Economia

Mercado imobiliário: com demanda firme, construção quer crescer 15%

Retração de 0,2% da economia brasileira no primeiro trimestre não desanima o setor, que registrou avanço de vendas e lançamentos, além de expansão de financiamentos

Correio Braziliense
postado em 03/06/2019 06:00 / atualizado em 08/10/2020 13:42
'As construtoras esperavam que, passadas as incertezas de 2018, a agenda de reformas seria tocada com prioridade, a economia embalaria e o primeiro trimestre seria melhor'  José Carlos Martins,  Presidente da Cbic
São Paulo — O desempenho da economia brasileira neste ano tem sido decepcionante para muitos setores, mas nem todas as notícias são negativas. Um dos mais importantes geradores de emprego e riqueza no país, o mercado imobiliário dá sinais claros e consistentes de crescimento, tanto em vendas quanto em lançamentos de empreendimentos.

Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), o número de contratos para aquisição de imóveis residenciais avançou 9,7% nos três primeiros meses do ano na comparação com o mesmo período de 2018. Foram vendidos 28,7 mil imóveis, ante 26,1 mil de janeiro a março do ano anterior. Já o total de lançamentos no mesmo trimestre registrou alta de 4,2%, com 14,7 mil unidades em todo o país.

Embora o aparente descolamento entre a indústria da construção e a economia como um todo seja motivo de festa para as empresas do setor, a comemoração está sendo discreta. É consenso que uma eventual demora na recuperação da atividade econômica, em razão de atrasos na aprovação das reformas, pode comprometer a performance do setor imobiliário nos próximos meses.

“O resultado é positivo e, sem dúvida, deve ser comemorado, mas, dada a queda que o setor enfrentou durante a recessão, a fraqueza do mercado no ano passado e a esperança de que a eleição reduzisse as incertezas, a expectativa era de que as vendas estivessem crescendo acima de 15%”, diz José Carlos Martins, presidente da Cbic. “As construtoras esperavam que, passadas as incertezas de 2018, a agenda de reformas seria tocada com prioridade, a economia embalaria e o primeiro trimestre seria melhor.”

Embora com cautela, a previsão é de crescimento robusto para o setor neste ano. A Cbic estima aumento de 10% a 15% nas vendas no fechamento de 2019, puxado pelo segmento de imóveis de médio e alto padrões, no qual as moradias são financiadas por fundos que utilizam recursos da poupança.

Os números endossam essa perspectiva. Os financiamentos imobiliários com recursos das cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) atingiram R$ 5,77 bilhões em abril último, expansão de 2,2% em relação ao mês anterior e de 40,3% perante abril de 2018.

No primeiro quadrimestre de 2019, foram aplicados R$ 21,4 bilhões na aquisição e construção de imóveis com recursos do SBPE, elevação de 39,7% em relação ao mesmo período do ano passado. No acumulado de 12 meses (maio de 2018 a abril de 2019), os empréstimos de R$ 63,5 bilhões para aquisição e construção de imóveis com recursos do SBPE asseguraram elevação de 40,2% frente ao apurado nos 12 meses anteriores.

No segmento do programa Minha Casa, Minha Vida, de subsídio a moradias populares, que contam com financiamento por meio de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o ritmo dos contratos deve permanecer estável, considerando que o orçamento do fundo ficou estagnado do ano passado para cá. “Quem vai puxar o crescimento é a habitação de mercado médio e alto padrão”, diz o presidente da Comissão Imobiliária da CBIC, Celso Petrucci.

Baixa renda 


Isso não significa que os segmentos de imóveis populares ficarão fora do cenário de recuperação. Prova disso é a mineira MRV Engenharia, maior construtora da América Latina e líder nesse segmento. Os lançamentos da empresa cresceram 35,9% no primeiro trimestre na comparação com igual intervalo do ano passado, com R$ 1,094 bilhão.

De janeiro a março deste ano, as vendas líquidas aumentaram 6%, para R$ 1,309 bilhão. “Nosso primeiro trimestre foi muito bom”, diz o copresidente da MRV, Rafael Menin. “Gostaríamos de ter começado o ano pisando no acelerador, mas deixamos de reconhecer um volume grande de vendas por conta de atrasos no processo de repasses e na contratação de financiamentos à produção decorrentes da transição de governo.”

De acordo com Menin, o principal banco com atuação no Minha Casa, Minha Vida, a Caixa Econômica Federal realizou poucos repasses até fevereiro. E como a MRV pratica o modelo de venda garantida, na qual operação é registrada somente após o repasse, parte do que foi vendido não foi contabilizado dentro do trimestre.

“Estamos mais otimistas com o segundo trimestre e esperamos um primeiro semestre melhor do que o mesmo período do ano passado. Vamos lançar mais e produzir mais do que no ciclo anterior”, garante Menin. No primeiro trimestre, a MRV produziu 9.880 unidades, com alta de 24,1%, na comparação anual. Assim como a MRV, algumas empresas estão enxergando, em seus números, a melhora do setor imobiliário. “Dobramos o número de imóveis vendidos entre janeiro e abril, em relação a 2018. A expectativa era triplicarmos, mas foi um resultado expressivo”, afirma Marcos Bigucci, da construtora M.Bigucci, sediada no ABC Paulista. “Reconheço que o ano não começou tão bem como esperávamos, mas acredito que estamos no caminho certo.”

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação