postado em 31/05/2019 04:05
O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2019 recuou 0,2% em relação ao trimestre anterior, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado foi puxado pelas quedas generalizadas na indústria, na agropecuária e nos investimentos, confirmando que a economia está estagnada, com risco de entrar em nova recessão.
O dado ficou em linha com a mediana das estimativas do mercado. Apesar de o IBGE ter mantido a taxa do PIB do quarto trimestre em 0,1%, o risco de recessão técnica (quando o PIB cai por dois trimestres consecutivos) continua no radar, podendo acontecer ainda neste semestre. Logo, o país segue firme para concluir mais uma década perdida. De 2011 a 2018, o PIB brasileiro cresceu, em média, 0,6%, o pior resultado desde 1901, segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV).
O cenário nada animador do ponto de vista econômico e político fez com que especialistas aumentassem as apostas de que o PIB deste ano não vai crescer mais do que o do ano passado, quando repetiu a taxa de 2017, e avançou apenas 1,1%. As revisões para baixo já começaram e é crescente o número de previsões inferiores a 1% ou até negativas.
;Não podemos descartar a possibilidade de uma retração também no segundo trimestre. Com isso, o segundo semestre precisará apresentar uma recuperação expressiva para garantir um PIB melhor do que do ano passado ou mesmo positivo em 2019. Os riscos são altos;, afirmou a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria.
Luka Barbosa, economista do Itaú Unibanco, também não descartou o risco de uma recessão técnica no primeiro semestre. ;Maio está vindo muito fraco e, pelas nossas simulações, o PIB do segundo trimestre está rodando em 0,1%, com forte risco de ser negativo. A economia precisará acelerar muito no segundo semestre para o PIB ficar em 1%, mas isso não está acontecendo;, lamentou.
Retrocesso
;O resultado do primeiro trimestre fez o PIB voltar ao patamar do primeiro semestre de 2012. Além disso, está 5,3% abaixo do pico do primeiro trimestre de 2014; informou a gerente de Contas Nacionais do IBGE, Claudia Dionísio. Ela preferiu usar o termo ;resultado negativo; para o PIB do trimestre em vez de queda, e ainda fez um alerta sobre a desaceleração do principal motor do crescimento, que cresceu 0,5%, no quarto trimestre de 2018, e perdeu força nos primeiros três meses de 2019. ;O consumo das famílias está perdendo tração e isso preocupa;, disse.
As pressões sobre o Banco Central para que ele reduza a Selic (taxa básica da economia) devem aumentar, mas especialistas alertam que o impacto no PIB deste ano será nulo e tal medida poderá comprometer a credibilidade da autoridade monetária se a reforma da Previdência não avançar como é esperado pelo mercado.
Na avaliação da economista Monica de Bolle, pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics e diretora do Programa de Estudos Latino-Americanos da Johns Hopkins University, as chances de o Brasil ter um PIB negativo neste ano não podem ser descartadas e, para piorar, a tendência é que 2020 tenha uma expansão de, no máximo, 1%. ;Essa é a taxa que o Brasil consegue crescer e o governo não entendeu ainda o que precisa fazer para mudar esse quadro. O PIB não cresce apenas com expectativas;, resumiu ela.
Monica alerta que o Brasil atravessa uma ;estagnação secular;, forma rebuscada de definir a perda de dinamismo da economia no longo prazo. ;Isso é resultado de uma produtividade baixa, que precisa ser resolvida, assim como a baixa taxa de crescimento populacional, que acaba comprometendo o sistema previdenciário;, explicou.
Revisão
Mesmo se houver queda de juros ou novos saques do PIS-Pasep e no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), conforme anunciou ontem o ministro da Economia, Paulo Guedes, o ano de 2019 está perdido na avaliação do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. Ele acaba de cortar de 1,1% para 0,9% a estimativa para o PIB deste ano e manteve a de 2020 em 2%, mas apontou ;riscos crescentes;, como as dificuldades políticas do governo no cenário internacional. ;2019 está de certa forma perdido. O que não se sabe é se o presidente conseguirá aplacar sua instabilidade política nos próximos meses;, resumiu.
;O nosso cenário base está muito incerto e está difícil fazer projeções. Não descartamos um crescimento do PIB neste ano menor do que o ano passado. Tudo pode acontecer, porque a confiança do empresário está diminuindo e o consumo não dá sinais de melhorara, porque o desemprego é elevado e a informalidade está aumentando;, alertou a pesquisadora Luana Miranda, do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre FGV).
O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachisida, justificou o ;pibinho; do primeiro trimestre com as ;políticas equivocadas dos últimos anos; e afirmou que uma reversão vai exigir ;elevado esforço; do governo e da sociedade. ;Tal resultado deixa claro que a economia se depara com importantes desafios;, disse ele ao Blog do Vicente.