Economia

Crise política pode levar país à recessão, diz OCDE

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico alerta para o risco de a dificuldade de construção de consenso sobre as reformas dificulte a retomada do crescimento no país. Previsão de alta do PIB este ano caiu de 1,9% para 1,4%

postado em 22/05/2019 04:06

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) cortou a projeção de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e fez um alerta para o risco de o país voltar à recessão em meio à crise política, que tem travado a agenda de reformas. ;O cenário político fragmentado e, às vezes, a relação desafiadora entre os diferentes ramos do governo estão dificultando a construção de consenso político para reformas fundamentais;, informou a OCDE, em relatório divulgado ontem com atualizações de estimativas globais. Na avaliação da entidade, se o Congresso não aprovar ;a ambiciosa agenda de reformas do Executivo;, a regra do teto de gastos será descumprida em 2020 e, como consequência disso, os custos de financiamento ficarão mais altos, e as taxas de crescimento mais baixas e, possivelmente, haverá ;um retorno à recessão;.

A OCDE reduziu de 1,9% para 1,4% a previsão de crescimento do PIB brasileiro neste ano. Essa projeção, contudo, é otimista se comparada à mediana do mercado computada pelo Boletim Focus, de 1,24%. ;As estimativas mais globais demoram para ser consolidadas e não levam em consideração a piora recente no cenário macroeconômico;, explicou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. Ele prevê que o país entre em recessão técnica no primeiro semestre deste ano, que significa uma queda por dois trimestres consecutivos.

Agostini reduziu recentemente de 1,9% para 1% a estimativa de expansão do PIB deste ano. Pelas contas dele, haverá retração de 0,45%, de janeiro a março, e de 0,7%, de abril a junho na comparação com o trimestre anterior. ;O governo tem um grave problema de comunicação e de articulação. Enquanto o presidente não parar de ficar nas redes sociais e deixar os filhos tuitarem por ele, a economia não vai andar;, alertou.

Os primeiros cinco meses do governo Jair Bolsonaro estão deixando a desejar em termos de estímulo para a economia. E, nesse sentido, a reforma da Previdência seria fundamental. No entender do ex-ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, se não fosse o estresse político, a reforma já teria sido aprovada, e, quanto mais demorar, menor será o estímulo à economia.

A economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, reconhece que a retomada da economia está comprometida sem a reforma. O cenário básico traçado pela equipe liderada por ela prevê que o impacto, em 10 anos, da mudança no sistema de aposentadorias ficará na casa de R$ 640 bilhões. ;O governo está com dificuldade para construir uma base, e o movimento para a aprovação dessa reforma está sendo liderado mais pelo Legislativo do que pelo Executivo, que não quer ser responsabilizado pelo caos se não houver reforma;, lamentou.

Frustração


O especialista em relações internacionais Wagner Parente, CEO da BMJ Consultoria, acrescenta que a piora no cenário econômico é resultado da frustração com o novo governo. ;O mercado esperava uma sinalização que indicasse melhora do ponto de vista político, com a reforma da Previdência sendo votada rapidamente para que a agenda microeconômica fosse adiante. Mas não dá para contar com nada até junho e, realmente, se esse cenário não melhorar, vamos ver o país entrando em recessão;, afirmou.

Parente destacou ainda que o cenário externo não está favorável para contribuir para a retomada do PIB brasileiro. A OCDE destacou que o aumento das tensões comerciais entre Estados Unidos e China também traz riscos para o Brasil, pois são os dois principais parceiros comerciais do país.

A queda da projeção de crescimento global passou de 3,3% para 3,2%. As novas previsões da OCDE, para 2020, são de alta de 2,3%, no PIB brasileiro, e 3,4%, no global. ;Até a Organização Mundial do Comércio (OMC) anunciou ontem que o comércio global está mais fraco no segundo trimestre do ano;, destacou o especialista da BMJ.

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