Economia

25 anos do Real: economia do Brasil atravessa momento de deserto

Ex-diretor do Banco Central diz que crescimento médio do PIB tem sido "muito, muito medíocre" e que não há atalhos para o país

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 08/07/2019 13:23
Tony Volpon, economista-chefe do Banco UBS:

O Brasil vive um momento de ;travessia no deserto;, entre o fim da hiperinflação e o ainda não atingido crescimento econômico, explica o economista-chefe do Banco UBS, Tony Volpon. Ao comparar a década de 1990, antes e depois do Plano Real, e os dias de hoje, ele afirma que há muitos méritos no processo de estabilização da moeda, mas não o suficiente para alavancar o avanço do Produto Interno Bruto (PIB), historicamente baixo.

A fase de leve abertura econômica, responsabilidade fiscal e privatizações que se seguiu à implementação da nova moeda não conseguiu levar o país a uma taxa de crescimento média acima dos 2% ao ano observados nas últimas duas décadas ; nas palavras dele, um percentual ;muito, muito medíocre;. ;As reformas que foram feitas durante os últimos 25 anos, infelizmente, não foram suficientes;, lamenta.

[SAIBAMAIS]Apesar dos avanços, ;ainda temos uma economia com ambiente de negócios hostil, carga tributária muito alta e distorcida e não somos uma economia aberta;, lista. Do ponto de vista dessas agendas, a situação é melhor do que a de 25 anos atrás, mas, para o status quo ser superado, ;não há atalho;: é preciso continuar o processo de reformas e melhorar as condições de produtividade e concorrência. Qualquer outra alternativa é ilusão. A agenda de reformas, segundo ele, é essencial para avanços de médio e longo prazos, mesmo que o Brasil não cresça de forma acelerada nos próximos anos.

Volpon, que foi diretor do Banco Central no governo Dilma Rousseff, também acredita que é preciso acabar com o excesso de subsídios e desonerações, o que chama de ;vício; em políticas de suporte adotadas pelo Estado nos últimos anos. ;A economia privada ficou meio viciada no crédito, no subsídio e no corte de impostos;, comenta. Na visão dele, a única forma de acabar com essa situação é promover uma série de reformas que gere mais concorrência na economia, com estímulos a novos entrantes. ;Sejam estrangeiros, sejam nacionais, tanto faz. Pessoas têm que entrar e tornar todos os setores mais competitivos de uma vez;, defende.

Histórico


A visão de Volpon se sustenta em uma pergunta principal: por que o Brasil tem um potencial de crescimento tão baixo? E, segundo o economista, o primeiro passo para entender a situação é perceber que isso é um quadro padrão nos últimos 20 anos. Entre 1997 e 2017, o crescimento médio foi de 1,9%. O PIB per capita, hoje, está ao redor de 8 mil dólares. ;Esse é um crescimento muito baixo. A história do nosso baixo crescimento potencial se tornou muito mais agudo nos últimos anos, mas, na verdade, é histórico;, diz.

Hoje, o crescimento potencial do Brasil está em torno de 0,1%, aponta Volpon. ;Teve uma queda muito acentuada. É importante ter um diagnóstico do porquê nós chegamos neste ponto, para ter um prognóstico do que fazer para poder ter um crescimento potencial mais alto;, afirma. Para ele, não adianta ficar ;tendo muita angústia; sobre se o Banco Central vai diminuir ou não os juros. ;A gente gasta muita saliva discutindo isso, que, na verdade, é tudo, a meu ver, de segunda ordem;, comenta.

Ele concorda que há espaço, neste momento, para queda de juros por parte do Banco Central. ;Mas, no fim do dia, quando você pega essa visão de 25 anos do Plano Real, você está olhando história, décadas. Quando você tem esse frame temporal na sua mente, a batalha, na verdade, é o crescimento potencial;, argumenta. ;Não há nada que se vá fazer, em termos de políticas cíclicas de demanda, para impactar isso.;

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