Agência Estado
postado em 11/06/2019 17:27
A tendência para o crédito no País é andar de lado sem crescimento da economia e recuperação do emprego, de acordo com o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari. Apesar disso, segundo o executivo, o banco descarta revisar os guidances deste ano. O Bradesco espera que o crédito cresça entre 9% a 13%.
"Todas as casas acabaram revendo as projeções do PIB para baixo. Se o País não cresce, a economia não cresce, o emprego não se recupera, a tendência do crédito é andar de lado", disse o presidente do banco, que participou nesta terça-feira do Ciab, tradicional feira de tecnologia bancária, promovida pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Para reverter esse cenário, o Bradesco tem focado em linhas com mais probabilidade de crescimento, especificamente, na pessoa física. Estão na mira do banco as modalidades de consignado, com desconto em folha, imobiliário, crédito pessoal e para a compra de veículos. "São carteiras nas quais dá para crescer, sobretudo, com segurança. No resto das operações, sobretudo para pessoa jurídica, crescimento vai ficar bem baixo", acrescentou Lazari.
Em relação ao segundo semestre, o presidente do Bradesco disse que, se acontecer de fato, a reforma da Previdência, com aprovação entre o final de julho começo de agosto, pode beneficiar o último trimestre do ano. "Se isso acontecer, acredito que podemos ter uma recuperação de crédito no último trimestre do ano", disse ele, que acrescentou: "O primeiro trimestre foi fraco (em demanda para crédito) e o segundo também está fraco."
Sobre o openbanking, que vai permitir o compartilhamento de informações de clientes com concorrentes, Lazari disse que o cronograma, que tem início no segundo semestre do ano que vem, é ousado. Apesar disso, internamente o banco tem feito a lição de casa e espera oferta produtos financeiros e não-financeiros a partir de parceria com concorrentes e fintechs.
CSLL
O presidente da Bradesco afirmou que os bancos vão pedir a manutenção da contribuição social sobre o lucro líquido (CSLL) em 15%, mas que estão dispostos a colaborar com a situação fiscal do País caso seja elevado para 20%. O tributo foi aumentado para 20% em 2015, mas a alíquota deixou de vigorar no final do ano passado.
Agora, o Congresso cogita voltar a elevar a CSLL para as instituições financeiras. "Não é por causa da reforma da Previdência. Pode acontecer. Não tem problema. Nós vamos cumprir", disse Lazari.
Segundo ele, não há uma mobilização entre os bancos para barrar o possível aumento do tributo, mas o setor vai pedir que se mantenha em 15%, como tratado no passado. "Temos disposição em colaborar como já fizemos no passado", acrescentou.
Sobre o encaminhamento da reforma tributária em paralelo à da Previdência, Lazari afirmou que é positivo. "A simplificação tributária e fiscal e a independência do Banco Central têm de andar. Essa agenda tem de ser preparada junto com a reforma da Previdência, que está caminhando", destacou.
O executivo disse que espera que a reforma da Previdência passe entre o final de julho e agosto para que em setembro o País já consiga andar com essa outra agenda no Congresso - de simplificação tributária e fiscal e independência do Banco Central. "Seria bom ter esses assuntos todos discutidos até o final deste ano para começar 2020 com uma perspectiva totalmente diferente", afirmou Lazari.
Conversas de Moro
O presidente do Bradesco disse também que o vazamento de mensagens do aplicativo Telegram atribuídas a procuradores da força-tarefa da Lava Jato, entre eles Deltan Dallagnol, e o então juiz Sérgio Moro, atual ministro da Justiça e Segurança Pública, não deve atrapalhar a aprovação da reforma da Previdência e o andamento da pauta econômica.
"Uma coisa é a pauta econômica, de reforma da Previdência, que o Congresso tem que estar focado porque é imprescindível para o País", disse ele, a jornalistas, após participar do Ciab Febraban.
Segundo ele, a reforma da Previdência é o abre alas de uma série de outras reformas como a independência do Banco Central e a simplificação tributária e "não tem nada a ver com isso que está acontecendo".
"O foco do Congresso, de (Davi) Alcolumbre, presidente do Senado, de (Rodrigo) Maia, presidente da Câmara dos Deputados, e do próprio presidente (Jair Bolsonaro) tem de ser passar a reforma da Previdência independentemente de outros assuntos", acrescentou Lazari.