Economia

BB começa programa de reestruturação nesta terça-feira; conheça as medidas

Programa de Adequação de Quadro não tem meta de desligamento. Começa nesta terça-feira (30/7) e vai até 14 de agosto. Estímulo financeiro varia de acordo com o tempo trabalhado na instituição financeira. Objetivo é reduzir a mão de obra em unidades onde há excesso

Hamilton Ferrari
postado em 30/07/2019 06:00
Sede do BB em Brasília: digitalização dos serviços reduz a necessidade de agências formais. Algumas serão transformadas em postos de atendimentoO Banco do Brasil (BB) vai fazer uma nova reestruturação e estimular a demissão de funcionários. O Programa de Adequação de Quadro (PAQ) vai incentivar pedidos de desligamento, oferecendo ao trabalhador entre R$ 20 mil e R$ 200 mil, conforme tempo de trabalho na instituição financeira, além de outros benefícios. Com a diminuição de cargos, haverá a redução de agências formais e o aumento do número de postos de atendimento, que precisam de menos funcionários. A adesão começa terça-feira (30/7) e termina dia 14 de agosto.

A restruturação do BB foi antecipada pelo Blog do Vicente no último sábado. O programa estabelece que quem atuou por até 20 anos no banco poderá receber 7,8 salários brutos, enquanto o funcionário que atuou por mais do que esse período na instituição ganhará o equivalente a 9,8 remunerações.

O trabalhador que aderir receberá da instituição financeira os direitos regulamentares de desligamento, além do ressarcimento do plano de saúde, inclusive de dependentes, pelo período de um ano. Ficará isento de pagamento de custos com treinamento, como cursos de graduação, de idiomas e certificações. O programa prevê que os funcionários interessados poderão se aposentar ou pedir desligamento consensual, previsto na legislação trabalhista.

O PAQ foi criado para fazer um remanejamento e não é voltado para todos os funcionários, apenas para os que trabalham em locais onde há excesso de mão de obra. Por isso, não há metas de demissão. Haverá incentivo para transferências de unidades com muita gente para as que não têm mão de obra suficiente. De acordo com fontes do BB, se todos os funcionários se moverem, haverá vagas para todos. Mas isso não deve ocorrer, porque muitos não estão dispostos a mudar de município ou ir para cargos mais baixos.

Também para se adequar à digitalização do banco, 333 agências serão transformadas em Posto de Atendimento Avançado (PAA), que são pontos destinados a municípios desassistidos de serviços bancários e possuem estrutura reduzida de funcionários. Outras 49 PAAs devem se transformar em agências.

Na prática, o BB está redimensionando a estrutura de acordo com o volume de atendimentos em cada local. Nenhum posto de atendimento será fechado e, por isso, não haverá municípios desassistidos. Os PAAs não são reconhecidos, porém, como agências formais pelo Banco Central (BC).

Ações

O programa anunciado pela instituição fez com que as ações do Banco do Brasil tivessem um bom desempenho no Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3). Os papéis da estatal tiveram alta de 0,9%, ante a queda de outras instituições financeiras, como do Bradesco (-0,22%) e Santander (0,64%).

O Ministério da Economia, por meio da Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Sest) e Secretaria de Desestatização, fechou sete programas de demissão voluntária em estatais. Um deles foi feito pela Caixa Econômica Federal, que tem o objetivo de reduzir o quadro de funcionários em 3,5 mil postos.

A intenção é gerar uma economia de R$ 2,3 bilhões aos cofres públicos por ano, sendo que a estimativa é de que 21 mil empregados sejam desligados nesses sete programas de desligamentos aprovados. A pasta estuda ainda a adoção de mais quatro PDVs para outras estatais, com objetivo de redução de custos e aumento da produtividade.

Legalidade

O advogado Ronaldo Tolentino, do escritório Ferraz dos Passos Advocacia e Consultoria, explicou que, quando há programas similares, a intenção é diminuir o quadro de funcionários sem ;mandá-los embora diretamente;. ;Pagam as verbas rescisórias e dão mais incentivos;, alegou.

O advogado Maurício Corrêa da Veiga explicou que nada impede que estatais façam programas de incentivo à demissão para reduzir o quadro de funcionários. ;Para deixarem o banco, os trabalhadores terão uma série de benefícios previstos no plano. Normalmente, quando há a adesão, há o pagamento de pendências, como férias e 13;, por exemplo, e o funcionário não pode entrar com uma ação trabalhista pedindo hora extra ou alguma outra rubrica que a instituição financeira deve;, afirmou. ;Assinando, ele está de acordo com trato. Depois de muitas demandas na Justiça do Trabalho, os bancos já estão atentos a isso; completou.

Caso não haja a adesão por parte do funcionário, o banco não pode fazer redução de salários ou troca de cargo como uma forma de retaliação. Se isso ocorrer, o trabalhador poderá procurar a Justiça e terá que comprovar que o banco adotou as práticas como forma de punição. ;Mas a procura pelo PDVs e outros programas de incentivo à demissão tem sido até maior do que o esperado;, ressaltou Corrêa da Veiga.

Início em 2018

A redução da estrutura do BB começou na gestão de Paulo Roberto Caffarelli. Em 2018, o banco já havia diminuído em quase 2,2 mil o número de funcionários. Na época, as medidas foram mais robustas, com fechamento de agências. Atualmente, o quadro da estatal tem cerca de 100 mil trabalhadores.

Quadro ruim

Pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mostra que, no primeiro semestre de 2019, os bancos fecharam 2.057 postos de trabalho no país. Desde 2013, foram fechadas 62,7 mil postos nas instituições financeiras.

Entenda a reestruturação do Banco do Brasil

>> Enxugamento
A medida serve para readequar o quadro de pessoal e ir na direção da digitalização dos serviços. Em 2018, o ex-presidente da estatal Paulo Roberto Caffarelli adotou ações similares, o que permitiu a diminuição de 2.195 funcionários.

>> Incentivo
A expectativa é de que, com esse plano mais 2,5 mil deixem o banco. Para isso, o BB vai oferecer um incentivo ao que saírem que varia de R$ 20 mil a R$ 200 mil, além de outras vantagens. Quem tem até 20 anos de banco, receberá 7,8 salários brutos. Funcionários com mais de 20 anos de casa receberão 9,8 salários brutos.

>> Adesão
O programa foca funcionários lotados em locais com excesso no quadro. A adesão pode ser feita até 14 de agosto. Os funcionários que não quiserem sair terão a opção de transferência para vagas existentes em outras unidades.

>> Cargos
O redimensionamento da estrutura organizacional ocorrerá nos níveis estratégico (direção-geral), tático (superintendências), de apoio (órgãos regionais) e de negócios (agências).

>> Menos agências
De acordo com o BB, serão criadas 42 novas agências empresas até outubro, transformando 333 agências em Posto de Atendimento Avançado (PAA), que são pontos destinados a municípios desassistidos de serviços bancários e possuem estrutura reduzida de funcionários. Outras 49 PAAs devem se transformar em agências.

>> Inteligência
A instituição financeira também vai criar uma Unidade Inteligência Analítica para acelerar o processo de transportação digital. A estrutura será responsável pela criação de técnicas, ferramentas e inovações que utilizam soluções analíticas e inteligência artificial.

>> Digitalização
O BB defende que é preciso se adequar ao mercado para a digitalização. De acordo com dados do banco, mobile e internet respondem por 80% de todas as transações. A implementação dessas ações ocorrerá no segundo semestre de 2019. O impacto financeiro do programa será divulgado até o final de agosto.

>> Incentivo governamental
O Ministério da Economia estimula programas de desligamentos voluntários nas estatais. A pasta espera gerar economia de R$ 2,3 bilhões aos cofres públicos com a redução de 21 mil postos de trabalho. A intenção é fazer sete programas ao todo no ano nas empresas.

Fontes: Banco do Brasil, Ministério da Economia e economistas

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