postado em 24/05/2019 04:27
São Paulo ; Nas últimas semanas, o CEO da L5 Networks, Paulo Chabbouh, dedicou grande parte de sua agenda à tarefa de preencher 10 importantes vagas em seu quadro de funcionários. Depois de crescer 30% no ano passado, empresa líder do setor de telefonia em nuvem se deparou com a necessidade de reforçar as equipes, principalmente na área de desenvolvimento de softwares na capital paulista.
A missão do executivo, no entanto, fracassou. Mesmo sem exigir diploma universitário ; apenas a comprovação de que a pessoa sabe desempenhar o trabalho ;, de 16 candidatos pré-selecionados, apenas oito apareceram para a entrevista pessoal, o que inviabilizou o preenchimento dos novos postos de trabalho.
;A gente está buscando profissionais nas áreas de desenvolvimento de software, tecnologia no geral. Não estamos encontrando porque muitos não têm comprometimento, e a maioria não tem o conhecimento para o cargo;, garante Chabbouh. ;Nós aplicamos um teste simples, e a maioria não entrega, e dos que passam metade não aparece na entrevista. Estamos com vagas abertas há quase um ano e meio, e pela responsabilidade, estamos contratando pessoas mais velhas, na faixa dos 40 e 50 anos.;
A dificuldade do presidente da L5 Networks simboliza uma contradição do mercado de trabalho brasileiro. Apesar dos mais de 13 milhões de desempregados, falta mão de obra qualificada para preencher milhares de vagas.
Sumiram os candidatos, principalmente, para funções nas áreas de recursos humanos, contabilidade, finanças, meio ambiente, engenharia, profissionais de quase todas as áreas da saúde e tecnologia, áreas que hoje, de acordo com o Guia Salarial 2019, da consultoria Robert Half, possuem o maior potencial de crescimento da remuneração.
;Só em TI, o deficit de vagas foi de 150 mil a 200 mil em 2018;, afirma Pietro Delai, gerente de Consultoria e Pesquisa da IDC Brasil. ;Um dos problemas é que não há tanta agilidade no campo do ensino tecnológico. Acredito que falta uma visão mais estratégica;, diz o executivo (leia mais na entrevista abaixo).
Delai afirma que a área de ciência de dados, vital para as estratégias de negócios, está entre as categorias que nem sempre encontram funcionários adequadamente credenciados. Técnicos em redes para conexão de computadores, especialistas em computação em nuvem, além de engenheiros de software, estão entre as maiores carências.
Um levantamento da recrutadora ManpowerGroup mostra que o Brasil possui um dos piores índices de mão de obra não qualificada do mundo. A taxa de escassez de talentos é de 63%, praticamente o dobro da média internacional (36%). A sondagem ouviu mais de 37 mil empregadores de 42 países.
Os caçadores de inteligências apontam basicamente dois itens prejudiciais que fazem com que o Brasil fracasse no ranking: a escassez de profissionais capacitados (83,23%) e a deficiente formação básica (58,08%) são os principais entraves que afetam a escolha dos entrevistados. O estudo se baseou nos dados fornecidos pelas 167 companhias de várias áreas que, juntas, respondem por 23% do PIB brasileiro.
Não por acaso, assim como fez a L5 Networks, as empresas reduzem as habituais exigências, como experiência comprovada, pós-graduação e fluência no idioma inglês, além de proporcionar pacotes de benefícios. Com profissionais menos qualificados, a produtividade cai. De acordo com pesquisas recentes, os brasileiros ineficientes levam o dia todo para produzir aquilo que um americano faria em apenas cinco horas, um alemão em seis e um chinês em oito.
A mão de obra inadequada é tão preocupante que muitas empresas preferem capacitar o profissional depois da contratação, sendo essa a única saída para preencher as vagas disponíveis. Um estudo realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgado no final ano passado, revelou que 81% das empregadoras do país recorrem a essa estratégia. Entre aquelas de grande porte, a taxa é mais elevada e alcança 87%.
Desemprego
Apesar da dificuldade de muitas empresas para preencher as vagas disponíveis, o desemprego continua a ser a grande mazela nacional. Pelos cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), são 5,2 milhões de brasileiros desocupados há mais de um ano. O índice representa 38,9% do total de desempregados do país. Já 24,8% (o equivalente a 3,3 milhões de pessoas) estão sem nenhuma atividade há dois anos ou até mais.
Considerando toda a população, a situação é dramática: a taxa nacional de desemprego saltou a 12,7% no primeiro trimestre de 2019. Assim, atingiu a marca de 13,4 milhões de pessoas em busca de uma nova oportunidade no mercado de trabalho.
Trata-se do pior índice desde maio de 2018. Pior ainda: por enquanto, a frágil retomada não tem sido capaz de reverter esses números. Os jovens entre 18 e 24 anos (27,3%) compõem a faixa mais prejudicada, sempre de acordo com dados oficiais do IBGE. ;A desocupação é expressiva. A qualificação não avança. O que sustenta o mercado é o emprego por conta própria e a informalidade;, diz o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, ao analisar os dados atualizados.