Thaís Moura*
postado em 27/06/2019 16:17
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) do mês de junho teve uma significativa queda em relação a maio. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) divulgou, nesta terça-feira (25/06), a prévia para o indicador de 0,06%, depois de registrar 0,35% no mês anterior. Segundo o IBGE, essa é a menor taxa para junho desde 2006, quando o IPCA-15 estava em -0,15%. O IBGE ainda justifica o percentual como resultado da deflação de -0,64% nos preços de alimentos e bebidas, que têm os maiores pesos na composição do índice, e da queda de 0,67% nos combustíveis, depois de aumentarem 3,3% no mês passado.
"Com a safra agrícola, os preços de alguns produtos importantes do grupamento alimentação no domicílio recuaram, o que contribuiu para a deflação de 0,64%. Destaque para feijão-carioca (-14,99%), tomate (-13,43%), feijão-mulatinho (-11,48%), batata-inglesa (-11,30%), feijão-preto (-8,84%) e frutas (-5,25%)", explica o IBGE. "Enquanto a gasolina desacelerou de 3,29% em maio para 0,10% em junho, o etanol passou de uma alta de 4% para uma queda de 4,57%, no mesmo período. No entanto, um item do grupo dos Transportes foi no sentido oposto e exerceu o maior impacto positivo (0,06 ponto percentual) sobre o IPCA-15 de junho: as passagens aéreas, que subiram 18,98%".
Em contraponto aos combustíveis e alimentos, os artigos de residência, educação e comunicação tiveram taxas maiores em junho. Em maio, os três grupos tiveram percentuais de -0,63%, 0% e -0,04%, respectivamente. Porém, neste mês, os valores aumentaram para 0,01%, 0,09% e 0,04%. A previsão de especialistas para a inflação cheia de junho não se distancia muito da prévia divulgada hoje. Apesar dos dados do IBGE sugerirem uma redução nos preços de alimentos e combustíveis, os consumidores não notaram grande diferença em relação aos meses passados.
A professora Adriana Tosta, de 46 anos, reclama que precisou reduzir as compras para arcar com os custos nas últimas semanas. ;Só vi os preços aumentarem no último mês, e o salário que é bom, nada. Não tenho como fazer nenhum tipo de economia, então venho diminuindo a quantidade de coisas que compro, não apenas no mercado, mas em lazer, tudo. Quando quero gastar menos, também compro em atacadão, em grande quantidade, porque os preços costumam ser mais em conta;, conta. ;De acordo com nossa política atual, acho difícil o preço de qualquer coisa abaixar. A gasolina, por exemplo, abaixou há algumas semanas, mas já aumentou tudo de novo!”.
Jotacy, de 59 anos, também não acredita em uma possível deflação no mês. O analista de sistemas, cujo sobrenome não foi revelado, se indigna com os dados divulgados pelo IBGE. ;Eu só vejo os preços de alimentos e gasolina subindo todos os dias. Sempre que venho ao mercado, gasto mais do que gastei no mês anterior, não tem jeito. O que eu percebo é que essas pesquisas do governo fazem a maior propaganda quando acontece uma pequena redução nos preços, para em seguida, aumentar tudo de novo;, reclama Jotacy, que, mesmo fazendo pesquisas de preços com frequência e diversificando os mercados que frequenta, não consegue encontrar alimentos e produtos em conta.
Previsões
Carlos Thadeu Filho, economista-chefe da Ativa Investimentos, prevê uma deflação -queda nos preços- de 0,02% para o mês de junho, diferente da prévia do IPCA-15 divulgada hoje. Para ele, a inflação realizada foi menor em bens e serviços, e maior em administrados -como combustíveis- e produtos não-duráveis, principalmente em produtos de higiene pessoal. "Nossa avaliação é que o resultado de junho foi qualitativamente melhor, pois a queda em serviços foi bem disseminada. Essa variação gera um número em 12 meses em 3,40% e 3,35%, o que é compatível com uma inflação de serviços bem comportada", esclarece, em nota. O especialista projeta, para junho, julho e agosto, respectivamente, uma inflação de -0,02%, 0,13% e 0,06%. Para o ano, sua projeção é de 3,68%.
Já o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, projeta, para junho, uma inflação no mesmo patamar que o divulgado pelo IBGE, de 0,06%. Para o ano, ele prevê uma inflação de 3,85%. Apesar de ver os novos indicadores do mês como positivos, o especialista ressalta que o baixo percentual de inflação demonstra uma fraqueza maior na economia brasileira. ;Derivada do choque benigno do grupo alimentação, e por conta de preços administrados, a inflação vem caindo justamente porque a economia está indo mal no país. É bom que ocorra essa queda, mas reforça nossa fraca atividade econômica;, esclarece.
O professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), José Luís Oreiro, acredita que os novos números são uma demonstração de que ;não existe pressão inflacionária latente na economia brasileira, devido ao enorme grau de ociosidade dos fatores de produção, como capital e trabalho;. ;A tendência é que a inflação fique em patamares muito baixos. Em maio e abril esse indicador subiu por fatores pontuais, como a bandeira amarela das tarifas de energia, e problemas de clima que aumentaram os preços em alimentos;, afirma o professor.
Ele ainda ressalta que os preços de alimentos, combustíveis e energia dependem de fatores não relacionados diretamente a atividade econômica, mas sim de condições climáticas, hidrológicas e de reservatórios e usinas hidrelétricas. ;Se nada for feito no nível de atividade econômica nos próximos meses, iremos entrar em deflação;, constata o especialista.