postado em 13/07/2019 04:05
O Brasil mal saiu de uma recessão e já caminha para outra. Os dados de maio dos três principais setores produtivos ; indústria, comércio e serviços ; mostram a paralisia da economia. Para alguns especialistas, o fraco desempenho das atividades terá impacto no Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2019, que pode ser negativo. Como nos primeiros três meses do ano, o indicador, que representa a soma de toda riqueza produzida no país, recuou 0,2%, serão dois trimestres seguidos de queda, o que configura recessão técnica.
O volume de serviços no Brasil ficou estável (0,0%) em maio na comparação com o mês anterior, após ter avançado 0,5% em abril, quando interrompeu três taxas negativas seguidas, com perda acumulada de 1,6%, divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A produção industrial caiu -0,2%, e as vendas do comércio recuaram 0,1% na mesma comparação, de acordo com outras duas pesquisas do órgão. Apenas o varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, teve alta de 0,2% em maio.
Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, o país está entrando numa recessão técnica. ;Os dados são muito fracos, indústria caiu, varejo, também, serviços no zero a zero. Pelo nosso modelo de projeção, o PIB terá queda de 0,1% no segundo trimestre, após a contração de 0,2% no primeiro;, destacou.
Conforme Rodrigo Lobo, gerente da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE, o setor está 1,1% abaixo do patamar de dezembro de 2018. ;Houve perda de dinamismo, sobretudo no segmento de transportes (-0,6%), que recua pelo segundo mês consecutivo 0,6%;, disse.
Fabio Bentes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), destacou que o quadro é preocupante. ;Os três motores pela ótica da oferta continuam apresentando desempenhos decepcionantes;, assinalou. O especialista lembrou que serviços e indústria, juntos, representam mais da metade do PIB brasileiro. ;Com zero contribuição do comércio, a leitura é que a economia não saiu do lugar;, afirmou.
Antes da última safra de dados, a CNC projetava alta de 0,2% no PIB do segundo trimestre. ;Como os dados vieram fracos, vai dar algo próximo de zero. O primeiro semestre foi perdido;, lamentou Bentes. Para o ano, a previsão é de alta de 0,9%, que pode ser revista para 0,7% ou 0,8%.
Segundo Flávio Castelo Branco, gerente executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o setor está no patamar de oito anos atrás. ;Estamos estagnados depois de uma grande recessão. É como se o país tivesse caído 10 degraus e não conseguiu se equilibrar para subir de volta;, comparou.
Castelo Branco destacou que o setor industrial perdeu participação no PIB. ;Mas toda a economia está parada. A demanda não se recuperou. As famílias melhoraram, mas não recuperaram o consumo. As empresas estão produzindo menos e não investem, porque há capacidade ociosa;, explicou.
No entender de Julio Gomes de Almeida, diretor executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), tecnicamente é cedo para se falar em recessão. ;Não temos os dados de dois trimestres seguidos. A indústria, sim, porque já acumula quedas seguidas. Serviços e comércio, ainda não. Em maio, é tudo muito próximo de zero;, alertou.
Almeida ressaltou, contudo, que se dependesse da indústria, o país já estaria em recessão. ;Agora, o comércio, no acumulado, cresceu 0,7% após expansão de 3,2% no mesmo período do ano passado. Ou seja, não está no negativo, mas está perdendo velocidade. O setor de serviços demorou mais para entrar em crise, mas também é o último a se recuperar;, avaliou. ;Ou seja, a indústria anda de ré, o comércio está desacelerando fortemente, e os serviços estão andando de lado. Se isso vai dar em recessão? Minha opinião é que esse quadro não muda em 2019. Vamos fechar cinco anos em crise;, opinou.
Para o país reagir, conforme Castelo Branco, é preciso que o governo priorize uma agenda mais ativa. ;A reforma da Previdência andou, mas está travando todo o resto. É preciso que outras pautas avancem, como as privatizações, a reforma tributária. Há espaço para um corte de juros. Precisamos de novas fontes de financiamento. Alguma coisa precisa ser feita para tirar a letargia da economia;, destacou o gerente da CNI.
- Paralisia
Produção industrial, volume de vendas do comércio e de serviços estão estagnados
Serviços
Período Variação (%)
Volume Receita Nominal
Maio 19 / Abril 19* 0,0 0,6
Maio 19 / Maio 18 4,8 9,2
Acum. Janeiro-Maio 1,4 5,1
Acum. 12 Meses 1,1 4,3
Indústria
Período Variação produção (%)
Maio 19 / Abril 19* -0,2
Maio 19 / Maio 18 7,1
Acum. Janeiro-Maio -0,7
Acum. 12 Meses 0,0
Comércio
Período Varejo Varejo Ampliado**
Volume de vendas Receita Volume de vendas Receita
Maio / Abril* -0,1 0,8 0,2 0,9
Média móvel trimestral* -0,1 0,5 0,5 0,9
Maio 2019 / Maio 2018 1,0 5,8 6,4 10,0
Acumulado 2019 0,7 5,0 3,3 6,7
Acumulado 12 meses 1,3 5,3 3,8 7,0
Fraqueza***
Variação percentual entre maio e dezembro do ano anterior com ajustes sazonais
Setor 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Indústria -0,1% -3,4% 1,2% 0,9% -12,2% -1,4%
Comércio 0,0% -3,0% -2,9% 4,5% 1,4% 0,1%
Serviços 0,8% -2,0% -1,8% 0,0% -4,9% -1,1%
* Série com Ajuste Sazonal
** Inclui atividades de veículos, motos, partes e peças e de material de construção,
*** Elaborado pela CNC com dados do IBGE
Fonte: IBGE