Economia

Um comércio conectado

postado em 30/06/2019 04:20
Seu Júlio, ao lado do filho Josinei, vende crédito de celular para o cliente Nilo



Ascendino José da Silva, 63, e Maria da Rocha Silva, 61, são donos da A.J. Silva Magazine, um dos três únicos comércios que têm máquina de cartão em São Braz. Ascendino sempre foi dono de mercados, mas começou como comprador de feijão. Passava de bicicleta pelas propriedades para adquirir o produto e revendê-lo. ;O real melhorou muito a nossa vida. Aquele negócio de URV era um terror, tomara que não volte nunca mais. Só que, ao longo do tempo, a moeda foi perdendo valor. Os tempos já foram melhores: 2019 para cá tem sido turbulento;, afirma.

Cego, Ascendino conta com vários equipamentos tecnológicos para ajudar a tocar o negócio. ;Tudo que é meu fala. A calculadora fala, o relógio fala, o computador, também. Quando o representante termina de tirar o pedido, eu já tenho tudo pronto aqui no meu laptop;, diz. O comerciante também tem uma organização específica para lidar com o dinheiro. ;Eu guardo cada nota num lugar: as de R$ 5 no bolso da calça da frente; as de R$ 10 e as R$ 20 na carteira, cada uma de um lado; as de R$ 2 no outro bolso da calça. Tudo para saber onde estão. Mas, se eu não conheço o comprador, sempre chamo a mulher ou algum dos três funcionários para verem se está pagando direitinho;, afirma.

Há pouco mais de um ano, Ascendino mudou o ponto da loja para um maior. Colocou câmeras de segurança, mas notou queda nas vendas. ;O faturamento caiu 15%. Entra muita mercadoria contrabandeada no sul do Piauí. Aí, fica difícil concorrer porque eu compro tudo com nota fiscal;, diz. Para ele, é difícil vencer a cultura que o povo de São Braz tem de comprar tudo de fora. Outra dificuldade, revela, é receber o que vende fiado. ;Há um ano, decidi colocar a máquina porque posso fazer em 30 dias, dividir o valor em até 12 vezes, com a garantia de que vou receber. Tive que negociar, mas vale a pena;, ressalta. Ascendino também lamenta o fechamento do banco postal que funcionava nos Correios, cuja sede hoje é uma igreja neopentecostal. ;O dinheiro não circula na cidade;, diz.

E o dinheiro vai...

Dono do Mercadinho Damasceno, Julio Alves Ferreira, 71, lamenta não ter a máquina de cartão. ;O dinheiro está desaparecendo. Eu mantenho porque vendo fiado e tenho aposentadoria, que retiro em São Raimundo Nonato;, explica. Julio formou os cinco filhos. ;Três professoras; o Josinei, que é técnico eletrônico; e a mais nova, quase contadora. Eu fui criado na roça, mas nenhum deles sabe o que é abrir uma porteira. Foram todos criados na escola;, diz, orgulhoso.

Josinei arrumou um celular para o pai passar o tempo no mercado, enquanto não entram clientes. ;Eu fico aqui assistindo aos vídeos. Ele me ensina e eu aprendo. Cheguei a comprar uma máquina de cartão para aumentar as vendas, mas é sem serventia;, lamenta. O filho explica: ;A máquina não funcionou porque é de chip, não pega wi-fi e o sinal aqui é muito fraco. Sinal de telefonia é muito fraco. E a máquina precisa de uma certa velocidade de internet;, conta, enquanto atende Nilo Souza Rodrigues, que compra crédito de R$ 15 para o celular.



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