Economia

23% sem renda de emprego

Pesquisa do Ipea mostra que de janeiro a abril, a sobrevivência em quase um quarto dos domicílios do país vinha de fora do mercado formal. De acordo com o levantamento, mulheres são as que mais sofrem com desocupação. Trabalho intermitente avança

postado em 19/06/2019 04:16
Bruno Cena está sem carteira assinada há seis anos e hoje vive como camelô para pagar as contas

O mercado de trabalho segue deteriorado no país, com altos contingentes de desocupados, desalentados e subocupados. Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que, no primeiro trimestre deste ano, quase um quarto (22,7%) das residências no país não tinham nenhum tipo de renda proveniente do trabalho. Fora isso, o percentual de desempregados por dois anos ou mais cresceu 42,4% nos últimos quatro anos. Segundo o Ipea, passou de 17,4%, de janeiro a março de 2015, para 24,8% no mesmo período deste ano.

As pessoas com mais de 40 anos, de acordo com o levantamento, estão no grupo dos que mais sofrem com a crise de emprego no país. Correspondem a 27,3% dos desocupados. É o caso de Bruno Cena, 43, que não tem carteira assinada há seis anos. Desde que foi demitido do cargo de auxiliar de cozinha, vai diariamente à Agência do Trabalhador em busca de uma fonte de renda. Casado e pai de dois filhos, ele reclama que a vida está ;cada vez mais cara;. ;Tive que virar camelô para conseguir sustentar minha família, mas a renda ainda não é suficiente. Como minha mulher também está desempregada, precisei cortar muitos gastos e, agora, vivemos da rua;, conta.

Altair Nascimento, 56, perdeu as esperanças de voltar a trabalhar. ;Eu era porteiro e segurança de condomínio, mas fui demitido há dois anos. Mesmo sendo aposentado, isso afetou muito minha renda, porque o benefício não cobre aluguel, água, luz, pensão, escola, roupas e alimentação;, disse. Mesmo morando sozinho, ele precisa pagar pensão alimentícia para seus dois filhos. ;É muito difícil arrumar trabalho na minha idade, então acabo pegando qualquer bico para sobreviver;.

Ainda de acordo com o estudo, as mulheres predominam entre os desempregados de longo prazo. Enquanto os homens representam 20,3% dos desocupados há mais de dois anos, elas representam 28,8% do total. Em segundo lugar, estão as pessoas com mais de 40 anos, com um percentual de 27,3%.

A pesquisadora do Ipea Maria Andreia Lameiras explica que essa diferença entre homens e mulheres se dá principalmente por causa da dupla jornada atribuída à mulher. ;Quando se compara um homem e mulher com mesmas características e experiências, vimos que a contratação do homem é privilegiada, porque a mulher tem uma dupla jornada e questões como maternidade e licenças.;

A eficácia da reforma trabalhista também foi analisada pelo Ipea. O levantamento mostrou que, das 507.140 vagas criadas de novembro de 2017 a abril deste ano, 58.630 foram na modalidade intermitente ; contrato no qual a prestação de serviços não é contínua. Outras 19.765 foram postos com contrato parcial ; que permite um horário de trabalho menor com ganho proporcional. Para Maria Andreia, apesar de a reforma ter gerado mais empregos, o mercado de trabalho permanece depreciado. ;Não podemos julgar ainda se a reforma foi positiva ou não, porque não temos um mercado funcionando a todo vapor;, afirmou.

* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira


  • Domingos

    O governo editou ontem a Portaria n; 604, que libera o trabalho aos domingos e feriados. O documento, assinado pelo secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, deverá ser publicado no Diário Oficial da União de hoje. Estão contemplados 78 ramos de atividade. Mas é no setor de serviços, especialmente no comércio, que a medida terá seu maior impacto. Hoje, há restrições para o trabalho aos fins de semana e em feriados. Pela portaria, aqueles que quiserem poderão trabalhar todos os domingos, com folga em qualquer dia da semana. Para Paulo Solmucci, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), a portaria retira as amarras para a contratação de mão de obra .

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