Economia

Guerra comercial entre EUA e China pode deixar iPhone mais caro

Tarifas impostas pelo presidente Donald Trump aos produtos chineses deverão obrigar a Apple a aumentar o preço dos smartphones. Com isso, empresa pode perder mercado

Jaqueline Mendes
postado em 16/05/2019 06:00
Loja da Apple nos Estados Unidos: empresa enfrenta dilema de alta de custos e risco de redução do mercado

São Paulo ; A guerra comercial liderada pelo presidente americano Donald Trump contra os chineses pode provocar estragos nas finanças de uma das empresas mais emblemáticas de seu próprio país ; a Apple. A nova rodada de tarifas impostas pelos Estados Unidos e anunciadas no início desta semana atinge em cheio produtos como smartphones.

O iPhone, marca que durante muito tempo liderou as vendas de celulares no mundo, é fabricado quase que inteiramente na China. Significa, portanto, que ele pode ser taxado com um imposto de importação de 25%. O mesmo vale para outros itens produzidos pela Apple em território chinês, como tablets e laptops.

Não deixa de ser irônico o fato de um presidente americano atrapalhar os negócios de uma das empresas nascidas nos Estados Unidos mais admiradas no mundo e que inspirou uma legião de fãs em diversos países, inclusive no Brasil.

;As tarifas podem comprometer ainda mais os resultados financeiros da Apple, que nos últimos tempos tem enfrentado dificuldades em razão do acirramento da concorrência;, diz Eduardo Tancinsky, consultor especializado em tecnologia. ;Guerras comerciais são sempre nefastas e quem acaba pagando o preço são as empresas, sufocadas pelo aumento dos impostos.;

Durante muito tempo, a Apple liderou com folga as vendas de smartphones no mundo, mas isso mudou. Rivais como a coreana Samsung e a chinesa Huawei melhoraram significativamente a qualidade de seus produtos e ganharam mercado com uma política agressiva de preços. A Samsung cresceu tanto que roubou da Apple a liderança mundial na venda de smartphones e a Huawei disputa o segundo lugar global com a empresa da maça.

Dilema

A nova tarifa de Donald Trump gerou um dilema para a Apple. Para aliviar os custos extras gerados pela ação de Trump, a saída imediata é aumentar os preços de seus aparelhos. Se isso acontecer, porém, há o risco de as vendas caírem radicalmente ; os preços elevados do iPhone, a propósito, foram os grandes responsáveis pela queda de vendas nos últimos anos.

Uma projeção feita pelo J. P. Morgan mostra como os consumidores podem sofrer com a guerra comercial. ;Estimamos um aumento de 14% para que a empresa possa absorver o impacto de uma tarifa de 25%, mantendo a margem de dólares para todos os participantes da cadeia de suprimento constante;. Segundo o J. P. Morgan, a conta foi feita sobre os custos de fabricação e venda do iPhone Xs sem tarifas, que é de cerca de US$ 1 mil, em comparação ao que custaria se uma taxa de 25% atingisse as peças fabricadas na China. Isso levaria o preço de varejo do iPhone a até US$ 1.142.

A mesma percepção é compartilhada pelo Bank of American, que afirmou em nota que a Apple poderia repassar 15% dos custos adicionais aos consumidores, ;o que poderia levar à destruição de sua demanda.;

Outra saída seria absorver a alta de impostos e manter os preços nas faixas atuais, mas isso comprometeria as margens da empresa, já bastante apertadas diante dos altos custos para desenvolver produtos de alta tecnologia.

;Existe um risco muito real de maiores custos de importação e destruição da demanda de consumidores dos Estados Unidos, dependendo da decisão da Apple de repassar ou não parte do custo tarifário;, escreveu Krish Sankar, analista da consultoria Cowen, em relatório enviado a investidores nesta semana.

Uma terceira opção para a Apple seria reduzir a produção de smartphones na China. Ainda que de forma tímida, a empresa vem investindo em novos centros para a fabricação de iPhones. Desde o ano passado, a companhia aumentou a produção de aparelhos celulares na Índia, mas estima-se que o custo para fabricar em território indiano seja 10% maior do que na China. Com o tempo, porém, e com as isenções fiscais oferecidas pelas autoridades da Índia, a tendência é que essa diferença seja eliminada.

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