Jaqueline Mendes
postado em 06/08/2019 06:00
São Paulo ; Não está fácil a vida dos bancos tradicionais. Com o surgimento das fintechs e de uma série de empresas focadas em serviços financeiros, as instituições que durante décadas tiveram caminho livre para crescer enfrentam agora o aumento da concorrência e o desejo cada vez maior dos consumidores ; especialmente os mais jovens ; por produtos e serviços inovadores.
Nesta segunda-feira (5/8), o britânico HSBC, fundado em 1865 e uma das instituições financeiras mais importantes da Europa, anunciou a demissão de 4 mil funcionários, o equivalente a 2% de sua força de trabalho. Segundo informações de Ewen Stevenson, diretor financeiro do banco, os desligamentos serão concentrados em cargos de chefia e custarão aos cofres do banco entre R$ 2,5 bilhões e R$ 2,7 bilhões.
O anúncio do plano de reestruturação da empresa trouxe ainda outra surpresa: John Flint, que desde fevereiro de 2018 ocupava o cargo de diretor-geral do banco, pediu demissão do cargo sem justificar as reais motivações para a saída. ;Flint abandona suas responsabilidades diárias, mas permanece disponível para auxiliar o banco em sua transição;, disse o HSBC por meio de nota. Funcionário desde 1989, Flint liderou a expansão do banco no mercado asiático.
O próprio comunicado emitido pelo banco sinaliza os tempos difíceis que virão pela frente. ;Em um ambiente mundial cada vez mais complexo e exigente em que opera o banco, o conselho de administração acredita que a mudança é necessária para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades que teremos;, afirmou o presidente do grupo, Mark Tucker.
Sediado em Londres, o HSBC enfrentará problemas que vão além das fintechs. Segundo uma análise feita pelo banco, os desdobramentos do Brexit, como é chamada a retirada do Reino Unido da União Europeia, deverão trazer dificuldades adicionais, além do avanço da guerra comercial entre Estados Unidos e China, que afetarão os negócios do HSBC no mercado asiático. Em 2018, a Ásia foi responsável por 90% dos lucros do banco, o que representou uma participação recorde.
No domingo, um dia antes do anúncio do programa de reestruturação, o banco havia divulgado o seu balanço financeiro, que veio em linha com as expectativas do mercado. No primeiro semestre, a instituição registrou lucro líquido de US$ 8,507 bilhões, um aumento de 18,6% em relação aos seis primeiros meses de 2018, quando embolsou US$ 7,173 bilhões.
No primeiro semestre, o lucro por ação ; aquele que interessa aos investidores ; subiu 16,6%, enquanto as receitas aumentaram 7,64%. O banco também informou que pretende realizar ;em breve; um processo de recompra de ações no valor total de US$ 1 bilhão.
No Brasil, a operação do HSBC foi comprada pelo Bradesco em 2016, por R$ 16 bilhões, e a marca deixou de existir no varejo. Recentemente, o HSBC informou que pretende voltar a ter corretora no mercado brasileiro, chegando inclusive a pedir que a sua licença de banco de investimento seja ampliada para uma licença de banco múltiplo, o que permitiria oferecer mais serviços aos clientes.
Não há motivos, pelo menos por enquanto, para os grandes bancos reclamarem do mercado brasileiro. Os balanços divulgados nos últimos dias trouxeram novamente fortes resultados, apesar da crescente desconfiança do mercado.
Juntos, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander lucraram R$ 17,131 bilhões no segundo trimestre, o que representou um aumento expressivo de 17,6% em relação ao mesmo período do ano passado. O interessante é que a taxa de crescimento foi superior à observada no trimestre anterior, quando o resultado consolidado dos três principais bancos privados brasileiros avançou 15,43%. No mercado, é consenso que as fintechs revolucionarão o setor financeiro. Resta saber quais instituições serão capazes de resistir aos novos tempos.