Agência Estado
postado em 17/07/2019 18:35
Depois de esboçar um movimento ascendente nas primeiras horas de negociação, os juros futuros se acomodaram e passaram o restante do dia operando perto da estabilidade. Segundo operadores e estrategistas de renda fixa, com a tramitação da reforma da Previdência adiada para agosto, investidores apenas ajustam posições e fazem alterações marginais nas apostas para o encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) no fim deste mês.
A expectativa de medidas de estímulo a economia, como a liberação parcial de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviços (FGTS), são vistas como positivas, mas sem potencial para promover alterações na demanda capazes de atiçar a inflação e, por tabela, esvaziar a crença em um ciclo de afrouxamento monetário. O quadro muda de figura caso se considere a possibilidade de um pacote mais amplo de estímulos, com redução expressiva dos depósitos compulsórios, algo já mencionado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Essa incerteza quanto aos estímulos - aliada à postura conservadora do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e ao adiamento da Previdência - inibe posicionamentos mais arrojados por parte dos agentes.
Por ora, grosso modo, as taxas futuras revelam predominância das apostas em redução da Selic em 0,25 ponto porcentual, para 6,25%. Para a magnitude total do ciclo, as taxas mostram perspectiva de corte 1 ponto porcentual, o que levaria a Selic para 5,50%.
O operador de renda fixa da Terra Investimentos Heber Vieira observa que o mercado, após a aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara, já "precificou" um ciclo de queda da Selic. "Tudo caminhou bem nas últimas semanas e agora o mercado está em compasso de espera, aguardando novas sinalizações do lado das reformas e da política monetária", diz Vieira, ressaltando que o mercado parece sem fôlego para aumentar apostas em relação a trajetória da taxa básica. "No caso da ponta longa, ainda há espaço para fechar, mas é preciso ter passos concretos na questão da Previdência e de outras medidas de ajuste".
Embora o mercado trabalhe com a tese de aprovação da reforma da Previdência sem grande diluição, há certa cautela com a possibilidade de que novos ruídos políticos daqui até o fim do recesso parlamentar. Não foi bem recebida a possibilidade de indicação do deputado Jair Bolsonaro (PSL-SP) para a embaixada brasileira em Washington, que pode gerar atrito com o Senado, responsável por chancelar a escolha.
"Houve uma queda muito grande das taxas. Não há agora notícia que possa produzir uma redução adicional, e isso deixou o mercado assimétrico, sem vendedores", diz o estrategista de renda fixa da corretora Coinvalores, Paulo Nepomuceno, ressaltando que os estrangeiros deixaram a ponta da venda de taxa (compra de PU). "Estruturalmente, a tendência ainda é de fechamento da curva a termo, mas no curto prazo existe apetite para apostas mais fortes."
Entre os curtos, DI para janeiro de 2020 - que abriga as expectativas para a taxa Selic no fim deste ano - encerrou o dia a 5,715%, ante 5,719 no ajuste de ontem. No miolo da curva, DI para janeiro de 2021 subiu de 5,568% para 5,58%, enquanto o DI para janeiro de 2023 fechou a 6,38%, ante 6,37%. Na ponta longa, o DI janeiro 2025, que chegou a atingir 7,02% pela manhã em um movimento de zeragem de posições, terminou o dia estável, negociado a 6,96%.