com taxa de 6,405%, de 6,430% quarta no ajuste. A do DI para janeiro de 2021 caiu de 7,001% para 6,93%. A do DI para janeiro de 2023 fechou a 8,06%, de 8,102%. A taxa do DI para janeiro de 2025 terminou a etapa regular em 8,58%, de 8,612%.
O comunicado do Copom não alterou a aposta de Selic estável na reunião de julho e no fim do ano - há na curva a termo uma precificação marginal de corte na taxa, de apenas 3 pontos-base, no Copom de outubro. Mas colocou combustível no debate sobre uma possível queda da taxa básica diante dos indicadores fracos da atividade no primeiro trimestre. A percepção de tom mais "dovish" no texto teve por base a inclusão da frase na qual o Copom afirma que "indicadores recentes da atividade econômica sugerem que o arrefecimento observado no final de 2018 teve continuidade no início de 2019".
Na quarta, em alguma medida o mercado já contava com um perfil de comunicado mais suave, mas, segundo o estrategista-chefe da Coinvalores, Paulo Nepomuceno, mesmo assim houve alguma reação na confirmação do fato. Um gestor afirma que o mercado está muito doador e, mesmo que a mudança ante o texto anterior tenha sido discreta, foi o suficiente para estimular a queima de prêmios. "O comunicado é sutilmente mais 'dove' do que 'hawk', mas o mercado precisava de um sinal pequeno para entrar com tudo", disse.
A questão é saber até quando o Copom conseguirá ganhar tempo antes de mexer na taxa, pois a pressão gerada pela anemia da atividade é grande e as vendas do varejo hoje só corroboram essa ideia. Na margem, as vendas do varejo restrito no primeiro trimestre subiram 0,2%, ante mediana das estimativas de 0,37%, e as do ampliado cresceram 0,3%, coincidindo com a mediana das previsões. "O resultado se soma à contração da produção industrial no mesmo período e não se coaduna com a avaliação de recuperação gradual da atividade, como quer o Copom", afirma o Banco Fator.
Os vencimentos longos estiveram mais atrelados ao comportamento dos ativos no exterior e ao dólar. A ligeira alta vista pela manhã em função do estresse com as negociações entre a China e os Estados Unidos se dissipou na medida em que o clima externo melhorou e as taxas passaram a recuar. Ainda, à tarde saiu de cena outro fator que costuma pressionar as taxas às quintas-feiras pela manhã, o leilão de prefixados do Tesouro. O lote de LTN, de 7,5 milhões, veio igual ao da semana passada, enquanto o de NTN-F, de 650 mil, foi ligeiramente maior do que o anterior, que era de 450 mil. Ambos foram vendidos integralmente.