Jaqueline Mendes
postado em 03/07/2019 06:00
São Paulo ; Nas últimas décadas, nenhum dispositivo eletrônico causou tanto impacto na sociedade quanto os smartphones. Onipresentes, eles transformaram a maneira como as pessoas se relacionam, passaram a funcionar como plataformas com múltiplas funções e até se tornar indispensáveis no mundo dos negócios, impulsionando transações financeiras e um número incalculável de atividades econômicas. Mas tudo isso pode ficar no passado. Uma corrente cada vez maior de especialistas acha que os smartphones podem estar com os dias contados.A afirmação mais contundente veio de quem conhece intimamente o negócio: a Samsung, empresa que liderou o mercado em 2018, com 292 milhões de smartphones vendidos, o que representa uma participação de mercado de 20,8%. ;Os últimos 10 anos foram a era do smartphone;, disse, em entrevista recente, DongJin Koh, presidente da divisão de celulares da empresa. ;Deste ano em diante, talvez uma nova era esteja chegando, com tecnologias se misturando e agindo juntas. A nova era está à nossa frente.;
O próprio resultado da Samsung é um indicador de que os celulares bateram no topo. No ano passado, as vendas da empresa caíram 8% em relação ao ano anterior. Considerando todos os fabricantes, os negócios encolheram 4,1%, segundo dados da consultoria IDC. Foi a maior queda da história.
Os argumentos mais comuns para justificar o declínio dos aparelhos são o fato de as pessoas demorarem cada vez mais para trocar o celular e os preços altos cobrados pelos fabricantes. Mas essa análise é superficial. Pelo menos é isso o que diz outra autoridade mundial no assunto, o também sul-coreano Kang Yun-Je, chefe de design da Samsung.
;O design dos smartphones chegou ao seu limite, e é por isso que estamos desenvolvendo um smartphone de tela dobrável;, disse. ;Mas nós também estamos nos concentrando em outros dispositivos que estão começando a trazer um impacto mais amplo para o mercado, como fones de ouvido inteligentes e smartwatches. Em mais ou menos cinco anos, as pessoas não vão nem se dar conta de que estão vestindo telas. Será tudo intuitivo.;
Para o consultor de tecnologia Eduardo Tancinsky, o fim do apogeu dos smartphones virá antes do esperado. ;Até pouco tempo atrás, projeções da indústria mostravam que os aparelhos dominariam o mercado por um longo período, mas a inovação tecnológica está acelerando o processo de substituição dos dispositivos eletrônicos;, diz. ;O futuro, e quando falo de futuro, estou me referindo a no máximo 10 anos, será dominado por telas virtuais que serão exibidas em qualquer lugar, inclusive em nossas roupas.;
Com o avanço do 5G associado à internet das coisas, é provável que novos dispositivos que o mundo nem sequer conhece dominem por completo a comunicação e interação entre as pessoas, tornando os smartphones ultrapassados.
Enquanto isso não acontece, as disputas do mercado estão cada vez mais acirradas. Segundo dados do IDC, a liderança da Samsung é acompanhada de perto pela americana Apple (que detém 14,9% de participação) e pela chinesa Huawei (14,7%, praticamente empatada no segundo lugar). Em quarto lugar aparece outra chinesa, a Xiaomi (8,7% de mercado), que tem adotado nos últimos dois anos uma política agressiva de lançamentos.
Se as vendas de smartphones estão em queda, a guerra comercial entre Estados Unidos e China acrescentou outros desafios ao setor. Segundo um estudo do banco J. P. Morgan, as disputas entre os países podem tornar os iPhones 14% mais caros. Se isso de fato acontecer, será mais uma razão para levar a novas quedas de vendas.