Economia

'O Brasil escolheu ficar velho e pobre', diz especialista em Previdência

O economista Paulo Tafner, alerta para a urgência da reforma da Previdência, pois o bônus demográfico já termina em 2021

Rosana Hessel
postado em 22/05/2019 14:17
paulo Tafner
O economista Paulo Tafner, um dos maiores especialistas do país sobre Previdência, anunciou o fim do bônus demográfico em 2021. ;Já podemos fechar o caixão;, afirmou ele, nesta quarta-feira (22/05) durante o seminário ;Previdência por que a reforma é crucial para o futuro do país?; realizado pelo Correio Braziliense e pelo Estado de Minas, com o apoio da Confederação da Agricultura e a Pecuária do Brasil (CNA), da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

;O Brasil escolheu ficar velho e pobre;, afirmou o economista da Universidade de São Paulo (USP). Ele lamentou o fato de o Brasil não ter conseguido melhorar sua produtividade ao longo desse período de bônus iniciado na década de 1960. Ao comparar com outros países que aproveitaram o bônus e conseguiram melhorar a produtividade e enriqueceram, como a Coreia do Sul, que tinha a renda per capita parecida com a do Brasil na década de 1970.

Conforme dados apresentados por Tafner, o país será um dos 10 países com a população mais envelhecida do mundo no próximo século, mas não se preparou para esse cenário. ;Aproveitamos o bônus com os militares mais populistas, mas o fato é que o populismo custou pela crise de inflação (da década de 1980). A produtividade despencou e já perdemos o bônus. Ele andou e a produtividade não andou. O bônus acaba e sepultamos o caixão de forma definitiva;, alertou.

De acordo com dados levantados pelo especialista, a produtividade média do brasileiro é tão baixa que fica abaixo da média dos países africanos e, na América Latina, só ganha da Venezuela. Nesse sentido, Tafner reforçou que a reforma da Previdência e outras que precisam ser encaminhadas para estimularem o crescimento da economia são urgentes e precisam ser rápidas, pois o relógio já parou. Além disso, ele ressaltou que o Brasil está envelhecendo em um ritmo mais acelerado do que os demais países.

Na avaliação de Tafner está havendo uma ;revolução silenciosa bombástica; na demografia, porque as mulheres estão deixando de ter filhos e os idosos estão passando pelo ;milagre da multiplicação;, tanto que, daqui a 40 anos, cada jovem terá ;um idoso para chamar de seu;. A frase fez referência para a mudança do quadro demográfico que, em 2060, haverá 1,6 trabalhadores ativos para sustentar quatro inativos do sistema de aposentadoria atual. ;O fato é que não vamos apenas ficarmos velhos. Vamos envelhecer mais do que os outros países do mundo, sobretudo nossos concorrentes, e vamos estar pobres;, afirmou ele, brincando que acha que precisa distribuir lenços, porque quando ele apresenta os números ;todos começam a chorar;.

Anomalia


Ao destacar a importância da reforma da Previdência, Tafner definiu o Brasil como ;anomalia;, porque ele gasta como país rico, mas ainda é um país pobre e, nesse sentido, ele quebra antes de cometer suicídio. ;Estamos cada vez mais perto dos países mais pobres e insistimos em nos comportar como se ricos fossemos;, alertou.

Tafner lembrou que as despesas com aposentadorias crescem R$ 50 bilhões por ano e o deficit da Previdência hoje equivale a 5% do Produto Interno Bruto (PIB). ;Mais de 50% dos gastos da União são com Previdência e esse percentual passará de 80% em alguns poucos anos. Precisamos fazer nosso dever de casa. O sistema é injusto, porque as regras são mais duras para os mais pobres;, avaliou. Ele lembrou que hoje a empregada se aposenta oito anos depois que a patroa e o pedreiro, dez anos depois que o empreiteiro, mesmo prazo a mais das aposentadorias do gari em relação aos prefeitos ou parlamentares.

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