postado em 26/05/2019 04:07
Dados divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) na última semana mostraram que o país criou aproximadamente 314 mil vagas de emprego com carteira assinada de janeiro a abril deste ano. Em comparação ao mesmo período do ano passado, o número foi menor. Nos quatro primeiros meses de 2018, foram geradas quase 337 mil vagas formais.
Segundo o professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Alberto Ramos, as estatísticas de desemprego não vão reduzir de forma significativa até o fim do ano. Para ele, será uma vitória se o país mantiver as taxas atuais. ;A recessão de 2014 a 2016 ainda causa reflexos, e a recuperação da economia continuará se dando de forma lenta, tanto que o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para este ano está estimado em menos de 2%. Por consequência, o mercado de trabalho não terá resultados vigorosos a curto prazo. Portanto, se o desemprego não aumentar até dezembro, estará de bom tamanho;, diz.
O professor sugere que os brasileiros continuem se especializando para serem inseridos no mercado de trabalho, mas, para pessoas que não têm condições de investir na formação profissional, Carlos Alberto aponta o trabalho autônomo como principal alternativa. No entanto, ele alerta que a realidade dos trabalhadores que escolhem fazer a própria renda é mais desafiadora do que a de quem têm carteira assinada.
;O custo emocional pesa, pois a pessoa gasta tempo e dinheiro estudando, imprimindo currículos e indo a entrevistas, para, no final, não ser contratada. Resta a informalidade, que não é uma coisa fácil. Muita vezes, esse trabalhador tem de se adaptar a uma realidade à qual não estava acostumado, para ganhar o mínimo para sobreviver por um período;, analisa.
Costume
O motorista de aplicativo Jeferson Silva, 26 anos, está acostumado com a informalidade. Ele já trabalhou em lava-jato, loja de açaí e até vendeu meias na rua. ;Desde mais novo, eu sempre busquei trabalhar para mim mesmo e não depender somente da empresa privada;, diz.
De qualquer forma, Jeferson já teve carteira assinada. No entanto, a experiência mais recente não foi muito boa. Em outubro do ano passado, ele foi demitido e precisou procurar outras formas para se sustentar e pagar pensão ao filho de cinco anos. Recorreu ao serviço de transporte por aplicativo e também começou a produzir e a vender marmitas na Esplanada dos Ministérios com a noiva, também desempregada.
O bico de vendedor de marmitas foi possível graças a um prêmio. Em janeiro, ele ganhou uma promoção de um supermercado, que lhe concede R$ 1,2 mil todo mês em forma de vale-compras. ;Usamos esse vale para comprar os mantimentos e produzir a marmita;, explica.
Também com 26 anos, Juliana Procópio sente na pele as adversidades do mercado de trabalho, mesmo tendo formação superior, diferente de Jeferson. Juliana procura por um emprego na sua área desde 2017, quando se formou em jornalismo. A última vez em que esteve empregada foi em um estágio. ;Na época, a empresa contratou uma consultoria para cortar custos e as contratações foram suspensas. Com isso, fui uma das cortadas;, relembra.
Segundo ela, o sentimento de não conseguir se inserir na profissão escolhida é de frustração. ;Você estuda tanto, acorda cedo, chega em casa tarde, se alimenta mal para terminar uma graduação, que acaba não te garantindo nada;, lamenta. Para driblar o desemprego e a decepção, ela encontrou no artesanato, que antes era um passatempo, a sua principal renda. ;Comecei fazendo garrafas para o chá de panela de uma amiga e todo mundo elogiou. Como gosto de fazer e tinha tempo livre, passei a produzir para vender. Hoje, consigo pelo menos R$ 400 mensalmente e ajudo os meus pais nas despesas de casa;, conta.
Atualmente, trabalhar com a produção de artigos artesanais, que decoram desde chá de bebês a formaturas, é importante para Juliana tanto financeiramente quanto psicologicamente. ;Eu tenho ansiedade. Ficar sem fazer nada me angustia. Como é um trabalho muito minucioso e que exige concentração, me esforço para ser bem detalhista e fazer algo bem feito. O artesanato é como uma terapia;, reconhece.
;Comecei fazendo garrafas para o chá de panela de uma amiga e todo mundo elogiou. Como gosto de fazer e tinha tempo livre, passei a produzir para vender;
Juliana Procópio, jornalista e artesã