Economia

Quatro perguntas para Dyogo Oliveira

Ministro do Planejamento no governo Temer

postado em 22/05/2019 04:07


Em um país com mais de 13 milhões de desempregados, já se fala que o Brasil está caminhando para depressão, nunca o país demorou tanto para se recuperar. Como se corrige isso?
De fato entramos em um período prolongado de baixo crescimento, mas acho um pouco prematuro falar em depressão. As estimativas são de que a gente tenha talvez mais um trimestre negativo, mas depressão é algo severo e danoso. Diferentemente de uma depressão econômica, temos no Brasil uma série de fatores políticos que influenciaram esse desempenho. Então, não é uma desarticulação própria do sistema econômico. São crises que geraram um ambiente negativo e acabaram influenciando. Do lado econômico, precisamos resolver a questão da Previdência. Na sequência, entrar na agenda propriamente do crescimento e começar a desatar o nó tributário, a regulamentação de diversos setores.

O quadro da economia poderia ser outro? Porque o que estamos vendo é o PIB encolhendo.
A política econômica envolve a adoção de medidas e ações no tempo correto e envolve uma sequência. Não adianta você inverter a sequência e tomar as medidas na hora errada. É preciso colocar essas coisas dentro de um certo processo organizado. Neste sentido seria muito positivo, por exemplo, se já tivesse sido aprovada, mesmo aquela reforma (da Previdência) de R$ 500 bilhões, R$ 600 bilhões de impacto. Já contemplaria as principais questões, como o estabelecimento da idade mínima, a regra de transição que era bastante razoável e o cálculo dos benefícios. Então, toda essa parte central já estava ali presente, a decisão de mandar uma nova proposta recria todo esse processo. Poderia ter sido evitado, mas não se pode chorar sobre o leite derramado, a decisão tomada foi de enviar, agora, todos nós temos que buscar a solução que melhor se equilibre entre o custo político e a necessidade da reforma econômica.

Mas não poderiam ser tomadas já algumas medidas em paralelo à reforma da Previdência?
Na condição de política econômica, a ordem de fatores altera o resultado. Então se não for criada a condição básica, qualquer coisa que seja feita será meramente paliativa e não terá resultado. Por mais difícil que seja, a única coisa que realmente tem que ser feita agora é a reforma da Previdência, o mais rápido possível e da melhor maneira possível.

Sobre a questão dos gastos, temos o gasto da Previdência, mas também temos o do servidor, que não para de crescer. Quando o senhor estava no Planejamento, foram encaminhados ao Congresso vários projetos para limitar salários do serviço público de forma a equipará-los com o setor privado. Por que isso não anda e não se consegue conter os gastos com o servidor?
Precisamos ter uma revisão das carreiras do serviço público no nível federal. Há uma quantidade muito grande de carreiras e uma desorganização da remuneração, da maneira como está estruturada hoje, que não serve como incentivo de desempenho. E o maior problema, que é a remuneração muito grande entre o início e o final da carreira. O que nós propusemos na época foi exatamente padronizar as remunerações, esse é o caminho que eu acho que deve ser seguido nessa reforma administrativa.

* Estagiárias sob supervisão de Rozane Oliveira

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