Economia

Investimento e poupança caem

postado em 31/05/2019 04:05

O potencial de crescimento do Brasil está encolhendo, reflexo da desconfiança dos investidores na economia do país. Os investimentos estão em queda, e a taxa de poupança bruta do país bateu em 13,9%, o segundo menor patamar desde o início do ano 2000, maior apenas que os 13,8% registrados nos três primeiros meses de 2016. Para os especialistas, sem dinheiro para injetar na economia, vai ser difícil o Brasil retomar o crescimento.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no primeiro trimestre do ano, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que registra a ampliação da capacidade produtiva futura de uma economia por meio de investimentos correntes em ativos, caiu 1,7% em relação ao último trimestre de 2018. Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, houve leve alta, de 0,9%.

Para Claudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria, a incerteza derrubou os investimentos. ;Mesmo que tenha perspectiva de médio e longo prazo, no caso da infraestrutura, até a decisão do investimento ser concretizada leva um ano. Se ocorrer, a virada será só em 2020. Neste ano, vamos repetir o desempenho ruim de 2018;, estimou.

O professor de finanças do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead/UFRJ) Carlos Heitor Campani explicou que os dados refletem o atual momento do país. ;Há uma nova política econômica liberal, porém o país está parado;, disse. ;Com desemprego, as pessoas estão usando a poupança para sobrevivência. E as empresas estão em compasso de espera para investir;, destacou.

Daniel Linger, estrategista-chefe da RB Investimentos, explicou que quanto maior a poupança de uma nação, maior a possibilidade de desenvolvimento. ;Em países como a China, a taxa é de 42% em relação ao PIB. No Brasil, está abaixo de 14%. É uma questão cultural. O brasileiro não poupa. Do lado do setor privado, as empresas queimaram caixa durante a crise;, avaliou.

Relação


O especialista ressaltou que os investimentos são fundamentais para o crescimento. ;Quanto maior a taxa em relação ao PIB, maior a expansão da economia. Para crescer 5% ao ano, o Brasil teria de investir 25% do PIB, mas o patamar é de 15,5%;, lamentou. Segundo Linger, enquanto o cenário for de incertezas, os empresários não vão investir, porque há muita capacidade ociosa por conta da crise.

A baixa taxa de investimento em relação ao PIB é responsável pela fraqueza da economia, na opinião de André Muller, economista da AZ Quest. ;Caiu de quase 21% em 2014 e não há nenhum sinal de que vai decolar. Olhando para frente, o que pode ajudar é um cenário político mais positivo e clareza sobre a reforma da Previdência;, avaliou. Segundo ele, depois de vários anos investindo pouco, as empresas precisam destravar. ;Mas, se o cenário continuar tumultuado não dá para esperar melhora;, estimou.

Luana Miranda, pesquisadora da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), lembrou que com as contas desequilibradas, o governo não consegue poupar para investir. ;Além disso, as famílias também não conseguem guardar dinheiro, porque estão apelando para a informalidade para pagar as contas;, afirmou. O pequeno aumento de 0,9% em relação a 2018, segundo ela, indica o compasso de espera. ;Quem acredita que as reformas vão acontecer está preparado para investir.;

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