Economia

Conflito de frequência adia 5G no Brasil e preocupa empresas

Depois de identificar que sinal de internet vai conflitar com frequência de TV aberta, a Anatel busca alternativas para solucionar o problema com a ajuda de especialistas

Jaqueline Mendes
postado em 05/08/2019 06:00

O primeiro leilão da 5G deve ser feito só em março de 2020


São Paulo ; Executivos da chinesa Huawei e da sueca Ericsson, entre muitas outras fabricantes de componentes e tecnologias para telefonia celular, receberam com surpresa a notícia de que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) poderá adiar o primeiro leilão do 5G no Brasil, previsto para março de 2020.

A decisão deverá ser tomada nas próximas semanas, depois que técnicos da agência identificaram que a frequência de 3,5 GHz que seria usada nas redes de quinta geração para transmissão de dados poderá conflitar com as frequências atuais do sinal da TV aberta, principalmente o que é transmitido a antenas parabólicas em regiões distantes dos centros urbanos.

A Anatel vai consultar especialistas para equacionar o problema. Além disso, operadoras de telefonia, emissoras de televisão e fabricantes de equipamentos serão chamadas para participar. ;Nós já vínhamos alertando para uma possível sobreposição de frequências dentro da faixa 5G, mas poucos deram ouvidos;, disse um executivo da Ericsson, que pediu para não ter o nome relevado. ;Por enquanto, a única alternativa é desativar a frequências da TV, mas isso vai levar tempo.;

Leonardo Euler de Morais, presidente da Anatel,revela que a interferênciado 5G nas parabólicas trouxe grande incerteza sobre o prazo de março de 2020Segundo o presidente da Anatel, Leonardo Euler de Morais, a interferência do 5G nas parabólicas trouxe grande incerteza sobre o prazo de março de 2020. ;Não sabemos em quanto tempo será encerrada essa discussão;, disse ele, em entrevista ao jornal Valor.

A inclusão do tema na pauta da agência levará pelo menos um mês. Morais estava otimista de que o 5G não interferiria muito no sinal das parabólicas. Inicialmente, alegava que eventuais interferências seriam pontuais e poderiam ser resolvidas com a instalação de filtros ou outras alternativas técnicas.

Como o 5G começará a ser oferecido em grandes centros urbanos, que dependem menos de antenas parabólicas, haveria tempo para que o restante do Brasil migrasse para a TV aberta digital. Morais admite que o atraso do leilão será ruim, mas alega que não será possível impor um custo elevado para o setor, porque isso reduziria o potencial de receita do leilão.

Na prática, esse problema poderá inviabilizar o leilão do 5G. Com previsão de custos mais altos, as operadoras não estarão dispostas a pagar muito pelas frequências do 5G. Em reunião com a Anatel, uma representante da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) explicou que as emissoras de TV aberta podem realizar ajustes técnicos para evitar interferência em suas próprias antenas de transmissão. No entanto, não há alternativas para fazer o mesmo nas parabólicas domésticas.

Por sua vez, as fabricantes de parabólicas temem que as antenas fiquem mais caras ao serem obrigadas a adotar filtros para evitar interferência do 5G. As empresas alegam que isso dificultaria o acesso à TV aberta por consumidores de baixa renda. De acordo com o IBGE, existiam cerca de 22,8 milhões de domicílios com antenas parabólicas no Brasil em 2017. A proporção de residências com TV via parabólica era de 26,9% em áreas urbanas e 70,5% na zona rural.

A Anatel planeja leiloar três frequências para o 5G: 3,5 GHz, com 200 MHz de capacidade; 2,3 GHz, com 100 MHz de capacidade; e as sobras da faixa de 700 MHz, com 10 MHz de capacidade. Essas faixas abaixo de 6 GHz (sub-6 GHz) permitem velocidades maiores que o 4G e garantem maior cobertura do que as ondas milimétricas (mmWave), por isso são pensadas para zonas rurais e outras áreas menos populosas.

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