postado em 30/05/2019 05:59
Pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de São Paulo (USP), o economista Paulo Tafner diz que o país precisa fazer o dever de casa para sair do atoleiro em que se encontra. E isso passa, principalmente, pela reforma da Previdência. Ele não poupa críticas ao descontrole dos gastos públicos, o que levou as despesas com o regime de pensões e aposentadorias a crescerem em um ritmo de R$ 50 bilhões por ano. Para ele, o Brasil é uma ;anomalia;, pois gasta muito, como um país rico, mas ainda é pobre e deverá continuar sendo pobre.
;Mais de 50% dos gastos da União são com Previdência, e esse índice passará de 80% em alguns poucos anos. Precisamos fazer nosso dever de casa. O sistema é injusto porque as regras são mais duras para os mais pobres;, avalia. Ele lembra que as empregadas domésticas se aposentam, na média, oito anos depois das patroas. Já os pedreiros deixam o mercado de trabalho 10 anos depois dos empreiteiros. Essa diferença vale também para a aposentadoria dos garis em relação aos prefeitos ou aos parlamentares.
Tafner ressalta que o deficit das aposentadorias dos sistemas público e privado correspondem a 5% do Produto Interno Bruto (PIB), e a tendência é de crescer sem a reforma. ;Estamos cada vez mais perto dos países mais pobres e insistimos em nos comportar como se ricos fôssemos;, frisa. ;O Brasil é uma anomalia, um doente simpático. Mas, sem a reforma da Previdência, quebrará antes de cometer suicídio;, alerta.
Futuro perdido
Como as despesas com a Previdência representam hoje mais de 14% do PIB, Tafner reforça a necessidade da reforma e alerta que não há mais tempo a perder. Mantido o atual sistema de aposentadorias, o Brasil entrará em colapso, pois o bônus demográfico acaba em 2021, segundo ele. ;O Brasil escolheu ficar velho e pobre;, lamenta. O bônus demográfico é considerado um período áureo para qualquer economia, porque há muito mais gente trabalhando do que idosos e crianças.
Só que o país desperdiçou essa oportunidade iniciada nos anos 1960 e não conseguiu melhorar a produtividade. Foram feitas escolhas erradas ao longo das últimas décadas e, agora, se as reformas não forem aceleradas, o restinho desse período benéfico para a economia será totalmente desperdiçado. ;Aproveitamos o bônus com os militares mais populistas, mas o fato é que o populismo custou a crise de inflação (da década de 1980). A produtividade despencou, e já perdemos o bônus. Ele passou e a produtividade não andou. O bônus acaba em 2021 e sepultaremos o caixão de forma definitiva;, diz.
Na avaliação de Tafner, está havendo uma ;revolução silenciosa bombástica; na demografia, porque as mulheres estão deixando de ter filhos, e os idosos estão passando pelo ;milagre da multiplicação;, tanto que, daqui a 40 anos, cada jovem terá ;um idoso para chamar de seu;. Em 2060, haverá 1,6 trabalhador ativo para sustentar quatro inativos do sistema de aposentadoria atual. Em 1980, essa relação era de 9,2 ativos para cada inativo.
;O fato é que não vamos apenas ficar velhos. Vamos envelhecer mais do que os outros países, sobretudo do que nossos concorrentes, e estaremos pobres;, afirma. Por uma simples razão: o processo de envelhecimento da população está mais acelerado no Brasil do que em outras partes do mundo, seja na América Latina, seja Europa e na Ásia. Pelas contas de Tafner, no próximo século, o país estará entre as 10 nações mais envelhecidas do planeta. ;A transição no Brasil está sendo mais rápida do que em outras economias. Em menos de 50 anos, a fatia da população acima de 65 anos passará de 10% para 30% e seremos o 9; país com maior número de idosos do mundo;, alerta.
De mal a pior
Ao comparar o Brasil com nações que aproveitaram o bônus demográfico e conseguiram melhorar a produtividade e enriqueceram, como a Coreia do Sul, o pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Tafner destaca que a produtividade brasileira hoje é inferior às médias de países asiáticos e africanos. Na América Latina, apenas a Venezuela tem produtividade pior que a do Brasil. Esses dados, segundo Tafner, devem ter piorado, porque foram calculados entre 2000 e 2014, ou seja, antes da recessão que ainda não foi embora.
"O Brasil é uma anomalia, um doente simpático. Mas, sem a reforma da Previdência, quebrará antes de cometer suicídio;
Paulo Tafner, pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, da Universidade de São Paulo