Uma das reclamações que o presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) mais escuta é de que a associação se distanciou das bases ; as etnias dispersas por todo o município. Marivelton Barroso, Baré, tem um caminho delicado pela frente. Precisa promover uma reaproximação se quiser proteger a tradição e garantir o desenvolvimento das comunidades rio-negrinas. Tem de orientar e cobrar do governo a criação de políticas públicas de educação e saúde adequados à linguagem e a cultura dos povos.
Com a disputa por protagonismo entre lideranças indígenas tradicionais ; representada de um lado pela Foirn e, de outro, pelos cooperativistas, mais jovens e, em sua maioria, partidários de Jair Bolsonaro ;, qualquer erro do lado da federação a distanciará dos rivais. Isso porque Marivelton não encontra respaldo no governo para as ações, o que enfraquece a associação. ;O município precisa buscar políticas públicas voltadas para o risco social, como droga e alcoolismo, e isso não tem acontecido. Fizemos um plano diretor para a cidade, discutido com as comunidades há 10 anos, e nunca foi implementado. Falta prioridade;, queixa-se.
Do outro lado, José Lucas Lemos Duarte, da etnia Tukano, garante representar 14 comunidades. Ele não é o único na luta para criar uma cooperativa de extrativismo na região, e ecoa o discurso de Bolsonaro, de que as comunidades não querem ;atravessadores; ; no caso, as ONGs e a Foirn ; na hora de dialogar com o governo. ;Não estamos felizes, pois não somos protagonistas das nossas políticas públicas. Nos últimos cinco anos, sofremos transição alimentar. Comíamos muito mais da natureza. Agora, é comida industrializada. O índio pega sete dias de barco para receber o Bolsa Família. Está na hora de buscarmos um caminho de independência;, diz. A saída, na visão de Lucas, seria a Cooperativa Indígena de Extrativismo de Recursos Naturais e Minerais e organizações semelhantes. Embora os partidários da ideia falem muito de minérios, incluindo o nióbio, ele garante que não se trata somente de escavar terras indígenas demarcadas.
A reportagem procurou, no município e por telefone, o prefeito Clóvis Saldanha, para que ele comentasse a ausência de políticas públicas e as disputas políticas da região. Mesmo com mais de uma semana de prazo, a equipe do Correio não obteve uma resposta. (LC)