Thaís Moura*
postado em 25/06/2019 18:41
Por conta das variações cambiais e do aumento em taxas de juros internacionais, brasileiros estão gastando cada vez menos com viagens ao exterior. Conforme informou o Banco Central, nesta segunda-feira (24/06), os brasileiros gastaram, em maio deste ano, um total de US$ 1,417 bilhão em viagens internacionais, valor inferior ao de abril, quando os gastos foram de US$ 1,493 bilhões. Em relação às despesas do mesmo mês de 2018 (US$ 1,615 bilhão), o valor teve uma queda de 8,9%, segundo o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha.
Dessa forma, a conta de viagens internacionais voltou a registrar déficit. No mês passado, a diferença entre o que os brasileiros gastaram lá fora e o que os estrangeiros desembolsaram no Brasil (US$ 418 milhões) foi de um saldo negativo de US$ 1,053 bilhão. No mesmo período de 2018, o déficit nessa conta foi de US$ 1,187 bilhão. Para Fernando Rocha, essa redução está ;intimamente ligada a desvalorização cambial ocorrida no período". "O valor médio da taxa de câmbio, em maio deste ano, foi de R$ 4,00 por dólar. Já em maio de 2018, foi de R$ 3,64. Isso significa uma desvalorização nominal de 10% sobre o câmbio, o que torna mais cara a despesa no exterior", justifica Rocha.
Segundo o chefe do Departamento de Estatísticas, em junho até o dia 19, as despesas líquidas de brasileiros no exterior somam US$ 761 milhões. O valor é resultado da diferença entre os gastos brutos de US$ 994 milhões dos brasileiros em outros países e as receitas brutas de US$ 232 milhões obtidas com estrangeiros em viagem pelo Brasil.
Durante o último ano, Julia Carvalho, de 21 anos, sentiu no bolso a variação do dólar. A jovem, que se mudou para Washington (EUA) com a família no fim de 2018, conta que seus gastos no exterior reduziram significativamente em comparação a outras viagens internacionais. "Quando cheguei aqui, todo dinheiro que eu tinha era em real, então até hoje, em toda compra, calculo o custo disso no Brasil. Como o dólar já estava acima de R$ 3,50, e só aumenta, venho gastando bem menos com comidas, bebidas, saídas e transporte", relata Julia.
Além das variações do dólar, a jovem, atualmente desempregada, explica que os preços de alguns serviços e produtos, nos EUA, ainda superam os do Brasil. "Em uma saída básica, você gasta em torno de US$ 25, o que daria R$ 100 no Brasil. As passagens de transporte são uns US$ 2, o que seria R$ 8. Em viagens anteriores, para os EUA e outros países, gastei muito mais do que em um mês aqui porque tudo estava bem mais barato e o dólar era metade do que é hoje em dia", afirma Julia. Ela também ressalta que os valores tendem a ser maiores em cidades grandes internacionais: "Em Washington, San Francisco e Nova Iorque as coisas são mais caras do que no resto do país".
Já Pedro Costa, servidor público de 38 anos, após ter muitos gastos indesejados no exterior, trocou as férias na Disney, em Orlando (EUA), pelas praias nordestinas. "Minha última viagem internacional foi em abril de 2018, quando o dólar estava em R$ 3,30, aproximadamente. Pretendia viajar de novo para Orlando em dezembro, mas o dólar subiu para R$ 4, a passagem aérea ficou muito cara, os passeios, refeições e hospedagem também, na cotação do dólar. Fiz as contas e vi que economizaria viajando no Brasil. Decidi, então, ir para o litoral de Alagoas", diz o servidor. "Acabei gastando mais ou menos um quinto do que gastaria nos EUA só com passagens e hospedagem".
O agente de viagens e gerente da agência Brasília GoTrip, Leonardo -cujo sobrenome não foi revelado-, relata que, devido os altos custos para o exterior, a compra de passagens e pacotes internacionais caiu, em média, 25%, no último ano. ;Como o dólar está alto, e não para de variar, as pessoas estão optando com viagens com tudo incluso, como Cancun, cruzeiros e praias;, esclarece Leonardo. ;O ponto para se gastar menos no exterior, principalmente nos EUA, é economizar em compras. Acredito que seja isso que está acontecendo agora;.
Outro fator que influencia nos gastos de brasileiros com viagens ao exterior são as taxas de juros internacionais, que, segundo Fernando Rocha, estão maiores do que as de 2018. "As reservas internacionais de maio acumularam receitas de juros de US$ 645 milhões, o maior valor desde maio de 2011. Com aumento das taxas de juros do mercado internacional, as reservas passaram a ser remuneradas por uma taxa maior, e isso se expressa em uma maior taxa de juros", esclarece. Como divulgou o BC, as despesas com juros externos somaram US$ 775 milhões em maio, ante US$ 1,102 bilhão em igual mês do ano passado.
Dívida externa
O BC ainda divulgou, nesta segunda (24), estatísticas referentes às contas externas do país no último mês. Após o déficit de US$ 62 milhões em abril, o resultado das transações correntes ficou positivo, em US$ 662 milhões. No acumulado do ano até maio, o rombo nas contas externas soma US$ 7,576 bilhões. Já nos 12 meses até maio deste ano, o saldo das transações correntes está negativo em US$ 13,923 bilhões, o que representa 0,75% do Produto Interno Bruto (PIB). A projeção da instituição para o saldo da conta corrente do país em junho é de um déficit de US$ 2,5 bi.
Apesar disso, houve aumento do déficit da conta de serviços, de US$ 2,733 bilhões em maio de 2018 para US$ 2,989 bilhões em maio deste ano, devido ao aumento nos gastos com equipamentos. Ainda de acordo com Rocha, é de se esperar superávits ou déficits menores no mês, por conta da sazonalidade. "Os produtos agrícolas têm sazonalidade mais favorável, por conta da exportação a outros países, que ajuda a conta corrente", constata.