postado em 28/06/2019 04:05
São Paulo ; Quem acreditava que a volatilidade das ações nas bolsas de valores no mundo todo era o máximo de adrenalina que os investidores poderiam sentir não conhecia o bitcoin (BTC). A mais famosa das criptomoedas chegou a valer, na quarta-feira, a impressionante cifra de US$ 13,8 mil, maior valor registrado em 2019, alta de 230% desde o começo do ano.
No dia seguinte, porém, a moeda virtual derreteu 10% em poucos minutos, uma queda de quase US$ 2 mil. A cotação caiu a US$ 11,9 mil em menos de uma hora, de acordo com a Refinity data, e voltou a suscitar dúvidas sobre a sustentabilidade da moeda. ;Está muito claro que o bitcoin é para quem está preparado para enfrentar fortes variações, sendo uma aposta de altíssimo risco;, disse o diretor de estratégia de crédito do Deutsche Bank, Jim Reid, em entrevista à CNBC.
As recentes altas, seguidas por fortes quedas, têm sido alimentadas principalmente pelo anúncio da libra, a criptomoeda liderada pelo Facebook, na última semana. Além disso, a guerra comercial travada entre os Estados e a China, com possíveis mudanças nas regras de mineração da criptomoeda, também são fontes de incertezas. ;Até mesmo os mais otimistas diziam que um movimento de valorização de 50% em uma semana era rápido demais;, afirmou Michael Moro, presidente da Genesis Global Trading. ;Era natural que um salto desse tamanho, em um pequeno intervalo de tempo, não iria se sustentar.;
Já o cofundador da Fundstrat Global Advisers, Thomas Lee, acredita que a volatilidade do bitcoin comprova a tese de que se trata de um investimento de longo prazo, e que não deve ser explorado como ativo de retorno rápido para investidores amadores. ;O Bitcoin é um ativo hipervolátil. Para a maioria dos investidores, o mais apropriado é ter uma visão de longo prazo;, disse ele.
Como não poderia ser diferente, voltaram a crescer as especulações de que a valorização é uma bolha. ;O atual aumento de preço do bitcoin reúne muitas pessoas com medo de perder uma grande oportunidade de ganhar muito dinheiro. Mas comprar bitcoins ainda é semelhante a uma aposta;, disse a economista Michelle Singletary, colunista do jornal americano Washington Post. ;É preciso ter em mente que essas bolhas estouram.;
A montanha-russa na cotação da moeda virtual está preocupando os bancos centrais. Como sabem que não podem proibir ou ficar de fora de um caminho sem volta da digitalização do dinheiro, a maioria dos BCs está desenvolvendo suas próprias criptomoedas. Segundo pesquisa elaborada pelo Bank for International Settlements (BIS), 70% dos bancos pesquisados já começaram a trabalhar em um Central Bank Digital Currency (CBDC, ou ativos digitais de bancos centrais) ou estão considerando a implementação e desenvolvimento de ativos digitais. A pesquisa mostra que 50% dos bancos disseram que já estão em um estágio de prova de conceito em seus empreendimentos no criptomercado.
O BIS é uma instituição comandada por diversos bancos centrais de todo o mundo e tem como foco principal providenciar uma melhor cooperação financeira e monetária internacional. De acordo com as informações publicadas, 63 bancos centrais participaram da pesquisa do BIS. Essas 63 instituições financeiras representam jurisdições que cobrem mais de 80% da população mundial. Os bancos que responderam à pesquisa têm mais de 90% da produção econômica mundial.
O Banco Central Europeu tem sido um dos mais agressivos nas críticas às criptomoedas. A instituição está semanalmente alertando sobre os riscos de se investir nelas. No fim do ano passado, o vice-presidente, Vitor Constancio, chegou a comparar o bitcoin às tulipas holandesas do século 17, responsáveis pela primeira bolha registrada na história econômica.
Nessa mesma linha, a China deixou claro que quer ter total controle sobre as criptomoedas. Reprimiu as exchanges e os ICOs e fala em emitir uma criptomoeda oficial do governo chinês. Enquanto isso, o presidente do Banco Central japonês, Haruhiko Kahoda, declarou que não há data definida, mas que existem estudos para se lançar uma moeda digital no país.