O ressurgimento das tensões políticas domésticas fez com que investidores corressem ao dólar em busca de proteção ao longo da tarde desta sexta-feira (14/6). Já em alta pela manhã em meio a um movimento global de fortalecimento da moeda americana, o dólar acelerou à tarde após declarações duras do ministro da Fazenda, Paulo Guedes, sobre o parecer da reforma da Previdência apresentado na quinta-feira na comissão especial da Câmara. Com máxima de R$ 3,9136, o dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira em alta de 1,15%, a R$ 3,8991 - maior valor de fechamento em junho. Apesar de terminar a semana com alta de 0,57%, a moeda americana ainda cai 0,67% no acumulado do mês.
Em conversa com jornalistas no Rio, Guedes disse que, com seu parecer, o relator da Previdência, deputado Samuel Moreira, abortou a Nova Previdência e cedeu ao "lobby dos servidores públicos" com alteração das regras de transição. O ministro também criticou o aumento de alíquotas da Contribuição sobre Lucro Líquido (CSLL) sobre bancos e a possibilidade de que os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) deixem de ser repassados ao BNDES e passem a engordar os cofres da Previdência.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, até então visto como interlocutor preferencial de Guedes no Congresso, saiu em defesa do relator e disse que Guedes não está sendo justo com o parlamento, que estaria "comando sozinho a articulação pela aprovação da reforma". Para Maia, o governo é "uma usina de crises" e que "Guedes falhou" ao não respeitar o parlamento. Maia vendeu a imagem do Congresso como fiador da reforma da Previdência em meio a atuação errática do governo Jair Bolsonaro e garantiu que a PEC vai ser votada no plenário da Câmara antes do recesso parlamentar em julho, o que pode ter ajudado a tirar pressão compradora do dólar.
Há temores de que um confronto entre Guedes e o parlamento leve a uma diluição maior da reforma da Previdência no plenário da Câmara. Um divórcio entre governo e Congresso também lança dúvidas sobre o restante das reformas e abala a confiança dos investidores, justamente em um momento em a economia brasileira flerta com a recessão. O Banco Central (BC) divulgou pela manhã que seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) caiu 0,47% em abril em relação a março e aumentou a pressão por uma redução de juros.
Para o gerente de Câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, os ruídos políticos podem levar investidores a buscar hedge e elevar posições compradas (que ganham com a alta do dólar) no curto prazo. "Aparentemente não vamos voltar a ver o dólar subir para R$ 4, mas pode haver uma volta da busca por proteção, empurrando a cotação para a casa de R$ 3,90", diz Galhardo.
Além da volta do espectro da crise política, o real também foi abalado nesta sexta-feira pela alta global da moeda americana, após dados mais melhores que o esperado da economia dos Estados Unidos, como vendas no varejo e produção industrial, jogarem dúvida sobre um corte iminente dos juros pelo Federal Reserve. O índice DXY - que mede o desempenho da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes - subiu mais de 0,5% e atingiu o maior patamar em mais de duas semanas. O dólar também avançou em relação à maioria das divisas de países emergentes e exportadores de commodities, embora tenha caído na comparação com o peso mexicano, considerado par do real.