Economia

Obstáculos aos avanços no Brasil

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 29/07/2019 04:04
As pesquisas na área de veículos autônomos não são novas, mas a aplicação prática para os projetos ganharem escala comercial ainda encontra obstáculos no Brasil. O caos do trânsito e a legislação vigente emperram o avanço de carros, ônibus e caminhões autômatos. Na visão de especialistas, é questão de tempo para tomarem as ruas. Mas a revolução que a inteligência artificial provoca nos transportes não se limita ao modal rodoviário e às alternativas de mobilidade. A inovação também está sobre trilhos, entre as nuvens, flutuando nas águas e atracada nos portos.

As pesquisas na área são desenvolvidas há mais de 20 anos. Países como Estados Unidos, França, Japão e Alemanha investem pesado para reduzir o número de acidentes e tornar o fluxo no trânsito mais eficiente. O professor André Monteiro, especialista em desenvolvimento de soluções em inteligência artificial do Instituto de Gestão e Tecnologia da Informação (IGTI), afirma que a tecnologia é cada vez mais popular em termos globais. ;No Brasil, tem a questão legislativa, por isso a demora;, justifica. ;Além disso, a computação é complexa para o veículo tomar a decisão acertada no trânsito, e tudo passa pela conectividade. Os equipamentos têm cada vez mais capacidade para coletar dados, mas a rede disponível ainda não é ideal. A conexão tem de ser muito eficaz;, acrescenta.

Apesar de parecer coisa do futuro, o desenvolvimento na tecnologia de carros autônomos começou em 2007 no Brasil. Dois anos depois, o Laboratório de Computação de Alto Desempenho (LCAD) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) começou o projeto Iara (Intelligent Autonomous Robotic Automobile), liderado pelo professor Alberto Ferreira de Souza. Inicialmente, eram estudos de visão computacional e robótica móvel em ambientes simulados e dados de sensores reais, em tarefas de mapeamento, localização, detecção e reconhecimento por meio de imagens de câmeras.

Em 2012, um carro Ford Escape Hybrid foi adaptado para permitir o controle do sistema de acionamento de volante, acelerador, freios, entre outros dispositivos do veículo, por meio de sistemas computadorizados desenvolvidos pelo projeto Iara. Desde então, as pesquisas avançaram bastante, e Iara está cada vez mais completo.

O professor explica que a aplicação prática esbarra no Código de Trânsito Brasileiro, que determina que o motorista precisa estar com as duas mãos no volante.

O pesquisador também está desenvolvendo projeto para BRT autônomo, ônibus que usa pista exclusiva. ;O grande gargalo é o caminhão, mas a tecnologia está pronta. Até o fim de 2020, estará operando um caminhão autônomo para a Vale usar em local interno;, antecipa.

Projeto

O Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP), câmpus São Carlos, também tem projetos de veículos autônomos coordenados pelos professores Denis Wolf e Fernando Osório, ambos do Laboratório de Robótica Móvel do ICMC. O projeto Carina (Carro Robótico Inteligente para Navegação Autônoma) foi desenvolvido para navegar em ambientes urbanos sem a necessidade de um condutor humano. Em 2013, houve uma demonstração pública de navegação autônoma nas ruas de São Carlos.

;Para que a autonomia funcione, é necessário que os algoritmos desenvolvidos sejam rápidos o suficiente a fim de o computador tomar decisões corretas em curto intervalo de tempo;, explicam os pesquisadores. A universidade também desenvolveu, em parceria com a Scania, um protótipo de caminhão autônomo, fruto de convênio de cooperação tecnológica firmado em 2013 entre a montadora sueca e o ICMC. Ao todo, foi destinado ao projeto R$ 1,2 milhão, e a Scania disponibilizou dois caminhões para a realização da pesquisa. (SK e RS)

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