Economia

25 anos do Real: legado do Plano Real foi a superar 100 anos de inflação

Para Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim, o Plano Real venceu o passado de preços descontrolados e o futuro de incertezas

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 08/07/2019 10:53

O maior legado do Plano Real foi acabar com uma cultura inflacionária que durava 100 anos, diz o economista-chefe do Banco Votorantim Roberto Padovani. Levantamento sobre o comportamento dos preços desde o início do século passado, apresentado pelo economista, mostra que a escalada inflacionária começou depois do governo do ex-presidente Juscelino Kubitschek e atingiu o pico, com hiperinflação, no início dos anos 1990.

Na sua avaliação, o Plano Real venceu o passado. ;Reduzimos a inflação de 5.000% ao ano, em junho de 1994, para 2% em pouco mais de quatro anos. Algo espetacular;, lembra Padovani, que foi assessor da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, comandado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na época em que o Real foi implementado.

O economista divide a história da inflação no Brasil em cinco momentos nos últimos 100 anos. Entre 1916 e 1953, o reajuste médio anual dos preços foi de 8%, de acordo com ele, um dos melhores períodos. ;No pós-Guerra (Segunda Guerra Mundial), e, sobretudo, depois do governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), foi quando começou a escalada inflacionária vivida pelo país ao longo do século 20, a taxa média anual subiu para 34%;, afirma.

[SAIBAMAIS]Nos anos de 1980, até 1986, a taxa média anual de inflação subiu para 143% e, a partir de 1987, o Brasil entrou no período de hiperinflação, quando a taxa anual média subiu para o nível espetacular de 1.240%, chegando ao pico de 7.000% em abril de 1990. Padovani confessa que nem mesmo a equipe econômica, na época da adoção do Real, acreditava que a estabilidade da moeda completaria 25 anos. Entre 2016 e 2018, a taxa média do Índice de Preços ao Consumidor Amplo IPCA) ficou em 6% ao ano.

Ferramenta

Padovani avalia que, além do passado inflacionário, o Plano Real ;venceu também o futuro; incerto ao criar um ambiente propício para o crescimento econômico e ferramentas de gestão macroeconômicas aplicadas até hoje. ;O Plano venceu um ambiente que era, institucionalmente, muito frágil e transformou a história brasileira;, afirma o analista econômico de 50 anos, dos quais a metade ele viveu, lembra, em um país com inflação. ;Meu filho não consegue imaginar o mundo sem internet, imagina sem estabilidade da moeda;, destaca.

Segundo ele, além do tripé macroeconômico, o Real abriu o caminho para a criação da taxa básica de juros (Selic) e a Lei de Responsabilidade Fiscal. ;Antes do Real, vivíamos um dia depois do outro. Era impossível planejar a economia, e as famílias não conseguiam planejar o consumo;, frisa. ;Trocamos a ideia de choques econômicos por um período de regras de gestão. Hoje, o Brasil tem processos, transparência das contas públicas. E isso só passou a ser viável depois que saimos do atoleiro diário em que vivíamos;, diz.

Para Padovani, o histórico da economia brasileira, e no mundo, mostra que mudanças necessárias são feitas em épocas de crise, isso porque reformas são feitas quando o custo de não fazê-las tornar-se muito grande. ;A reforma da Previdência será aprovada porque há um medo social de ruptura, como havia quando foi feito o Plano Real. Mas não basta ter uma crise para mudar. É preciso ter equipe econômica de qualidade para traduzir as demandas públicas em ações concretas;, ressalta.

Para ele, há hoje as mesmas resistências políticas para fazer reformas que havia na época do Real, quando o Plano foi acusado de ser uma agenda eleitoreira para eleger Fernando Henrique Cardoso presidente. No entender dele, o país possui um ambiente de negócios ruim e tem falta de mão de obra qualificada. ; A economia mundial está desacelerando. O cenário externo ruim, o consumo fraco e a falta de confiança frustram as expectativas;, diz.

Responsabilidade

Adotado pelo país entre 1997 e 1999, o tripé macroeconômico inclui as seguintes diretrizes macroeconômicas: meta de inflação, câmbio flutuante e superavit primário. Praticamente todas as nações desenvolvidas utilizam esse tripé para orientar suas políticas econômicas. Durante os primeiros anos do Plano Real, a equipe econômica utilizou o regime cambial fixo, em que era estabelecido um valor para o dólar em relação ao real, para conter os reajustes exagerados dos preços.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação