Economia

25 anos do Real: caminho para a expansão do PIB passa pelo corte de gastos

Um dos pais do Real, o economista Pérsio Arida, afirma que o caminho para a expansão do PIB passa pelo corte de gastos e pelo aumento da eficiência

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 08/07/2019 11:04

Passados 25 anos da criação do Plano Real, um dos idealizadores do projeto que pôs fim à hiperinflação no país, o economista Pérsio Arida, se preocupa com a ;segunda fase;, ainda não concluída. O Brasil teve sucesso ao implementar a nova moeda, mas tem esbarrado em muitas dificuldades durante o que Arida chama de ;capítulo dois;: resolver o problema do deficit público. Essa é uma ;batalha constante;, conta, em seminário sobre os 25 anos do Real, promovido pelo Correio.

A segunda fase do plano não é ;uma história gloriosa, extraordinária;, diferentemente do que foi a implementação do Plano Real, na primeira. É, nas palavras de Arida, ;uma história de sustentação, de boas práticas econômicas;. Enquanto o primeiro capítulo terminou 25 anos atrás, quando o plano foi lançado, o outro começou naquela época, com o objetivo de sustentar as bases para que a nova moeda continuasse viável. A solução para os problemas seguintes não é milagrosa, é, também, um processo, explica o ex-presidente do Banco Central e do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

[SAIBAMAIS]Hoje, o desafio é que o Brasil cresça. ;A batalha do crescimento é uma batalha de reformas, para dar mais produtividade ao Brasil. A estabilidade monetária, o grande teste dela, vai acontecer quando o Brasil voltar a crescer, e crescer de forma acelerada;, acredita. ;Ao contrário do que muita gente pensa, nosso maior problema não é falta de demanda, ou que a política fiscal está contracionista. Nosso problema aqui é criar clima propício, mais segurança jurídica, boa reforma tributária;, diz. Segundo ele, todo país emergente que cresce tem economia aberta.

Estabilizada a inflação, agora o caminho para o crescimento econômico envolve ;cortar gasto e lutar por mais eficiência;. Os objetivos esbarram em obstáculos difusos e, às vezes, difíceis de se contornar. ;O problema é que todo deficit tem uma razão de ser. Alguém está se beneficiando dele. Sempre tem um grupo de interesse. Você só percebe quando mexe, que, quando vai ver, é lobby daqueles que estão sendo atingidos;, comenta Arida.

Outras vias


Segundo o economista, não adianta aumentar impostos para solucionar os problemas das contas públicas ; pode resolver topicamente, mas, depois, gera mais gastos. Também não dá para gerar ;um enorme superavit; de um dia para o outro, pontua. ;Isso só vai acontecendo ao longo do tempo. O governo FHC terminou com 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) de superavit primário, mas demorou anos para chegar lá;, considera. As políticas sustentáveis, entretanto, nem sempre, trazem resultados imediatos. ;Vai indo aos poucos. Houve um grande avanço com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), à época do Plano Real, enquadrando os estados. Mas foi um difícil processo ao longo do tempo;, lembra.

Para Arida, uma das mensagens que o Plano Real traz para o país é que, mesmo em momentos de adversidade, não dá para dizer que o Brasil não tem jeito. ;A história do real, como um todo, é interessante porque faz parte da história do Brasil. Com frequência, o país fica desesperançado, os jovens querem morar fora. Surge a ideia, volta e meia, de que o Brasil não tem jeito. Se estudar história, há inúmeros casos que mostram que o Brasil deu certo, sim. Coisas que não pareciam críveis foram atingidas;, reforça.

Mas o caminho foi cheio de desafios. O primeiro, com o lançamento da moeda, foi o bancário. Os bancos tinham lucro muito grande com a inflação. Quando ela baixou, a receita flutuante apareceu. Os bancos mais eficientes, de alguma forma, se equilibraram. Os menos eficientes ficaram com patrimônio negativo. ;Foi uma crise enorme;, comenta Arida. Outra frente ;complicada; era a cambial. ;Logo após o Plano Real, teve a crise do México. Avisei que precisaria subir a taxa de juros de 2% para 4%;, lembra Arida, que era presidente do Banco Central à época. ;O fato é que o cenário externo foi ruim o tempo todo. Teve crise no México, nos países asiáticos, na Rússia. Em 1999, cinco anos depois do lançamento do real, o Brasil teve que flutuar o câmbio, em situações adversas, mas acabou fazendo;, lembra.

Um mérito do Plano Real é ter sido anunciado com antecedência à população, que abraçou a ideia. ;Anunciamos que, sem essa base fiscal, não lançaríamos o programa. A primeira providência, no caso, era dizer que não teria congelamento nenhum;, diz o economista. O aviso evitou que empresários subissem os preços de forma exponencial, para que, quando os preços fossem congelados, estivessem com ;bastante gordura;.

Pelos estudos do plano, demoraria de dois a três anos para que toda a sociedade refizesse os contratos com a nova moeda, para, no fim, ter efeito a reforma monetária. Na prática, ;aconteceu algo extraordinário;, conta Arida. Embora o plano tenha sido ;criticado o tempo todo;, o essencial deu certo: a população aprovou. Os dois ou três anos viraram três meses;, lembra. A ideia, a equipe que trabalhou e o ministro da Fazenda tiveram seus méritos, mas Arida acredita que ;o grande pano de fundo era que tinha a opinião pública;.

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