Economia

OIT divulga relatório que aponta manutenção das desigualdades trabalhistas

Segundo o estudo, 10% dos trabalhadores no mundo recebem 48,9% do total do salário global, enquanto que metade dos trabalhadores com menores rendas recebem apenas 6,4% desse total

Thaís Moura*
postado em 04/07/2019 19:03
Segundo o estudo, 10% dos trabalhadores no mundo recebem 48,9% do total do salário global, enquanto que metade dos trabalhadores com menores rendas recebem apenas 6,4% desse totalA desigualdade salarial continua sendo difundida no mundo trabalhista, mostra o relatório divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) nesta quinta-feira (04/07). Segundo informações da OIT, 10% dos trabalhadores no mundo recebem 48,9% do total do salário global, enquanto que metade dos trabalhadores com menores rendas recebem apenas 6,4% desse total. Já os 20% mais mal pagos no mercado de trabalho (cerca de 650 milhões) são remunerados com menos de 1% da renda mundial. Na publicação, a Organização ressalta que o número "quase não mudou em 13 anos".
O relatório The Labour Income Share and Distribution, que avalia 189 países, ainda chama atenção para uma leve queda de na desigualdade global de renda do trabalho entre 2004 e 2017. Segundo os dados, em 2004, os 10% mais ricos recebiam 55,5% de toda a renda global. Em 2017, o percentual caiu para 48,9% a nível mundial, e no Brasil, foi de 47,7% para 41,3% neste período. Em publicação oficial, a OIT afirma que essa situação "não ocorre devido a reduções na desigualdade dentro dos países;.
"A razão é o aumento da prosperidade em grandes economias emergentes, mais especificamente na China e na Índia. No geral, os resultados dizem que a desigualdade de renda continua difundida no mundo do trabalho", esclarece. Dividindo os assalariados em três grupos (salários baixos, médios e altos), a OIT destaca que apenas os mais bem remunerados tiveram uma melhora em seus rendimentos de 2004 a 2017. Já as classes média e baixa sofreram uma queda em suas remunerações. Em relação ao total do rendimento do trabalho global, a renda do trabalhador de classe média teria caído de 44,8% para 43% no período, enquanto os rendimentos dos 20% mais ricos teria aumentado 2,2%, saindo de 51,3% para 53,5%.
Carlos Alberto Ramos, especialista em mercado de trabalho e economista da Universidade de Brasília (UnB) reforça que, apesar dos dados evidenciarem um problema no mercado de trabalho, que reage ao "dinamismo das inovações tecnológicas e ao crescimento econômico de cada país", existe uma diferença clara entre a pobreza e a distribuição da renda, mesmo que os dois possam estar associados. "A desigualdade de renda costuma aumentar quando há um crescimento nos salários, mas não quer dizer que a pobreza cresceu. Supondo que um engenheiro tenha seu salário aumentado em 20%, e uma pessoa menos qualificada tenha o mesmo aumento. Isso vai gerar um aumento na desigualdade, porque os salários maiores cresceram mais do que os menores, mas a qualidade de vida de quem era mais pobre também melhorou", afirma.
Ele destaca que o nível de educação e de desenvolvimento tecnológico dos diferentes países são fatores determinantes para a desigualdade na distribuição da renda, e por isso, é normal que esse índice não tenha se alterado tanto nos últimos 13 anos. "Os fatores ligados a desigualdade mudam muito lentamente. Você pode até ter mudanças no nível de pobreza, mas a distribuição de renda depende de fatores de educação, de dinamismo do mercado de trabalho, de inovações tecnológicas que substituem a mão de obra em diversos setores, então é difícil que ocorram mudanças a curto prazo. Mas nesse tempo, o combate à pobreza avançou bastante no mundo inteiro", pontua Carlos. Porém, o economista explica que no Brasil, a situação se diferencia em alguns pontos.
;A singularidade do Brasil, em comparação com países como China e índia, é que, aqui, a queda da pobreza veio aliada à da desigualdade no período de 1995 a 2014. Isso ocorreu por causa de programas do governo que foram implementados nesse período, como o Bolsa Família, são benefícios que influenciam diretamente na desigualdade. Depois de 2014, ambos aumentaram em conjunto, com a crise que se iniciou;, diz o economista.
Wilson Amorim, professor de administração da USP e especializado em mercado de trabalho, acrescenta que a intensificação da globalização é outro fator que influencia na desigualdade laboral. "Se o mundo está em um período de intensificação da globalização, a tendência é que os limites do capitalismo se expandam ao máximo. Alguns veem esse processo como positivo, mas isso está sendo mais proveitoso para quem ganha mais, e não para os mais pobres. Com a globalização, podemos ter mais trabalhadores, mas não necessariamente com melhores rendimentos", argumenta o professor. "Os dados da OIT mostram que precisamos de um crescimento em escala global, não só nos países mais centrais".
"O levantamento mostra que temos prosperidade em dois grandes países, enquanto outros passam por grandes custos de mão de obra. Quando o mercado de trabalho retrai e a mão de obra fica mais cara, os empregadores mantém os trabalhadores de forma estratégica, só aqueles que ganham mais permanecem", exemplifica Wilson.
Para a OIT, os países mais pobres tendem a ter níveis mais altos de desigualdade salarial, algo que "exacerba as dificuldades das populações vulneráveis". "Na África Subsaariana, metade dos trabalhadores que ganham menos recebem apenas 3,3% da renda do trabalho, em comparação com a União Europeia onde o mesmo grupo recebe 22,9% da renda total paga aos trabalhadores", constata a Organização. Entre os países em que os trabalhadores com as maiores rendas (20%) tiveram um aumento de pelo menos um ponto percentual na sua parcela de remuneração nacional estão Alemanha, Indonésia, Itália, Paquistão, Reino Unido e Estados Unidos.

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