Economia

Exaustão do Estado matou a esperança

Excesso de gastos com pensões e aposentadorias provocaram o 'suicídio em slow motion do país'

postado em 30/05/2019 05:59

Fábio Giambiagi


O Brasil tem cometido o ;suicídio em slow motion (câmera lenta);, segundo Fábio Giambiagi, mestre em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e economista do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O especialista afirma que a sociedade, tanto consumidores quanto empresários, sofre com a ausência de perspectivas positivas, dada a ;exaustão do Estado;, provocada, sobretudo, pelos gastos excessivos com a Previdência.

Na prática, significa dizer que o setor público não tem condições de suprir serviços básicos, o que gerou problemas alarmantes no país nos últimos anos. Giambiagi cita como exemplo a greve de policiais nos Espírito Santo, em 2017, por questões salariais. A paralisação resultou na morte de mais de 100 pessoas. Ele lembra ainda as rebeliões prisionais no Norte e Nordeste, que resultaram em assassinatos e escancaram a fragilidade da gestão estatal nos presídios.

A vista grossa na fiscalização das barragens de mineração também culminou no desabamento em uma estrutura em Brumadinho, matando centenas de pessoas. ;Isso tudo tem um denominador comum, que é a exaustão do Estado;, reforça Giambiagi. Para ele, enquanto pessoas conseguem se aposentar com 46 anos de idade, dentro do atual sistema de Previdência, faltam recursos para outras áreas prioritárias.

Não por acaso, o descontentamento da população é enorme. ;Isso gera um quadro de degradação, de deterioração contínua, de ausência de perspectivas, de perdas dos laços de solidariedade, de esgarçamento da sensação de pertencimento, de emigração incipiente;, afirma o economista. ;O dia a dia se torna mais difícil, sombrio, duro e triste para todos;, ressalta.

Desemprego

Na avaliação de Giambiagi, as situações de colapso do Estado estão correlacionadas com o aumento exponencial dos gastos previdenciários, que têm comprimido a aplicação de recursos em outras áreas. ;Grosso modo, um aumento de 5% nas despesas com a Previdência, que corresponde a R$ 30 bilhões, significa reduzir os demais gastos que são sujeitos ao ajuste em um terço. E as despesas da Previdência aumentam a um ritmo 5% de um ano e meio;, explica. Ou seja, cada vez mais há menos espaço para outras áreas;, diz.

Giambiagi alerta também para os números da atividade econômica. A recuperação pós-crise, iniciada em 2014, é a mais fraca da história. Na prática, o Brasil nunca teve tanta dificuldade para retomar o crescimento. Isso está atrelado ao número grande de desempregados e de desalentados, aqueles que desistiram de procurar emprego. No entender dele, o grande desafio do país é conseguir resolver as disfuncionalidades fiscais e implementar uma agenda que retome a confiança e a confiança das pessoas.

;Sem o resgate do otimismo e ânimo nacional, será difícil restabelecer um quadro de crescimento em torno de 3% ao ano. O primeiro passo é aprovar a reforma da Previdência. As despesas com aposentadorias e pensões estão subindo ano após ano, comprimindo os gastos em outras áreas. Qualquer um sabe que não é possível manter isso indefinidamente. O futuro continua envolto em brumas e nós continuamos a conviver em um ambiente de conflitos, em que é difícil responder para onde vai o Brasil;, afirma o economista.

Isso gera um quadro de degradação, de deterioração contínua, de ausência de perspectivas, de perdas dos laços de solidariedade, de esgarçamento da sensação de pertencimento, de emigração incipiente;

Fábio Giambiagi,
mestre em economia pela UFRJ e economista do BNDES

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