Economia

Reforma da Previdência é fundamental para evitar nova crise, diz economista

Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos ressalta que o quadro é crítico e não acredita que o país terá condições de crescer mais de 3% ao ano

postado em 30/05/2019 05:59
Para Solange Srour, quadro econômico do Brasil é crítico

A reforma da Previdência é fundamental para evitar que o país mergulhe novamente em uma crise. Para a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, caso não haja a aprovação de uma proposta eficaz para equilibrar as contas públicas e dar confiança aos investidores, o Brasil voltará para uma profunda recessão. Ela ressalta que o quadro é crítico e não acredita que o país terá condições de crescer mais de 3% ao ano, mesmo após mudar as regras de aposentadorias e pensões.

Isso porque, segundo Solange, o país não tem um ambiente adequado de negócios para atrair aplicações. Solange defende que a agenda para melhorar a economia é ampla e está atrasada. ;Acho que a reforma da Previdência é uma condição necessária para o Brasil crescer. Mas, de jeito nenhum, uma condição suficiente;, defende. ;O Brasil tem um histórico de baixíssima produtividade. O país tem um estoque de capital num nível extremamente baixo pela falta de investimentos. Perdemos o bônus demográfico, período em que população produtiva está crescendo. Os países que tiveram alta produtividade aproveitaram o bônus, fizeram investimento em infraestrutura, tecnologia e inovação. O Brasil não fez isso;, acrescenta.

Solange cita que, do Plano Real, em 1994, até 2016, o Produto Interno Bruto (PIB) por trabalhador cresceu 127% nos países emergentes, enquanto, no Brasil, a taxa foi de 18%. Os Estados Unidos, por sua vez, avançaram 48%. ;Acho que tem algo muito errado com o país e, por isso, precisamos ter uma agenda eficaz, que não é só do governo federal, mas também do Congresso. É um tema extremamente relevante;, argumenta.

A economista elenca uma série de problemas prioritários para serem discutidos após a concretização da reforma. Como o país está atrasado na agenda, quanto mais rápido o Congresso aprovar a proposta previdenciária, melhores serão as chances de adoção de medidas estruturantes. ;Um dos nossos grandes problemas é o crédito. A alocação de recurso no Brasil sempre foi malfeita. O Brasil teve algum avanço significativo com a agenda BC%2b (do Banco Central) e do fim de Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), mas ainda não é uma alocação eficiente. O crédito não é direcionado para os projetos mais produtivos e, sim, para aqueles que os mais oportunistas conseguem vender;, diz.


Bancos

Solange alega que o Brasil concede, anualmente, um volume de crédito enorme, sem eficácia, e impede o crescimento do crédito privado. As condições de acesso ao crédito no Brasil, no Doing Business de 2019, mostrou que são uma das piores do mundo. Ela também destaca que os spreads bancários ; a diferença entre a remuneração que o banco paga ao aplicador para captar um recurso e o quanto cobra para emprestar os recursos ; são elevados.

No entender da economista, o crédito é caro porque a taxa de recuperação é baixíssima. ;Se nos compararmos com outros países, estamos completamente fora da curva nesse quesito e fica difícil para os bancos não cobrarem por isso. Portanto, além de discutir tributos e concorrência bancária, temos que discutir legislação de como recuperar o crédito para baixar o spread;, defende.

Outro problema que também limita a produtividade é a abertura comercial. ;O Brasil é uma economia fechada à importação de tecnologia e à concorrência. A eficiência das empresas é prejudicada por isso. Essa é uma agenda que tem uma parte independente do Congresso e que pode ser tocada pelo governo federal. Isso, porém, não está sendo feito ainda porque o foco está total na Previdência. Na minha opinião, é um problema que tem que ser atacado de forma mais rápida;, avalia Solange.

O Brasil é uma das economias mais fechadas do mundo e não evoluiu significativamente durante as últimas décadas. A abertura terá que ser feita em linha com a simplificação tributária, para não sufocar as empresas brasileiras. O sistema de impostos do Brasil é complexo e gera disputa entre as unidades da Federação. ;Primeiro, temos que acabar com a guerra fiscal entre os estados. O regime tributário é difícil, conturbado e leva a uma ineficiência alocativa absurda;, explica.

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