Economia

Gustavo Borges: "Queremos o público que está no sofá"

Medalhista olímpico da natação e presidente da Associação Brasileira de Academias (Acad Brasil)

postado em 22/05/2019 04:07
Medalhista olímpico da natação e presidente da Associação Brasileira de Academias (Acad Brasil)
Gustavo Borges fala sobre as perspectivas do setor fitness e conta como anda a disposição dos brasileiros para malhar e cuidar da saúde.



Como tem sido a performance do setor de academias em 2019?
Ainda não há resultados a serem comemorados, justamente porque a economia não se recuperou. Apenas 5% da população brasileira experimenta a vivência em uma academia, o que é uma taxa de penetração muito baixa quando comparamos esse indicador com mercados internacionais, inclusive com os de países da própria América Latina.

Os brasileiros malham pouco?

De 65 países pesquisados em estudo recente, o Brasil ocupa a 27; posição em termos de percentual de praticantes em relação à população total. Ficamos atrás até de países como Egito, Bahrein e Kuwait, com pouquíssima tradição no segmento de fitness.

Quais são as perspectivas para o mercado brasileiro, considerando que a retomada econômica é lenta?

A boa notícia de que as academias que já estão em funcionamento deverão se recuperar com mais facilidade do que outros setores, uma vez que os investimentos maiores já foram feitos em infraestrutura. Mesmo assim, não deve acontecer um grande crescimento na indústria brasileira de fitness em 2019.

Como foram os últimos anos?
Cerca de 80% das academias são pequenas empresas e os últimos anos foram bem difíceis para o setor em geral. O corte nas linhas de financiamentos e a queda do poder aquisitivo do brasileiro acertaram em cheio a maioria das empresas do segmento de fitness. As academias que apresentaram bom desempenho são aquelas que receberam capital estrangeiro ou investimento de grupos financeiros, uma modalidade que está ajudando a dar fôlego ao setor.

O crescimento do setor está concentrado em academias independentes ou em novas unidades de grandes redes?
Podemos dizer que vivemos um cenário de estabilidade, porque há novas unidades de grandes redes sendo inauguradas e também o que chamamos de microgyms, como estúdios de pilates, crossfit e outras especializadas que estão movimentando o mercado. Mas, em contrapartida, há o fechamento de empresas que não suportaram a desaceleração da economia, com cortes de créditos e falta de consumidores, assim como em vários setores. O número de academias praticamente se manteve estável nos últimos anos, levando em conta as que fecharam e as novas entrantes.

Qual é o potencial do mercado brasileiro, visto que o país, embora seja um dos maiores do mundo em número de academias, ainda está longe da liderança em horas de atividade física per capita?
Há potencial, claro. Mas precisamos, como empresários e profissionais da indústria do fitness, compreender onde está esse potencial. Um fator a ser observado é que o público com maior chance de crescimento é aquele que está em casa, no sofá, sem praticar nenhuma atividade física. Talvez a melhor estratégia não seja baixar preços para disputar clientes entre os 5% da população que já praticam exercícios em academias atualmente, e sim criar condições, instalações, programas, aulas e campanhas capazes de trazer para o mercado essa multidão de sedentários. Queremos o público que está no sofá.

O que é preciso fazer para o mercado decolar?
Quando a sociedade como um todo se conscientizar que academia é uma grande promotora de saúde, esse mercado vai decolar. Como associação representante de mais de 34 mil academias, a Acad tem trabalhado nesse sentido. Acabamos de fechar uma parceria com a Organização Mundial da Saúde para fazer uma campanha contra o sedentarismo. Seremos o piloto e a força na América Latina para esse esforço global. A OMS entendeu o papel significativo de promotores de saúde que as academias representam.

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