Agência Estado
postado em 11/07/2019 07:08
Principal avalista da reforma da Previdência, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), atuou como articulador político do governo de Jair Bolsonaro, mesmo a contragosto, para a aprovação das mudanças na aposentadoria.
Depois de meses de impasses e brigas com o Palácio do Planalto e até mesmo com o seu partido, Maia não apenas conduziu a proposta como se credenciou para disputar voo mais alto em 2022, seja como candidato à Presidência ou a vice na chapa.
Maia chorou ao menos duas vezes, na quarta-feira, 10, no plenário. A primeira quando foi elogiado por seus pares e antes de anunciar a aprovação da reforma.
"O Centrão, essa coisa que ninguém sabe o que é, mas é do mal, está fazendo, com esses líderes, a reforma da Previdência", disse o presidente da Câmara, em um desagravo ao bloco de partidos que dá as cartas na Casa. O deputado fez questão de marcar diferenças com o Planalto. "Sem nenhum interesse de entrar em nenhuma prerrogativa do presidente, mas durante 30 anos tiraram a prerrogativa dessa Câmara", discursou. "Não haverá investimento privado sem democracia forte. Investidor de longo prazo não investe em país que ataca as instituições". No plenário deputados gritavam "Rodrigo, Rodrigo"
"Ele matou no peito com Bolsonaro chutando contra", resumiu o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), presidente do Solidariedade. "Sem Rodrigo não chegaríamos neste momento", disse Delegado Waldir (GO), líder do PSL, partido de Bolsonaro.
Se Maia ocupou papel central no xadrez da articulação para a votação da proposta antes do recesso parlamentar, o secretário especial da Previdência, Rogério Marinho, foi o homem por trás dos bastidores. Cotado agora para ser também o negociador da reforma tributária - a próxima medida da agenda do crescimento -, Marinho atuou como a principal ponte da área econômica nas negociações com o Congresso para destravar as demandas dos parlamentares.
Os pedidos não se resumiram apenas à liberação de emendas e recursos orçamentários para obras nos redutos eleitorais dos deputados. Passaram também por questões delicadas, como a negociação de perdão de dívida rural. Uma derrapada nessas negociações poderia prejudicar o caminho até a votação.
Maia e Marinho, ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes, formaram a grande barreira que impediu a desidratação da reforma, apesar de toda pressão de categorias e setores por mudanças, principalmente nos últimos dias antes da votação.
O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, foi criticado no Congresso e perdeu atribuições ao longo do processo, mas, no fim dos trabalhos, acabou sendo elogiado por seus antigos pares. Onyx foi fiador do acordo para pagamento das emendas, mas tudo teve de passar por Maia. Todo dia o presidente da Câmara recebia cerca de 40 a 50 deputados na residência oficial.
Cerca de duas semanas atrás, um almoço na casa de Maia mostrou uma divisão no DEM. O presidente do Solidariedade defendia um projeto de lei complementar para incluir Estados e municípios na reforma, quando o prefeito de Salvador, ACM Neto, discordou. "Não tem acordo sobre isso", disse Neto, que é presidente do DEM. Maia interveio: "Temos de pensar no Brasil." Neto não se deu por vencido. "E na Bahia também", disse.
Na prática, quando a proposta chegou ao Congresso, no fim de fevereiro, a expectativa era que a economia de mais de R$ 1 trilhão (o número mágico de Guedes) caísse para em torno de R$ 700 bilhões. Ontem, a estimativa era que a de que a economia de despesas com a reforma em 10 anos ficasse acima de R$ 900 bilhões - resultado que pode ser comemorado diante das dificuldades de articulação que marcaram o início das negociações e a interferência de Bolsonaro em favor de mudanças nas regras de policiais.
Discreto e hábil negociador, Marinho foi também o bombeiro na crise política aberta entre Bolsonaro e Maia e depois, na reta final, com Guedes. Num dos momentos mais tensos das negociações, o ministro da Economia se desentendeu com Maia ao criticar a abertamente o parecer do relator Samuel Moreira (PSDB-SP). A crise prometia se estender e comprometer a votação até o recesso.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.