Economia

"A assinatura do acordo traz uma vitória institucional ao Mercosul"

Para o especialista, o novo status da relação entre o bloco sul-americano e a União Europeia trará mais segurança para os investidores, mas também lançará desafios

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 05/07/2019 04:21
Para o especialista, o novo status da relação entre o bloco sul-americano e a União Europeia trará mais segurança para os investidores, mas também lançará desafios

"O setor industrial europeu e o agrícola do Brasil ganham muito com o acordo entre Mercosul e União Europeia;



São Paulo ; Foram duas décadas até que os países que formam o Mercosul e a União Europeia batessem o martelo e decidissem assinar o acordo de livre-comércio. Apesar da comemoração, ainda há muitas etapas a serem cumpridas até a implementação completa do tratado comercial. Pela complexidade do que está em jogo, não há um prazo preestabelecido para a conclusão do trâmite. Mas o impacto será grande, já que o acordo entre os blocos responde por 25% do Produto Interno Bruto mundial e afeta a vida de 750 milhões de pessoas.
Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do antigo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (que passou a fazer parte do Ministério da Economia no atual governo), além de conselheiro e sócio-fundador da BMJ, acredita que, apesar de Mauricio Macri, presidente da Argentina, contar com o acordo como um de seus ativos durante a campanha eleitoral, o Brasil, especialmente a área do agronegócio, deverá ter vantagens importantes. Confira a entrevista.


O que foi decisivo para que o acordo entre Mercosul e União Europeia fosse assinado, depois de duas décadas de idas e vindas?
Vários fatores importantes pesaram para que essa decisão fosse tomada agora, e não nestes anos todos de conversa entre os representantes da União Europeia e do Mercosul. Esse é um momento decisivo para os grandes países, principalmente do lado do Mercosul, em especial Argentina e Brasil.

Por quê?
A Argentina não apoiava a aproximação com a União Europeia na época da presidente Cristina Kirchner. Agora, o momento é completamente diferente, por algumas razões. Uma delas é que o atual presidente do país, Mauricio Macri, também é o atual presidente do Mercosul e fez muita força para que a assinatura desse documento acontecesse, por meio de reuniões com os principais líderes dos países. Além disso, Macri tem um interesse político enorme, já que quer se eleger novamente nas eleições de outubro e está sob forte pressão no seu país.

Em quais áreas o Brasil deve ganhar mais?

O primeiro detalhe que vale ser lembrado é que não se trata de um acordo que entra em vigor imediatamente. Existe um prazo para terminar a sua redação, outro para a aprovação do texto pelos Congressos e aí acontecerá a sua ratificação. Como não há um efeito imediato, haverá tempo para que sejam feitas adaptações que permitam que todos se preparem para uma maior concorrência.

Quem é o grande vitorioso?
A assinatura do acordo traz uma vitória institucional ao Mercosul, que passa a contar com regras para o comércio e para os investimentos que deverão atrair mais recursos para seus integrantes, entre eles o Brasil. Essas regras na área de investimento e comércio darão maior previsibilidade para quem estuda onde colocar recursos. E como serão acordadas entre União Europeia e Mercosul, será mais difícil modificá-las, o que dá uma perspectiva de longo prazo para os negócios. Por isso, acredito que a principal vitória seja institucional, antes dos ganhos comerciais.

Quais são os pontos que vão exigir mais cautela?
Quando analisamos setores específicos, podemos dizer que o setor industrial europeu e o agrícola do Brasil ganham muito com o acordo entre Mercosul e União Europeia. Mas quando olhamos para especificidades, vemos que, mesmo dentro do setor agrícola, será preciso enfrentar desafios.

Quais são?

Eu destacaria nesse primeiro momento, quando ainda não há tantos detalhes, que os mais afetados por aqui deverão ser os produtores de vinho, de lácteos e de alho. Mas é importante destacar que a indústria brasileira de máquinas e equipamentos deverá estar preparada para o aumento da concorrência dos importados.




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